Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Ensino médio, o gargalo da educação no Brasil

Apesar dos avanços no acesso à escola, só 40% dos jovens entre 18 e 24 anos economicamente ativos completam 11 anos de estudo, alerta o IBGE

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 set 2010, 10h03

No Brasil, apenas metade dos estudantes entre 15 e 17 anos estão matriculados nas séries indicadas para essas idades

Fazer com que os jovens cheguem ao ensino médio – e permaneçam nele – é hoje um dos principais desafios para que o Brasil consiga incluir, de fato, a maior parte da população nas conquistas econômicas pretendidas para o país. Apesar do avanço demonstrado ano a ano, ainda é lento o ritmo de crescimento da proporção de adolescentes que conseguem atingir a barreira dos 11 anos completos de escola – um marco importante para alavancar a entrada no mercado formal de trabalho. O quadro é mais grave na população mais pobre, que depende da rede pública. Mas quando os resultados da educação são confrontados com as estatísticas de países desenvolvidos e mesmo de vizinhos da América Latina, observa-se que essa é uma deficiência a ser corrigida – com maior ou menor grau de complexidade – em todo o território nacional.

A conclusão da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) de 2009, apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta sexta-feira, é de que o país tem feito avanços importantes quando o assunto é promover o acesso à escola, principalmente em relação à educação infantil – faixa que compreende crianças de 0 a 5 anos. No entanto, as deficiências acumuladas desta fase até a conclusão da educação básica – que inclui a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio – fazem com que menos da metade das pessoas de 18 a 24 anos economicamente ativas concluam esta etapa.

O estudo, baseado na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), mostrou que, em 2009, 40,9% das pessoas de 18 a 24 anos economicamente ativas tinham conseguido completar os primeiros 11 anos de estudo. A proporção, em 1999, era de 21,7% – um avanço importante, mas insuficiente. A coordenadora geral da pesquisa, Ana Lucia Sabóia, sublinha o progresso obtido na última década. “Hoje em dia, há uma proporção maior de pessoas no mercado de trabalho com uma melhor escolaridade”, avalia, considerando que há um ganho para todo o mercado de trabalho.

Continua após a publicidade

Romper a barreira do ensino médio é algo ainda mais difícil. Os que conseguem, na mesma faixa de idade, passar dos 11 anos de escola – o que pode significar tanto a qualificação técnica ou a chegada à universidade – são apenas 15,2% da população. Em 1999, esse percentual era de 7,9%.

O Brasil desponta, entre os países do Mercosul, como o campeão em um ranking nocivo para a educação: tem a maior taxa de abandono entre os países que compõem o bloco econômico, como indica a SIS. E o ensino médio é a etapa em que esse comportamento é mais frequente: 10% dos estudantes não completam o ciclo. Argentina e Uruguai, por exemplo, têm taxas de 7% e 6,8%. Chile (2,9%), Paraguai (2,3%) e Venezuela (1%) completam o pódio de jovens com estudos incompletos.

Entre as razões cogitadas para essa leva de desistência estão, acreditam os pesquisadores, a necessidade de procurar trabalho, favorecida, em grande medida, pelo grau de inadequação da idade de grande parte dos estudantes às séries que cursam no momento.

Continua após a publicidade

“Apenas 50% dos adolescentes de 15 a 17 anos cursando o nível correto para a sua idade. Sem dúvida nenhuma, isso é reflexo das décadas passadas quando havia uma fragilidade do sistema educacional”, detalha Ana Lucia, referindo-se à taxa de escolarização líquida – ou uma análise da relação entre as idades dos alunos matriculados e a série que deveriam estar cursando.

No Brasil, apenas metade dos estudantes entre 15 e 17 anos estão matriculados nas séries indicadas para essas idades. A situação é melhor no Sudeste (60,5%), no Sul (57,4%) e no Centro-Oeste (54,7%). Norte e Nordeste, as piores regiões nesse quesito, têm pouco mais de 39% dos estudantes nas séries adequadas nessa faixa etária. Não é difícil imaginar, por exemplo, um jovem que, mesmo desejando completar o ensino médio, seja obrigado por suas condições financeiras a trocar a sala de aula por um subemprego.

O capítulo da pesquisa dedicado à educação alerta que essa inadequação pode ter origem nos atrasos ocorridos nos primeiros anos da educação. Como a maioria das crianças brasileiras ingressa na escola sem antes ter cursado o pré-escolar, há um atraso médio de dois anos no ensino fundamental. Essa deficiência é comprovada pela média de anos de estudo das crianças entre 10 e 14 anos – que, em condições ideais, devem chegar à média de sete anos de escola. A média constatada em 2009 foi de 5,8 anos de estudo, um aumento de apenas 0,8 ano em relação a 1999. Ou seja, no intervalo de uma década, o Brasil conseguiu aumentar em menos de um ano o tempo médio de escola das crianças nessa faixa etária.

Continua após a publicidade

Os atrasos acumulados até o ensino médio produzem um quadro que põe o Brasil em situação desfavorável. Como detalha a pesquisa, a média de anos de estudo das pessoas a partir de 25 anos de idade é o que revela as condições de escolaridade de uma sociedade. No Brasil, em 2009, esta média era de 7,1 anos de estudo – ou seja, abaixo da conclusão do ensino fundamental.

A Síntese de Indicadores Sociais é uma análise das condições de vida da população brasileira em 2009, feita a partir das informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e com cruzamento de dados de outros estudos do IBGE.

LEIA TAMBÉM:

Escolaridade feminina determina o padrão da família

Desigualdade cai, mas aumenta a dependência dos programas de assistência

Conheça os números da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.