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Encurralado, Bruno avalia os benefícios da confissão

Goleiro chorou e segurou uma Bíblia durante o primeiro dia de julgamento em Minas. Defesa se reuniu ao longo do dia para discutir a possibilidade de o jogador obter atenuantes de pena semelhantes aos de Macarrão

Por Da Redação
4 mar 2013, 20h01

“A pergunta que está em questão é: qual a participação do Bruno no caso? Ele poderia saber, mas ainda assim não querer que Eliza fosse morta”, disse, Tiago Lenoir, assistente de defesa

Sem a postura altiva que manteve mesmo ao ser preso pela morte da ex-amante Eliza Samudio, o goleiro Bruno aparentava, nesta segunda-feira, o abatimento de quem está encurralado. Os 971 dias na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, tiraram dele 19 quilos, o porte de atleta e qualquer traço de confiança. Bruno chorou, segurou a Bíblia em alguns momentos do julgamento e manteve a cabeça baixa por longos períodos. O atleta que foi ídolo do Flamengo sabe que sua situação se complicou muito desde a confissão parcial de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, condenado em novembro pela morte de Eliza.

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A guinada da defesa do goleiro nas primeiras horas do julgamento no Tribunal de Júri dá algumas pistas sobre como serão os próximos dias. O advogado Lúcio Adolfo, que comanda a defesa, abriu mão de três das cinco testemunhas de defesa – as outras duas não compareceram. Em vez de tentar impedir o prosseguimento da sessão, como fizeram em novembro, protelando ao máximo o trabalho da juíza Marixa Fabiane Rodrigues Lopes, os defensores não se abalaram. Deixaram o barco correr, evitando, assim, que os jurados fossem bombardeados com mais e mais detalhes da trama macabra que resultou no assassinato de Eliza.

Ao longo do dia, a defesa se reuniu várias vezes, e pôs sobre a mesa os benefícios de uma confissão parcial, que daria ao goleiro algo parecido com o que obteve Macarrão. Em vez de uma pena próxima de 30 anos, a confissão parcial resultou, para Macarrão, em pena de 15 anos, com regime semi-aberto a partir de 2015 – ou seja, dentro de dois anos. Uma declaração do assistente de defesa Tiago Lenoir indica por onde pode caminhar a estratégia da defesa nesta terça-feira. “A pergunta que está em questão é: qual a participação do Bruno no caso? Ele poderia saber, mas ainda assim não querer que Eliza fosse morta”, disse. Ou seja: é relativamente fácil provar que Bruno sabia do plano e do que se passava com Eliza. Mas não é tão simples provar com segurança que ele trabalhou nesse sentido.

A possibilidade de confissão parcial está aberta já a partir desta terça-feira, quando o réu deve começar a falar. Fora da defesa de Bruno, mas com estreito contato com o criminalista Lúcio Adolfo, o advogado Ércio Quaresma afirmou ao site de VEJA que o colega criou uma saída “genial”. A linha a ser adotada em uma eventual confissão do goleiro é a seguinte: Bruno sabia do crime, mas nada fez para evitar. “Como argumentação, é ainda melhor do que o que a confissão parcial de Macarrão. Bruno, sabendo, não impediu o crime. Macarrão, sabendo, levou o plano adiante”, afirmou Quaresma.

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Caso a estratégia seja bem sucedida, a defesa poderia derrubar as três qualificadoras do homicídio, que agravam a pena: as de motivo torpe, morte por asfixia e crime cometido sem chance de defesa da vítima. Com isso, estima Quaresma a pena seria entre seis e 20 anos.

Estratégia – Apesar dos esforços da defesa para evitar a exposição de detalhes sobre a morte de Eliza Samudio, o único depoimento do dia, da delegada Ana Maria dos Santos, percorreu toda a investigação do caso, reforçando momentos em que, como deseja a acusação, é reforçada a participação de Bruno no crime. A defesa tentou extrair contradições de Ana Maria, mas não obteve sucesso, dada a firmeza da delegada e a tranquilidade com que apresentou os detalhes do caso.

Com dois réus condenados, o atestado de óbito que serve de prova de que houve morte por asfixia e poucas chances de absolvição, a defesa parece trabalhar para suavizar a pena de Bruno. Pela cabeça do goleiro, exposto a todo tipo de pressão nesses três anos, passa agora a seguinte pergunta: a partir de que momento torna-se clara a condenação e passa a ser vantajosa uma confissão parcial, para obter a redução de pena?

Oficialmente, como é esperado, Lúcio Adolfo e os demais advogados de defesa não admitem essa hipótese. E afirmam que, caso isso aconteça, seria por obra de uma decisão pessoal e isolada do réu.

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Obviamente, nada dito por Bruno passa por fora da estratégia traçada por Lúcio Adolfo. A conta que Bruno e seus defensores fazem é a seguinte. Preso desde 2010, ele já passou três anos atrás das grades – período que seria abatido da pena. Em caso de confissão, o goleiro poderia conseguir uma redução de um sexto da pena, ainda que não contasse detalhes do crime. Em crimes hediondos, como o de homicídio, calcula-se uma progressão de dois quintos da pena.

“O cenário para Bruno não parece favorável. Em casos como esse, em que há grande pressão popular em favor da condenação, é difícil para a defesa. Vai do sentimento do advogado, no momento, perceber se existe entre os jurados uma pré-disposição para absolver”, explica André Perecmanis, professor criminalista da PUC-Rio. Segundo Perecmanis, não é possível estabelecer até que ponto a confissão, ainda que parcial, seria benéfica para o goleiro. Confirmar a participação no crime é abrir mão da absolvição. “Mas, se não houver chance mínima de absolvição, a confissão pode ser interessante como forma de atenuar a pena”, explica.

Os passos do júri são razoavelmente previsíveis. Nesta terça-feira, estão previstos depoimentos de quatro testemunhas – todas de acusação, e todas com contribuições conhecidas de grande parte do público e dos jurados. O principal momento, e para o qual caminha a decisão de Bruno sobre sua confissão, é o interrogatório por parte do promotor Henry Castro. No júri que terminou com Macarrão e Fernanda Gomes condenados, Castro se mostrou uma barreira à prova de mentiras. Sabia datas, números de telefone, horários e detalhes de cabeça, a ponto de fazer a defesa se confundir e ter que recorrer a todo momento aos calhamaços de papel do processo. A menos que Bruno esteja em um dia iluminado como em sua fase de atleta, não de criminoso, será dificílimo sair do interrogatório com um resultado favorável.

E para a postura sofrida exibida pelo réu neste primeiro dia de julgamento, o promotor tem uma única definição: teatro. “Não deu certo com Fernanda (que por várias vezes chorou e rezou em pleno júri), não vai dar certo com Bruno também”, afirma.

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(Cecília Ritto, Leslie Leitão, Marcelo Sperandio e Pâmela Oliveira)

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