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Empresas de segurança privada monitoram black blocs

Além de monitorar redes sociais, empresas agora enviam agentes para fotografar e relatar em tempo real o destino das marchas contra a Copa

Por Felipe Frazão 24 mar 2014, 06h21

A degeneração dos protestos de rua em atos de vandalismo e destruição colocou em alerta empresas de segurança privada na cidade de São Paulo. No último dia 13, agentes de segurança se infiltraram na marcha contra a Copa do Mundo na capital paulista para monitorar a movimentação dos black blocs, baderneiros mascarados que aproveitam os atos para depredar a cidade.

Dezenas de repórteres registraram o terceiro protesto contra a Copa. Em geral, as equipes de imprensa são facilmente identificáveis: andam em grupo, portam equipamentos e crachás e se posicionam à frente da marcha. No dia 13, entre fotógrafos e cinegrafistas, um homem de mochila nas costas tirava dezenas de fotos dos manifestantes com o celular. Não fosse o uniforme azul e o rádio pendurado no pescoço, o supervisor de operações Rogério Alécio, da Gocil, uma das líderes do setor, poderia ser confundido com um jornalista. Os manifestantes chegaram a apontá-lo como um “P2”, sigla para identificar um policial disfarçado.

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Além dele, homens de terno preto, sem identificação nem uniforme, se posicionaram ao redor dos manifestantes no Largo da Batata, local de concentração da passeata em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Discretos, mantiveram olhos atentos sobre o grupo – naquele momento, com 600 pessoas, mas que chegaria a cerca de 1.500 nas horas seguintes. O percurso da passeata reunia uma série de alvos para os vândalos encapuzados: agências bancárias, galerias comerciais, shoppings centers e prédios empresariais. Quando a marcha começou, já no início da noite, os homens de terno desapareceram na multidão.

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Rogério Alécio não. O “olheiro” registrou uma série de imagens com um smartphone branco, de tela larga e alta capacidade. Toda vez que os manifestantes paravam de caminhar ou desviavam a rota, avisava pelo rádio os agentes de segurança da empresa posicionados no Shopping Eldorado. O supervisor só deixou de acompanhar o trajeto quando a marcha subiu a Avenida Rebouças em direção à Avenida Paulista, contrária ao shopping. “Já estou acostumado, estive nos ‘rolezinhos’ e na manifestação em Ribeirão Preto”, disse. Foi a primeira vez que a empresa adotou o monitoramento com fotografias e informes por rádio durante um protesto de rua em São Paulo, segundo ele.

Além da tática de inteligência com os “olheiros-fotógrafos”, as empresas enviam seguranças à paisana para tentar ouvir os planos dos líderes dos atos ainda na concentração. Os centros comerciais também gravam imagens com câmeras externas e posicionam carros blindados na área externa para intimidar a aproximação. O monitoramento prévio de redes sociais serve para dimensionar o tamanho do aparato de segurança e do efetivo de prontidão. Além de adotar ações preventivas como recolher móveis e equipamentos externos e solicitar a presença da Polícia Militar. Hotéis, restaurantes, hospitais, lojas de departamento e supermercados também adotaram novas ações preventivas após o ano passado.

Origem – A preocupação das empresas de segurança com black blocs se estende aos “rolezinhos”. No final do ano passado, os shoppings reforçaram o contingente de segurança e passaram a rastrear as redes sociais, plataforma usada para agendar os encontros. Os shoppings usaram as confirmações de presença no Facebook como argumento para barrar os eventos na Justiça.

Desconectados da real intenção dos jovens – “paquerar, zoar e dar uma volta em lojas de grifes que admiram” -, movimentos sociais de esquerda fizeram da proibição aos “rolezinhos” bandeira da “luta de classes” e desfiguraram os encontros com a criação de um ato contra a discriminação, o “rolezão”. Desde então, as empresas de segurança elevaram o grau de apreensão com protestos de pauta politica.

Ademar Barbosa, diretor de operações da Verzani&Sandrini, diz que atualmente a empresa rastreia a convocação de manifestações na internet e cruza os dados com os de consultorias especializadas em mídia sociais, também contratadas por centros comerciais e empresariais. A estratégia serviu, segundo Barbosa, para recomendar o revestimento com tapumes das entradas e fachadas do shopping Fashion Mall, em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro. O motivo era uma manifestação, em junho do ano passado, auge dos protestos, iniciada na Favela da Rocinha: “Percebemos uma intenção de depredação”.

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O consultor em segurança pública e privada Jorge Lordello lista uma série de estabelecimentos, localizados em avenidas usadas por manifestantes, que precisam revisar as estratégias de segurança, segundo ele: “Supermercados, bancos, lojas de rua e até sede de emissoras de TV”. Lordello classifica a presença de black blocs como uma “preocupação latente”, assim como a politização de “rolezinhos” e sua transformação em “rolezões”. Para ele, o período pré-eleitoral e pré-Copa do Mundo é propício para o “acirramento de ânimos” nas ruas.

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A Associação de Lojistas de Shopping do Brasil (Alshop) organizou, no fim de fevereiro, um fórum de segurança para debater estratégias e compartilhar experiências adotadas em manifestações e “rolezinhos”. Os “rolezinhos” mais conturbados, nos shoppings Metrô Itaquera e Internacional de Guarulhos, serviram de “estudo de caso”. “Com as situações que tiveram de administrar, os shoppings adquiriram conhecimento de causa e estão mais maduros do ponto de vista da segurança”, diz o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun. “Nossa preocupação é com todos os tipos de mobilização, seja ‘rolezinho’, seja black bloc. Mesmo que o protesto não esteja previamente focado no empreendimento. Acompanhamos qualquer manifestação mais próxima, porque não sabemos se esses mascarados estão infiltrados para fazer algazarra, sair correndo de repente e quebrar tudo. A gente torce para que as autoridades assumam de uma vez por todas uma posição enérgica para que a gente tenha leis que prendam aqueles que vão fazer uma democracia da bagunça.”

‘Segurança não pode atuar na rua’, diz diretor de sindicato

Agentes de segurança privada não podem atuar em protestos de rua, afirma João Palhuca, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo. O representante das empresas do setor afirma que seria ilegal se uma empresa colocasse homens para patrulhar em espaços públicos. Segundo ele, agentes de segurança privada podem ser presos por porte ilegal de arma. “Usar arma em aglomerações é contraindicado em todas as circunstâncias. Dificilmente veremos um segurança armado em universidade, hospital, hotel ou clube. Os clientes não querem arma nesses ambientes”, diz. Palhuca afirma que há apenas três previsões legais para os agentes privados trabalharem armados nas ruas: transporte de valores (carro-forte), segurança pessoal (guarda-costas) e escolta armada de cargas perigosas. Nesses casos, o trajeto deve ser previamente definido. Ele avalia, porém, que o monitoramento que começou a ser feito em protestos de rua é similar ao feito em greves. Nesse caso, as empresas enviam “olheiros” para fazer relatórios de assembleias sindicais. “Esse é um trabalho mais de inteligência na rua, uma coleta de informações, do que a proteção de algo. As empresas prestam esse acompanhamento de greves e passeatas para colher e dar informações, por rádio e telefone, sobre qual o itinerário e o destino que a manifestação vai assumir para que haja um planejamento de ações de defesa, se o patrimônio que precisar de proteção estiver na rota de passagem.”

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