Delegado apresenta pedaços do revestimento acústico da casa noturna e afirma que substâncias tóxicas foram responsáveis pelas mortes dos 236 jovens
Por Marcela Donini, de Santa Maria
Atualizado em 10 dez 2018, 10h31 - Publicado em 31 jan 2013, 17h45
Com apenas uma saída, janelas bloqueadas e mais gente do que era permitido por lei, a boate Kiss, em Santa Maria, foi transformada em uma câmara de gás quando as chamas de fogos de artifício se alastraram pela espuma sintética que revestia o teto da casa noturna. Essa foi a conclusão apresentada, na tarde desta quinta-feira, pelo delegado Marcelo Arigony, que conduz o inquérito sobre as 236 mortes e mais de 500 feridos na tragédia do último domingo. “Isso foi a causa da morte”, disse Arigony, com um pedaço da espuma de cor escura em uma das mãos. O material foi recolhido do teto da boate Kiss e, segundo os investigadores, foi o responsável pelo fogo ter se alastrado tão rapidamente.
A espuma estava em cerca de um terço do teto da casa e fazia parte do isolamento acústico. “Parece que é um material usado em estúdios, mas é altamente inflamável e libera um gás tóxico”, disse Arigony. O delegado citou a existência de um material chamado de “retardante”, utilizado justamente para evitar o rápido alastramento do fogo. Pelo que a perícia indica até o momento, isso não foi usado na boate Kiss.
Imagens dos corpos retirados da casa noturna momentos após o incêndio mostram que a maior parte das vítimas não morreu pelo fogo, mas por intoxicação pela fumaça, como atestaram os médicos legistas no dia seguinte à tragédia. Como não havia saída, a morte se deu em questão de minutos, e muitos morreram antes que fosse possível desobstruir as saídas da boate.
A polícia confirmou que pedirá a prorrogação das 4 prisões feitas até o momento. Arigony não soube responder se existe responsabilidade criminal para os bombeiros por terem, segundo testemunhas, estimulado civis a trabalhar no resgate.
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Entre as evidências que já estão de posse da polícia, os celulares das vítimas poderão ajudar a esclarecer o que aconteceu no local e hora do incêndio por meio de imagens internas da casa. As mensagens publicadas em redes sociais no momento do incêndio também são provas que podem ser consideradas. No meio de toda a documentação entregue à polícia, Arigony disse não ter encontrado ainda o Plano de Prevenção a Incêndio. “Não sabemos quem tem esse documento. Pedimos para a prefeitura e bombeiros. Pode ser que já tenho sido entregue, mas ainda não encontramos”, afirmou.
Na tarde de hoje, a polícia civil ouviu um sócio da empresa Hidramix, que declarou que um dos sócios é bombeiro militar da ativa e outro aposentado. A testemunha afirmou que não presta serviços de prevenção a incêndios, apenas vende e instala materiais de segurança, elétrica e hidráulica e foi contratada pela Kiss para instalar barras antipânico nas portas da boate.
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