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Eleições 2012: vale tudo por um minuto na TV

Candidatos formam coligações de olho no tempo no horário eleitoral gratuito e esquecem ideologias. Projeção do site de VEJA mostra que Serra e Haddad terão juntos metade dos 30 minutos da propaganda eleitoral

Por Carolina Freitas
23 jun 2012, 17h24

Fernando Haddad (PT) recebeu o apoio de Paulo Maluf (PP), procurado pela Interpol. José Serra (PSDB) aceitou a aliança com Valdemar Costa Neto (PR), réu no processo do mensalão. Para os líderes de partido e coordenadores de campanha, a temporada de coligações é também o momento de relevar o passado dos aliados. Vale tirar foto ao lado de adversário histórico, como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Maluf, e ouvir piadinha do deputado federal e palhaço profissional Tiririca (PR), como aconteceu a José Serra. A razão para isso? O tempo de TV. Leia também: A ficha de Paulo Maluf na Polícia Internacional Quem é Valdemar Costa Neto no esquema do mensalão O site de VEJA fez uma projeção do tempo a que cada candidato terá direito no horário eleitoral gratuito, que começa em 21 de agosto. O cálculo tem como base a Lei das Eleições e a Resolução nº 23.370 do Tribunal Superior Eleitoral, de 2011. A propaganda política para prefeito na TV terá duração de 30 minutos. Desse total, 10 minutos são divididos pelo número de partidos que participarem das eleições, mesmo que não lancem candidato próprio. Os 20 minutos restantes são divididos de forma proporcional ao número de deputados federais que cada partido elegeu na última eleição, em 2010. Veja o quadro completo. No cenário atual, Serra tem direito a 7min40s, Haddad a 7min30s, Gabriel Chalita (PMDB) a 5min13s e Celso Russomano (PRP) a 2min22s. As negociações, no entanto, ainda estão em aberto, o que pode ampliar a fatia dos principais candidatos. Entre os alvos tanto de Haddad quanto de Serra estão o PDT do pré-candidato Paulinho da Força, com 1min25s, e o PTB de Luiz Flávio D’Urso, com 1min13s. O PT trabalha também para convencer Netinho de Paula a abrir mão da candidatura para apoiar Haddad e trazer para a coligação os 57 segundos a que o partido tem direito no horário eleitoral. Outro fator que pode mudar o quadro é a decisão da Justiça a respeito do fundo partidário e do tempo de TV a que tem direito o PSD, partido criado em 2011 pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Como a legenda não existia nas eleições de 2010, não elegeu nenhum deputado federal e, a rigor, não tem direito a nada além de uma parcela daqueles 10 minutos de propaganda divididos igualitariamente entre os partidos que disputam a eleição, ou seja, 21 segundos. É o mesmo tempo concedido a siglas nanicas, sem representação na Câmara dos Deputados, como PCO, PSDC e PSTU. Acontece que o PSD nasceu com uma bancada de 48 deputados, provenientes de dezesseis partidos. Kassab tenta no TSE ter acesso ao dinheiro do fundo partidário e ao tempo de TV proporcionais a essa bancada. Seis dos partidos que perderam parlamentares, no entanto, foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar essa possibilidade. Se o PSD ganhar tempo, eles perdem. A questão deve ser votada na próxima semana pelos ministros do STF – entendimento que guiará a decisão do TSE. Projeção feita pelo site de VEJA mostra que a concessão do tempo extra ao PSD turbinaria a candidatura de José Serra, que conta com o apoio do partido recém-criado. O tucano passaria a ter 8min36s dos 30 minutos de horário eleitoral gratuito. Haddad iria para 7min19s, pois PT, PSB e PP perderam, ao todo, quatro deputados federais para o PSD. Chalita ficaria com 5min01s. O cálculo evidencia mais uma ironia da política. O DEM, ex-partido de Kassab, foi a legenda que mais perdeu quadros para o PSD. Foram quatorze deputados federais. Mesmo com as rusgas entre os dirigentes dos dois partidos – os democratas chegaram a acusar Kassab de oportunista e traidor -, as siglas marcharão juntas ao lado de José Serra nas eleições paulistanas. Continue aqui a ler esta reportagem. info

Ideologia – Convicções ideológicas, aliás, parecem não estar na ordem do dia dos líderes partidários na hora de fechar alianças. A imagem de Lula apertando a mão de Maluf, registrada na última segunda-feira, provocou aversão até mesmo em uma ex-petista, a deputada Luiza Erundina, hoje no PSB. A repulsa foi tamanha que ela desistiu de compor a chapa como vice de Fernando Haddad – decisão anunciada três dias antes. “Aquele gesto foi ruim. O preço foi alto por uma coisa muito pequena”, sentenciou Erundina a respeito da foto de Lula. O valor da imagem: 2min04s na propaganda eleitoral.

“O tempo de TV vale ouro”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo, diretor da consultoria Cepac . “Entre uma rusga do passado e um minuto na TV, o partido fica com o tempo de televisão.” A formação de frentes e coligações faz parte da política desde a redemocratização, mas o pragmatismo só transformou-se no critério principal para essa aglutinação depois da eleição do presidente Lula, em 2002. O petista, que construiu sua trajetória na esquerda, uniu-se a forças de direita para viabilizar a candidatura. Para vice, o ex-torneiro mecânico escolheu o bem sucedido empresário José Alencar, do então Partido Liberal (PL). “Esse momento abriu as portas para alianças programaticamente contraditórias em todos os partidos”, diz Figueiredo. No cerne dessa flexibilização está a questão da viabilidade eleitoral. Lula concorreu à Presidência por uma década antes de ter, de fato, condições de vencer uma eleição. Quando percebeu que esse momento havia chegado, abriu mão de ideologias para fazer uma coligação forte, já vislumbrando a necessidade de uma base consistente para governar quando eleito. “É mais fácil abrir mão das coligações quando você sabe que não tem chances reais de vencer para cargos majoritários”, explica o cientista político Fabricio Vasselai, pesquisador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP). O próprio sistema eleitoral brasileiro leva à necessidade de alianças tanto para vencer eleições quanto para governar. Se, por exemplo, as coligações parassem de adicionar tempo de TV aos candidatos, a sanha de obter aliados a qualquer preço poderia diminuir. Mas só isso não resolve. Seria necessária uma reforma política que desencorajasse a criação de partidos de aluguel, criados sem propósitos republicanos, apenas para abocanhar um quinhão do fundo partidário e dar apoio em troca de cargos e favores dos governos. “As eleições são feitas de modo que os políticos tenham de se coligar para vencer”, diz Vasselai. “Com menos partidos, inibe-se o vale-tudo nas alianças”. Tempo de qualidade – Analistas políticos concordam que o tempo de TV ajuda a construir uma candidatura, mas, claro, não garante a vitória. Em termos de marketing eleitoral, importa muito mais a qualidade da propaganda eleitoral na televisão do que a quantidade de minutos arrebanhada pelo candidato em arranjos partidários. “A TV é um veículo sintético, que vende carro com comerciais de 30 segundos. Quanto mais resumida e contundente for a mensagem, mais eficaz será”, afirma o especialista em marketing político Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCop). O marketing político trabalha com quatro personas que podem ser incorporadas na campanha pelos candidatos: o herói, aquele que soluciona problemas da cidade; o pai, que cuida dos mais fracos; o líder-charme, que com seu carisma conquista os votos; ou o homem simples, que emerge das massas para comandar. Pelas pesquisas recentes feitas por Carlos Manhanelli, o eleitor das grandes cidades está em busca de um candidato “herói”, ou seja, que proponha soluções e se mostre capaz de coloca-las em prática. O argumento demanda um plano de governo e propostas consistentes para a cidade. De nada vale forma sem conteúdo. Em matéria de eleição, ainda existem palavras que valem mais do que uma imagem.


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