Educação foi o fator que mais contribuiu para aumento de renda dos brasileiros na última década
Elevação do grau de instrução alavancou crescimento entre os mais pobres
“Em resumo, é como se o mercado de trabalho para homens e brancos estivesses estagnado, enquanto há expansão para negros e mulheres”, comparou Marcelo Neri
A educação foi o principal fator de elevação de renda para os brasileiros historicamente menos favorecidos na última década. É o que revela o estudo ‘Desigualdade de renda na década’, do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas Marcelo Neri. De 2001 a 2009, a renda cresceu 49,52% no grupo dos 20% mais pobres, contra 8,88% dos 20% mais ricos – uma vantagem acumulada de 40,63% para a base da população.
Se forem considerados apenas os avanços proporcionados pela educação na renda dos brasileiros, o contraste é ainda maior: a renda da população mais pobre cresceu 55,6% contra 8,12% dos mais favorecidos.
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“A educação é, disparado, o principal efeito para a elevação da renda”, afirma Neri. No Nordeste, indica a pesquisa, a renda da população subiu 41,8%, contra 15,8% no Sudeste. Três quartos dessa elevação se devem aos avanços na educação da população nordestina – os demais fatores são programas sociais (chamado de renda não-trabalho).
Quando o aumento de renda considera apenas o acréscimo proporcionado pelos programas sociais, encontra-se, entre os mais pobres, um crescimento de apenas 14,18% a mais que os mais ricos. A conclusão de Marcelo Neri é de que o ganho com o programa social é quase anulado pela perda na força de trabalho – ou seja, a injeção de dinheiro no orçamento das famílias acaba reduzindo a força de trabalho. A pesquisa identificou uma redução de 14,3% na jornada de trabalho e nas taxas de ocupação e participação no trabalho. “O que você ganha em programa social perde em esforço de trabalho”, diz Neri, frisando não haver comprovação de alguma relação direta entre esses dois aspectos.
O resultado da elevação de renda e da conseqüente disputa por postos de trabalho com maior exigência de qualificação é uma transformação no mercado. “Os setores que estão mais inflados estão na base. OU seja: domésticas, trabalhadores agrícolas e construção civil. Nessas categorias, com regime de trabalho mais antiquado, informalidade e sem direitos trabalhistas, onde se concentram trabalhadores com pouca qualificação, a disputa está acirradíssima”, afirmou Neri.
Como o aumento na educação fez subir o nível de salário, aumentar os salários, a mão-de-obra de baixa instrução está se transformando em peça raça. Um dos exemplos citados por Neri foi o caso das empregadas domésticas, em grande parte ainda com pouca educação. “Elas estão ganhando mais por haver poucas pessoas desempenhando tal função”, disse o pesquisador.
A pesquisa divulgada nesta terça-feira considera, também, o que foi chamado de “desigualdade horizontal”, que consiste em uma análise dos avanços da distribuição de renda entre perfis específicos. Os pesquisadores levaram em conta variações por gênero, raça, escolaridade e regiões do país.
“Em resumo, é como se o mercado de trabalho para homens e brancos estivesses estagnado, enquanto há expansão para negros e mulheres”, comparou Marcelo Neri.
Gênero – De 2001 a 2009, a renda das mulheres subiu 38%. O aumento no rendimento das mulheres é 17,8% superior ao observado entre os homens, e se explica, segundo o relatório da pesquisa, pelo crescimento da presença das mulheres no mercado de trabalho. Como explicou Marcelo Neri, as mulheres estão “mais presentes” e “mais ativas”, ou seja, cresceram em número e em volume de horas trabalhadas. Apesar do avanço da educação ter sido maior entre os homens, a participação feminina na renda foi compensada pela maior presença do sexo feminino entre os beneficiados por programas sociais.
Raça – A pesquisa de desigualdade constatou também que a renda dos que se declaram “pretos” e “pardos” subiu, respectivamente, 43,1% e 48,5% entre 2001 e 2009. Entre os brancos, o crescimento foi de 20,1%. Agrupados, pretos e brancos têm um crescimento de renda de 19,06%, enquanto pardos e brancos têm aumento de 24,61%. Essa vantagem em relação aos que se declararam pardos se dá, segundo os pesquisadores, em função do “efeito-educação”, que proporcionou uma diferença de 14 pontos percentuais entre os dois grupos.
No Nordeste, a renda do brasileiro, no período estudado, subiu 41,8%, contra 15,8% no Sudeste. Comparando os extremos do Brasil, a renda sobe 46,8% no Maranhão – inicialmente o estado mais pobre do país – contra 7,2% em São Paulo, o estado mais rico em 2001.
Os pesquisadores também se debruçaram sobre as capitais, e constataram que em Teresina, com 56,2% de crescimento, teve o maior aumento de renda. Fortaleza foi a cidade que obteve o maior crescimento de renda nas áreas periféricas, alcançando 52,3%. Comparando esses números com São Paulo, a pesquisa encontrou, na capital, 2,3% de elevação, com 13,1% de aumento na periferia. O padrão de maior aumento nas periferias, em relação à capital, se reproduziu em sete das nove grandes metrópoles brasileiras.