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Eduardo Cunha ficava com 80% da propina em esquema na Caixa, afirma delator

Ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto detalhou em seu acordo de colaboração a função do presidente afastado da Câmara no esquema que achacava empresas nas quais o FI-FGTS fazia aportes milionários

Por Laryssa Borges, de Brasília, e João Pedroso de Campos
1 jul 2016, 19h07

Considerado delator-bomba capaz de afundar o que resta da vida política do presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Fábio Cleto disse em depoimentos ao Ministério Público que o peemedebista embolsava 80% das propinas recolhidas no esquema de corrupção no banco público. O interesse primordial de Cunha era o fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS, que reúne recursos de trabalhadores e é usado em aplicações em obras de infraestrutura.

Cleto relatou que o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, aliado de primeira hora de Cunha, disse que ele teria “benefícios” se assumisse uma das vice-presidências da Caixa e que o dinheiro sujo seria dividido entre os partícipes do esquema. Em uma reunião no então apartamento funcional de Cunha em Brasília, época em que ele ainda não tinha ascendido à presidência da Câmara, o deputado detalhou como seria a atuação dele na trama criminosa: Cunha apresentaria demandas de obras a ele, que deveria encaminhar ou arquivar os projetos conforme os interesses espúrios do peemedebista. Quando o deputado do PMDB chegou à presidência da Casa legislativa em 2015, os encontros passaram a ser na residência oficial, no bairro do Lago Sul, em Brasília.

No rateio do dinheiro, Eduardo Cunha ficaria com 80% dos valores arrecadados, Funaro com 12% e Fábio Cleto com uma parcela de 4%. Ao empresário Alexandre Margotto caberiam outros 4% mas, ao invés do valor combinado, ele recebia mensalmente valores entre 15.000 reais e 20.000 reais e Lúcio Funaro embolsava diferença. Margotto atuava como uma espécie de sócio de Funaro e cedia suas empresas para que o doleiro pudesse movimentar valores. “As pessoas responsáveis por negociar a propina com as empresas eram Lúcio Bolonha Funaro e Eduardo Cunha. Em todos os casos, Funaro e Cunha estavam acertados e alinhados em relação à solicitação de propina”, disse Fábio Cleto em seu acordo de delação premiada.

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Para calcular a arrecadação de dinheiro sujo no esquema da Caixa, Funaro atualizava cotidianamente a contabilidade da propina em uma planilha. Conforme a divisão das propinas detalhada por Cleto em sua delação premiada, Eduardo Cunha pode ter embolsado 16 milhões de reais do esquema.

O delator diz ter recebido 120.000 reais em uma conta na Suíça referentes ao investimento, pelo FI-FGTS, de 300 milhões de reais na Viarondon Concessionária de Rodovias S.A, uma empresa do grupo BRVias, do qual o empresário Henrique Constantino, um dos alvos da Sépsis, é sócio. Considerando o percentual de 80% da propina normalmente destinado a Cunha, o peemedebista pode ter recebido 2,4 milhões de reais desviados deste aporte do fundo de investimento.

Na operação do FI-FGTS que terminou com o investimento de 940 milhões de reais em uma fábrica de celulose da Eldorado, empresa do grupo J&F, no Mato Grosso do sul, o delator contou ter recebido 680.000 reais. Respeitada a hierarquia na divisão de propinas, o presidente afastado da Câmara embolsou 13,6 milhões de reais.

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Pelo investimento na Eldorado, que contou com a boa vontade do fundo de investimentos para alterar cláusulas referentes ao endividamento da empresa, Funaro prometeu a Fábio Cleto mais 1 milhão de reais em propina, valor que, por fim, não foi pago.

O aporte do FI-FGTS à Moura Debeux Engenharia também é citado por Cleto entre os que envolveram pagamento de propina a ele, Lúcio Funaro e Alexandre Margotto. Embora Funaro tenha combinado com Cleto e Margotto a divisão igualitária de 2,8% do contrato, o que equivaleria a 1,6 milhão de reais para cada um, o ex-vice-presidente da Caixa recebeu apenas 75.000 reais pela operação. Cunha não é citado entre os que compartilharam o dinheiro neste caso.

Operação Sépsis – Lúcio Bolonha Funaro foi o principal alvo da Operação Sépsis, deflagrada na manhã desta sexta-feira. Ele foi preso preventivamente. A Polícia Federal cumpriu 19 mandados de busca e apreensão – dez em São Paulo, um em Sorocaba (SP), um em Lins (SP), três no Recife, dois no Rio de Janeiro e dois em Brasília – além do mandado de prisão preventiva contra Funaro. Os investigadores recolheram documentos na casa do lobista Milton Lyra, apontado por delatores como facilitador de negócios espúrios em partidos junto a empresas públicas e bancos como a Caixa, o BNDES e o Banco do Brasil.

Conforme revelou VEJA, Lyra foi citado como operador do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) no fundo de pensão Postalis, dos Correios. Funaro, por sua vez, é suspeito de ser operador do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A PF também cumpriu nesta manhã mandados de busca e apreensão na casa do empresário Joesley Batista, dono da indústria de alimentos JBS. A empresa JBS em si não é alvo da operação, mas sim a Eldorado Brasil, controlada pela J&F. O Grupo J&F agrega oito empresas: além do frigorífico JBS, a Vigor, Flora, Eldorado Brasil, Banco Original, Canal Rural, Oklahoma, Floresta Agropecuária e a Alpargatas.

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A operação de hoje, batizada de Sépsis, foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal e é um desdobramento da Lava Jato em Brasília. O nome da ação é uma referência a uma doença desencadeada por um grave quadro de infecção geral.

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