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Doleiro diz ter vídeos que provam negociação de propinas para PMDB

Preso, Lúcio Funaro diz que operava um esquema que recolheu 100 milhões de reais para o partido

Por Thiago Bronzatto e Daniel Pereira
1 jul 2016, 21h48

O doleiro Lúcio Bolonha Funaro sabia que, uma hora qualquer, seria alcançado pela Lava-Jato. Aconteceu na manhã de sexta-feira passada, quando foi preso preventivamente. Tanto sabia que, nas últimas semanas, passou a conversar com advogados sobre a possibilidade de fazer delação premiada. Figurinha fácil em escândalos, Funaro tem muito a dizer e a mostrar. A pessoas próximas, ele já afirmou ter recebido 100 milhões de reais de empresas com contratos públicos, propina desembolsada para remunerar serviços do deputado Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara, de quem é um antigo parceiro de negócios. Funaro também contou que boa parte dos 100 milhões foi transferida, a mando de Cunha, a caciques do PMDB e deputados do chamado “centrão”, o que explicaria a eleição de Cunha para o comando da Casa. Como delator, Funaro terá de provar o que diz para conseguir a redução de pena. Aos advogados, disse que isso não será difícil. Ele garante ter gravado empresários e parlamentares que visitaram seu escritório em São Paulo para discutir os valores dos contratos e das respectivas propinas. Gravação em vídeo, para não deixar margem a dúvidas.

A prisão de Funaro é um desdobramento da delação de Fábio Cleto, ex-­vice-presidente da Caixa Econômica Federal e, assim como o doleiro, notório operador de Eduardo Cunha. Cleto declarou à força-tarefa da Lava-Jato que Cunha cobrava propina das empresas interessadas em obter recursos do FI-FGTS, um fundo de investimentos em infraestrutura administrado pela Caixa. Em cada contrato, segundo disse Cleto, Cunha embolsava entre 0,3% e 1% do valor total. Cabia a Funaro participar da coleta da comissão. O método teria sido aplicado quando o FI-FGTS aprovou o repasse de 940 milhões de reais à Eldorado Celulose, empresa da J&F, holding que abriga também a JBS, a maior empresa de carnes processadas do mundo. Os investigadores descobriram que Funaro, nessa operação, arrecadou ao menos 9 milhões de reais, o que confere com o 1% de que fala Cleto. A Polícia Federal fez busca e apreensão na sede da JBS e na casa de seu dono, Joesley Batista, em São Paulo. Na delação, Cleto disse que Cunha também embolsou propina em operações do FI-FGTS com a OAS e a Odebrecht.

A corrupção no fundo funcionava no modelo tradicional. Cunha escalava Cleto, seu preposto na Caixa, para criar dificuldades, e, depois, vendia facilidades. Se a empresa não pagava a propina, Cleto pedia vista do processo. Certa vez, Cunha contou com a ajuda de Henrique Eduardo Alves, ex-ministro de Dilma e Temer, então na presidência da Câmara, para pressionar a cúpula da Caixa a aprovar a liberação de recursos do FI-FGTS à OAS Óleo e Gás e ao Estaleiro Atlântico Sul, de propriedade da Camargo Corrêa e da Queiroz Galvão. No gabinete de Henrique Alves, Cunha disse a executivos da Caixa que, se o dinheiro não saísse, Cleto impediria o avanço de qualquer projeto de interesse do governo. Conforme revelado por VEJA.com, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já denunciou Henrique Alves, Eduardo Cunha, Fábio Cleto e Lúcio Funaro por participação no esquema de corrupção da Caixa. O cerco ao PMDB é amplo e irrestrito. Outro delator acusou o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a cúpula do partido de receber propina de um ex-dire­tor do grupo Hypermarcas.

Renan é investigado em oito inquéritos da Lava-Jato, mas a situação de Cunha é bem mais delicada. Com dois de seus tarefeiros capturados, Cunha recorre à estratégia de sempre: a ameaça. No domingo 26, o deputado visitou o presidente interino Michel Temer no Palácio do Jaburu. Pediu ajuda para se salvar da cassação de mandato e, caso renunciasse à presidência da Câmara, para eleger um aliado para o posto. É notório que Cunha levantou muitas doações de empresas ao PMDB e, por isso mesmo, pode causar um estrago enorme aos peemedebistas que hoje ocupam cargos de destaque em Brasília. “O Cunha pode implodir o governo Temer”, disse Funaro numa conversa recente. Pode ser bazófia. Ou não. Procurado por VEJA, Cunha disse que não recebeu recursos ilícitos: “Quero ver provar”. A Eldorado Brasil disse por meio de sua assessoria de imprensa que “atuou de forma transparente e que todas as suas atividades são realizadas dentro da legalidade”. A companhia também afirmou que “prestou todos os esclarecimentos necessários e se mantém à disposição das autoridades“. Temer, por sua vez, pôs sua equipe em campo para tentar atender, nos bastidores, às exigências de Cunha.

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