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Documento do Planalto avalia que Brasil vive ‘caos político’

Texto que circula no governo reconhece que PT tem levado 'de goleada' nas redes, avalia que a crise não é só de comunicação e diz: 'É difícil virar o jogo'

Por Da Redação
Atualizado em 30 jul 2020, 21h38 - Publicado em 18 mar 2015, 09h07

Diante do agravamento da crise política e do aumento da insatisfação com o governo da presidente Dilma Rousseff – alvo neste domingo do maior protesto popular da democracia brasileira -, o Palácio do Planalto admite que o governo tem adotado uma comunicação “errática” desde a reeleição de Dilma. E afirma que seus apoiadores estão levando uma “goleada” da oposição nas redes sociais. Os apontamentos constam em documento reservado que circulou dentro do governo, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. O texto, elaborado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, comandada pelo ministro Thomas Traumann, aponta como saída para reverter o “caos político” e o quadro pós-manifestações o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada pelo petista Fernando Haddad onde se concentra, atualmente, a maior rejeição ao PT. Pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira reforça o diagnóstico ruim sobre a situação do governo petista: a administração Dilma Rousseff é reprovada por 62% dos brasleiros, maior índice desde Fernando Collor de Mello.

O texto cita, em tom de alerta, pesquisa telefônica recente feita pelo Ibope a pedido do Planalto na qual 32% dos entrevistados disseram ter mudado de opinião negativamente sobre o governo nos últimos seis meses – ou seja, da campanha de outubro até agora. Conclui que o país passa por um “caos político” e admite: “Não será fácil virar o jogo”. O documento é dividido em três partes: “Onde estamos”, “Como chegamos até aqui” e “Como virar o jogo”. A primeira faz um diagnóstico do momento e admite erros de ação nas redes sociais. “A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há sempre um que aponte ‘a culpa é da comunicação’. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso.”

Após o raro mea-culpa, o governo tenta dividir o ônus da crise. “Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas.”

Erros – No segundo capítulo é feito um inventário dos erros acumulados desde 2010 para explicar o momento atual. “O início do primeiro governo Dilma foi de rompimento com a militância digital”, diz um trecho. Os motivos seriam a política de defesa dos direitos autorais implementada pela ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda e o distanciamento com os blogueiros ditos progressistas na gestão de Helena Chagas na Secom.

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“O fim do diálogo com os blogs pela Secom gerou um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha eleitoral de 2014”, diz o texto. “Em 2015 o erro de 2011 foi repetido”, completa. O documento aponta a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Economia e as medidas de ajuste fiscal para explicar um “movimento impressionante” de “descolamento entre o governo e sua militância” a partir de novembro.

Esse movimento, segundo a análise, foi intensificado pelo “desastrado” anúncio de corte no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e subida do preço da gasolina e da energia elétrica, além das denúncias de corrupção na Petrobras. E faz uma crítica ao discurso usado até aqui pelo próprio governo e pelo PT.

“Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso. Assim como um senador tucano (Antonio Anastasia, MG) na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT.” O texto cita o “sentimento de abandono e traição” entre os dilmistas e aponta a necessidade de aceitar esta “mágoa” como estratégia de reação.

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Isolamento – O texto indica claramente que o isolamento da presidente da eleição até o carnaval contribuiu para a intensificar a crise e cobra ação dos parlamentares do PT que, segundo a análise, deixaram de defender o governo. “Hoje, a página do deputado Jean Wyllys, do PSOL, tem um peso maior que quase toda a bancada federal”, compara. A avaliação é que a estratégia atual de comunicação atinge apenas o eleitorado de Dilma e não é capaz de chegar ao grosso do eleitorado.

Para “virar o jogo”, o texto sugere mais exposição de Dilma, “não importa quantos panelaços eles façam”, além de alterações no núcleo de Comunicação Social, concentrando sob a mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas oficiais na internet e a Agência Brasil. A principal sugestão, no entanto, é concentrar os investimentos de comunicação em São Paulo, em parceria com Haddad, que também sofre com baixos índices de aprovação. “Há uma relação direta entre um e outro.”

O texto termina com uma analogia entre a situação atual e o terremoto que destruiu Lisboa em 1755 e deixou 10.00. mortos. Na ocasião, o rei Dom José teria pedido sugestão ao marquês de Alorna, que recomendou: “Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. “Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor enquanto estamos cuidando dos vivos e salvando o que restou”, diz o documento.

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(Com Estadão Conteúdo)

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