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Dilma perde terreno no Rio, capital nacional da traição

PMDB constrói pontes para manter-se no poder independentemente do resultado das urnas. Fragmentação nos Estados cria cenário pouco favorável para a reeleição da presidente

Por Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
29 jun 2014, 21h50

Os movimentos dos partidos políticos ao longo das últimas duas semanas fazem do Rio de Janeiro o Estado mais surpreendente – e confuso – do cenário pré-eleitoral. Ninguém ousa, no momento, arriscar palpite preciso sobre o futuro das urnas fluminenses, mas há consenso sobre alguns aspectos que dizem respeito ao papel do Estado na eleição presidencial. Por subestimar a força do PMDB, a presidente Dilma Rousseff perdeu exclusividade no palanque do governador Luiz Fernando Pezão; e, certamente por enxergar que a reeleição é incerta e a corrida será muito mais disputada que a de 2010, os peemedebistas têm, desde já, estruturadas suas pontes para estar no poder em 2015, seja quem for o vencedor da disputa nacional.

No momento, tão importante quanto entender o comportamento das alianças e dos palanques – Pezão, por exemplo, terá de conjugar momentos com Dilma, Aécio Neves (PSDB) e o Pastor Everaldo (PSC) – é identificar o que motiva as coligações, e esses interesses estão, desde muito antes das convenções partidárias, às claras sobre a mesa.

Para fortalecer palanques regionais de Dilma depois do barulhento divórcio com o PMDB no Rio, a direção nacional do PT precisou impor arranjos favoráveis a candidaturas a governador do PMDB no Pará, na Amazônia, em Rondônia e na Paraíba. Assim, não só o candidato petista a governador no Rio, Lindbergh Farias (PT), vai fazer com que partido de Dilma favoreça o palanque do adversário pessebista Eduardo Campos. De última hora, com a desistência de José Sarney (PMDB) de concorrer à reeleição, os petistas entraram na coligação para reeleição de Camilo Capiberibe (PSB), com Dora Nascimento (PT) ao Senado.

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Os petistas foram traídos pelo PMDB em pelo menos oito estados, sem contar o Rio – onde a traição começou com um movimento do PT. Peemedebistas devem estar em coligações com candidaturas tucanas de governadores ou senadores no Acre, na Bahia e no Ceará. Também dividirão palanque com PSB em Pernambuco e no Rio Grande do Sul. PSB e PSDB estão ainda em alianças majoritárias com o PMDB em Roraima, no Piauí e no Rio Grande do Norte, onde o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), concorre a governador contra o atual vice-governador Robinson Faria (PSD). Faria possui apoio do PT no estado e a vaga para o Senado da coligação ficou com a deputada federal Fátima Bezerra (PT).

Professor da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Fernando Limongi destaca que o cálculo de Dilma considerava, em 2014, repetir a polarização nacional de duas forças, como em 2010. A entrada em cena da candidatura de Eduardo Campos (PSB), a fragmentação da base aliada com a criação de novos partidos (PSD, Solidariedade, Pros, PPL e PEN) e as traições nos Estados, em especial o Rio, embaralharam a situação da presidente.

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“Em 2010, era fundamental para o PT ter uma disputa bipartidária, porque Dilma era desconhecida. Os petistas tentaram manter essa estratégia para a disputa de 2014, mas a bateria perdeu ritmo com a criação de novos partidos ao mesmo tempo em que Eduardo Campos se movimentou para retirar o PSB da base do governo. E a rebelião do PMDB no Rio de Janeiro virou um complicador extra, porque a presidente ainda precisa mais de palanque estadual do que o candidato a governador necessita de um palanque nacional na campanha”, afirma Limongi.

Dilma e o PT pensavam conhecer a fundo o PMDB. Foram surpreendidos, no entanto, com a força do partido em algumas regiões. No Rio, a derrocada da popularidade de Sérgio Cabral, alvo das manifestações de 2013, levou os petistas a crer que seria simples fazer com que o partido cedesse a cabeça de chapa – e isso encorajou Lindbergh Farias a bancar sua candidatura, com apoio do ex-presidente Lula. Era esperado que, com Cabral enfraquecido, o PMDB concordasse em inverter a dobradinha, lembra a professora Marly da Silva Motta, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em história política do Rio.

“No PMDB, não dá para entrar pato novo. É o que o partido está dizendo no momento ao Eduardo Paes, que tenta dar ordem unida ao grupo. Não há chance de isso acontecer”, compara Marly.

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O movimento Aezão, de buscar votos para a campanha do presidenciável tucano Aécio Neves e do candidato ao Palácio Guanabara Luiz Fernando Pezão é, ao mesmo tempo, uma vingança de peemedebistas indignados com a insistência na candidatura de Linbergh e uma forma segura de o PMDB garantir que estará em posição confortável após as eleições. Quem vencer em Brasília precisará do PMDB para governar; e quem vencer no Rio terá, necessariamente, que conversar com Jorge Picciani, o presidente regional do partido, articulador assumido do Aezão.

É certo, até o momento, que o redesenho das alianças favorece Aécio e Eduardo Campos e enfraquece Dilma no Rio. O Aezão aglutinou a base do PMDB fluminense ao PSDB, que não tinha, no Estado, força ou estrutura para oferecer um palanque ao tucano. Para tanto, Sérgio Cabral cedeu a vaga na candidatura ao Senado a Cesar Maia, do DEM – um crítico ferrenho do PMDB de Cabral e Pezão. Do outro lado, na trincheira petista, Lindbergh Farias atraiu o PDB, prometendo apoio à candidatura do deputado federal Romário ao Senado – e o ex-jogador já afirmou que só fará campanha para Campos.

Dilma perde nas alianças, mas é cedo para afirmar que o desenho atual representa uma derrota significativa. O que interessa à presidente e ao comando da campanha nacional é o tempo de TV, e a configuração das alianças mantém a candidata à reeleição em vantagem. Os palanques “duplos” ou “triplos” também tendem a se realinhar dependendo do resultado do primeiro turno, como acredita Christopher Garman, diretor da consultoria americana Eurasia, especializada em risco político. “A composição dos palanques estaduais se mostra muito mais distribuída este ano, o que é ruim para Dilma. A despeito de o PT ter costurado uma base nacional, a capacidade de articulação nos Estados caiu muito. Tudo se realinhará, no entanto, de acordo com a aproximação da eleição e, principalmente, com o resultado do primeiro turno. Se Dilma for bem, a rebelião dos aliados nos Estados diminui”, prevê.

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Dado esse comportamento, e a manutenção da tendência, as traições de agora terão pouco peso no futuro político dos governantes. “Amanhã, se Dilma ganhar, vai haver uma operação resgate de quem esteve por fora, quem trabalhou para outros candidatos. Michel Temer vai ser o primeiro a trazer o PMDB do Rio para perto do governo. Políticos são hábeis para ‘lamber feridas. Mas vai depender também do dano causado pela traição. Se ficar evidente que Pezão foi um estorvo para Dilma na campanha, vai custar mais caro essa recomposição”, lembra.

Aragão ressalva, no entanto, que mesmo adversários ferrenhos podem esquecer desavenças e se alinhar por projetos de comum interesse, como a recente união de PMDB e DEM no Rio para atingir a campanha de Dilma. “No Brasil, não existe inimigo eterno nem amizade assegurada. Há dois anos, estavam juntos Cesar e Anthony Garotinho. Agora, o governador Pezão e o ex-prefeito aparecem juntos na foto”, alerta o diretor da Arko Advice.

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