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Dilma e PMDB: a solução que virou problema

Depois do escândalo na Agricultura de Rossi, presidente tem mais um abacaxi nas mãos: número dois do Turismo, também comandando pelo PMDB, é preso

Por Mirella D'Elia, André Vargas, Luciana Marques e Adriana Caitano
9 ago 2011, 16h52

Nem apagou o incêndio no Ministério da Agricultura de Wagner Rossi – onde, revelou VEJA, foi montado um verdadeiro balcão de negócios comandando pelo lobista Júlio Fróes – e a presidente Dilma Rousseff já está às voltas com mais um abacaxi, este no Ministério do Turismo, também da cota do PMDB. O titular da pasta é Pedro Novais. Nesta terça-feira, a Polícia Federal (PF) prendeu 38 pessoas suspeitas de participar de um esquema de corrupção no Turismo, entre elas o número dois na hierarquia da pasta, o secretário-executivo Frederico Silva da Costa.

De aliado de peso, que deveria ser uma solução, o PMDB acabou virando um problema. O surgimento de novo escândalo em um ministério da cota do partido deixa a presidente em situação nada confortável na hora de decidir se demite ou não Wagner Rossi e Pedro Novais. Afinal, o partido de seu vice, Michel Temer, é essencial para assegurar a governabilidade na curta – mas já turbulenta – gestão da petista: além de comandar cinco ministérios, a legenda tem vinte senadores e oitenta deputados federais.

Comprar briga com Temer após a demissão de três ministros – Nelson Jobim, Alfredo Nascimento e Antonio Palocci – é tudo o que a presidente não quer neste momento. E criar atrito com a legenda em um momento em que já enfrenta tantos problemas no Congresso não é um passo fácil a ser dado. Por outro lado, se continuar a promover “faxinas” em ministérios contaminados pela corrupção Dilma poderá reforçar a imagem de que não vai tolerar irregularidades. Caberá a ela decidir que rumo tomar.

Farra – O ministro Pedro Novais estreou com um escândalo que de imediato caiu no ridículo por causa de uma farra coletiva em um motel de segunda categoria. A festinha para vinte pessoas ocorreu em São Luís (MA). Novais reembolsou os 2.156 reais gastos no motel Caribe e não quis mais falar do assunto.

Preso, Frederico Silva da Costa tem um histórico complicado. No início de 2010, ele e familiares tiveram os bens bloqueados pela Justiça. Costa é investigado por desvio de verbas da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O dinheiro deveria ser empregado na instalação de uma fábrica de processamento de tomate em Tocantins, mas sumiu em um esquema de notas frias. Em 2008, quando era diretor de Programas Regionais de Turismo, liberou verbas para a construção de uma rodovia em Goiás que encurtaria o trajeto até a região de Rio Quente, onde está instalado o Rio Quente Resorts, da qual sua família é acionista. O Tribunal de Contas da União (TCU) também questiona convênios fechados pelo ministério. Criado por Lula para contemplar aliados do PTB, o ministério do Turismo ganhou relevância com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. De um orçamento de 377 milhões de reais, em 2003, subiu para sete bilhões de reais em 2010. Daí para cair nas mãos do PMDB, o principal partido da base aliada do governo PT, foi uma mera formalidade. Recado – Logo após as prisões desta terça, Dilma não se pronunciou sobre a confusão envolvendo a pasta pilotada pelo PMDB. Mandou recado por meio da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. “É uma situação mais antiga, de 2009”, disse a ministra, em referência ao convênio assinado entre o Ministério do Turismo e a Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) – foco da investigação. Uma tentativa de descolar a imagem de Pedro Novais do escândalo. A presidente também mandou chamar Pedro Novais para que ele se explique. Na segunda-feira, o foco da crise era outro: Dilma veio a público defender a conduta de Wagner Rossi. O discurso foi o mesmo adotado em julho, quando VEJA revelou que havia superfaturamento de obras públicas do Ministério dos Transportes. Na ocasião, a presidente dizia ter plena confiança no então chefe da pasta, Alfredo Nascimento – ainda assim, ele pediu demissão dois dias depois. A fala da presidente foi quase literalmente reproduzida em relação a Wagner Rossi. “Não há razão para termos qualquer questão em relação ao Wagner Rossi”, comentou. “Ele já tomou medidas e estamos, sem sombra de dúvidas, reiterando a confiança no ministro.”

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Apesar de defender o subordinado, a presidente até agora não conversou com o titular dos Transportes. Também deixou para a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, fazer essa intermediação. Pelo menos na interpretação de Rossi, a porta-voz da presidente tem dado sinais de que ele continua no governo. “Sou ocupante de um cargo de livre escolha da presidente e ela tem me dado todos os motivos para que eu me sinta firme e confortável para fazer meu trabalho”, afirmou.

Explicações – Para a Presidência, o ideal seria se o próprio PMDB decidisse pela demissão de Rossi, caso sua situação se torne insustentável. Mas a legenda até agora não tem dado nenhuma demonstração de que pretende substituir o ministro. “O PMDB está muito seguro em relação ao Rossi e tem muita confiança nele. Estamos convictos de que não haverá faxina na Agricultura”, disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). “O governo ficará convencido após suas explicações ao Senado”, completou.

Rossi prestará novo depoimento aos parlamentares nesta quarta-feira – desta vez na Comissão de Agricultura do Senado. Antes de ser deflagrada a operação da PF, a cúpula do PMDB anunciara serenidade em relação às denúncias na Agricultura. “Todos estão muito tranquilos no partido, inclusive o vice-presidente, Michel Temer. Onde houver problemas, haverá cortes”, afirmou o presidente do partido, Valdir Raupp.

O PMDB vem protelando uma tomada de decisão definitiva sobre o caso Rossi. Para isso, tem orientado o ministro a prestar todos os esclarecimentos sobre as denúncias envolvendo sua pasta. Ele já falou três vezes publicamente. Discursará de novo na quarta-feira. Se será convincente, caberá à Presidência avaliar. Agora, o partido tem mais um imbróglio a resolver. Resta saber se Dilma irá se adiantar e terminar a limpeza na casa.

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