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Dilma banca Nascimento e aproxima Planalto da crise

Após afastar cúpula de ministério, presidente diz confiar em Alfredo Nascimento. Demissão vai depender de repercussão do caso

Por Gabriel Castro
4 jul 2011, 17h07

Depois de atuar agilmente ao ordenar o afastamento de parte da cúpula do Ministério dos Transportes envolvida no esquema de corrupção revelado por VEJA, Dilma Rousseff decidiu sustentar Alfredo Nascimento no cargo. Nesta segunda-feira, ela disse confiar nele. Com a manutenção de Nascimento no posto, a presidente também se permite uma avaliação mais exata do clima político antes de tomar uma decisão definitiva.

Foi assim com Antonio Palocci, que caiu. Está sendo assim com Aloizio Mercadante, envolto no escândalo do Dossiê dos Aloprados. Mas ainda é preciso aguardar para ver se o ministro do PR ganhará uma blindagem tão eficiente quanto a dos petistas.

Até agora, Dilma aplicou a estranha lógica de punir apenas os nomes secundários do esquema. Ao segurar Nascimento no posto, ela dá a entender que o esquema de desvios de verbas em obras, que alimentava os caixas do PR e era operado por nomes importantes da pasta, fucionava sem o conhecimento do chefe do ministério.

Ao bancar a permanência do ministro dos Transportes, entretanto, a presidente arrisca-se a atrair a crise para mais perto do Palácio do Planalto. A manutenção de Nascimento no cargo passará por vários testes. Já nesta semana, a Comissão de Infraestrutura do Senado deve avaliar pedidos de convocação do ministro. A oposição também vai pedir à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investiguem as denúncias.

A permanência do ministro no cargo, mesmo que provisória, é uma notícia boa para o PR. O partido, aliás, possui uma bancada considerável no Congresso e já vinha se queixado do Planalto por causa da não-liberação de emendas parlamentares. Isso pode ter pesado na decisão da presidente.

Mesmo que Nascimento não caia agora, o nome dele se juntará aos de Ana de Hollanda (Cultura), Fernando Haddad (Educação) e Pedro Novais (Turismo), que não devem resistir à próxima reforma ministerial.

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O caso – A edição desta semana de VEJA mostra que, no último dia 24, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com integrantes da cúpula do Ministério dos Transportes no Palácio do Planalto para reclamar das irregularidades na pasta. Ao lado das ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e MÍriam Belchior (Planejamento), ela se queixou dos aumentos sucessivos dos custos das obras em rodovias e ferrovias, criticou o descontrole nos aditivos realizados em contratos firmados com empreiteiras e mandou suspender o início de novos projetos.

Dilma disse que o Ministério dos Transportes está sem controle, que as obras estão com os preços “inflados” e anunciou uma intervenção na pasta comandada pelo PR – que cobra 4% de propina das empresas prestadoras de serviços.

A presidente também cobrou explicações sobre a explosão de valores dos empreendimentos ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em nota, o ministro Alfredo Nascimento disse que desde janeiro vem tomando as providências para redução dos custos de obras.

“Tal preocupação atende não apenas a necessidade de efetivo controle sobre os dispêndios do ministério, mas também a determinação de acompanhar as diretrizes orçamentárias do governo como um todo. Característica de sua passagem pelo governo federal em gestões anteriores e, obedecendo à sua postura como homem público, Alfredo Nascimento atua em permanente alinhamento à orientação emanada pela presidente”.

Reunião – Com planilhas e documentos sobre a mesa, Dilma elevou o tom no encontro com representantes da pasta: “O Ministério dos Transportes está descontrolado”. A presidente chamou de “abusiva”, por exemplo, a elevação do orçamento de obras em ferrovias, que passou de 11,9 bilhões de reais, em março de 2010, para 16,4 bilhões neste mês – salto de 38% em pouco mais de um ano.

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Dilma também se irritou em especial com a Valec, estatal que cuida da malha ferroviária, e com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pelas rodovias.

O secretário-executivo do ministério, Paulo Sérgio Passos, o diretor-geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot, e o diretor de Engenharia da Valec, Luiz Carlos Machado de Oliveira, também estavam na reunião em que Dilma mais falou do que ouviu.

“Vocês ficam insuflando o valor das obras. Não há orçamento fiscal que resista aos aumentos propostos pelo Ministério dos Transportes. Eu teria de dobrar a carga tributária do país para dar conta”, disse Dilma, quando a reunião caminhava para o fim. Ela deu o diagnóstico: “Vocês precisam de babá. E terão três a partir de agora: a Míriam, a Gleisi e eu”.

Nas últimas semanas, VEJA conversou com parlamentares, assessores presidenciais, policiais e empresários, consultores e empreiteiros. Ouviu deles a confirmação de que o PR cobra propina de seus fornecedores em troca de sucesso em licitações, dá garantia de superfaturamento de preços e fecha os olhos aos aditivos, alvo da ira da presidente na reunião do dia 24.

Fazem parte do esquema o deputado Valdemar Costa Neto, que em 2005 foi obrigado a renunciar a uma cadeira na Câmara abatido pelo escândalo do mensalão. E também o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que aliás faltou ao encontro com Dilma alegando “compromissos pessoais”.

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