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Desigualdade: o Rio na contramão do Brasil

Estudo da FGV mostra que, em 12 anos, renda avançou nas favelas. A má notícia: pobreza na cidade toda subiu de 9,61% para 10,18% da população

Por João Marcello Erthal
31 ago 2010, 13h33

“O problema das favelas é falta do estado, de segurança, serviços públicos, educação. Se você traz o estado para estas áreas, pode torná-las mais parecidas com o resto da cidade, quebra-se um pouco a partição desses dois lados da cidade”, diz Marcelo Neri

As décadas de negligência do poder público com as favelas no Rio de Janeiro põem a cidade, agora, na contramão da tendência de redução de desigualdade do resto do Brasil. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, planejada para medir a distância entre essas áreas carentes e a cidade formal, serviu para mostrar que o Rio, apesar de uma melhoria nas condições de vida da população mais pobre, não consegue acompanhar o avanço do resto do país e se mantém estacionado, oscilando, em alguns momentos, para baixo.

Coordenada pelo pesquisador Marceno Neri, a pesquisa Desigualdade e ‘Favelas Cariocas: A cidade partida está se Integrando?’ tomou emprestado o título do livro escrito em 1994 pelo jornalista Zuenir Ventura para tentar estabelecer as diferenças entre “morro” e “asfalto”. A conclusão, segundo informou Neri na manhã desta terça-feira, no Rio, é de que a renda total dos moradores de favelas é 49% menor do que na cidade formal – consideradas pessoas de mesma escolaridade, idade e “raça” (critério adotado por ser passível de discriminação ou segmentação, segundo o pesquisador). Se considerada apenas a renda do trabalho, esta diferença hoje é de 40%.

A diferença maior na renda total – que considera, além dos salários, renda com aluguéis, aposentadorias e programas sociais como o Bolsa-Família – leva os pesquisadores da FGV a concluir que, nas favelas, ainda é menor a presença do estado na forma de ações de redução de desigualdade.

A ausência do poder público, como já se esperava, é a diferença marcante entre a cidade e a favela. “O problema das favelas é falta do estado, de segurança, serviços públicos, educação. Se você traz o estado para estas áreas, pode torná-las mais parecidas com o resto da cidade, quebra-se um pouco a partição desses dois lados da cidade”, afirmou Neri.

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Para o pesquisador, a redução da distância entre as áreas carentes e a cidade ‘normal’, num contexto de crescimento de renda em nível nacional, é, na verdade, um fator de preocupação para o Rio de Janeiro. Como ressalta o estudo, de 1996 a 2008, a pobreza no Brasil – linha que divide a população com renda abaixo de 140 reais por pessoa, por mês, nos critétios da FGV – caiu de 28,82% para 16,02% da população.

Na cidade como um todo, o Rio, no mesmo período de 12 anos, teve aumento no nível de pobreza: de 9,61% para 10,18%. Se considerada apenas a cidade fora da favela – o “asfalto” – neste intervalo de tempo a pobreza subiu de 7,87% para 9,43%. Mesmo levando-se em conta que o percentual de pobres no município do Rio continua bem menor que a média brasileira, os números mostram que o município tem problemas. “Não se pode dizer que o município está empobrecendo, mas o Rio está parado enquanto o resto do Brasil avança. Estamos ficando para trás em pobreza e desigualdade”, avaliou Neri.

Recuperação lenta – A melhoria da renda nas favelas se acentua a partir de 2005. De 1996 a 2005, o crescimento da renda nas favelas foi de 6%. Já entre 2005 e 2008 o avanço foi de 14% – mais que o dobro do ritmo de crescimento, mas ainda é pouco para proporcionar à população dos morros condições equivalentes à dos bairros. “Existe certa evidência de que as diferenças caíram. Mas, se estamos colando a cidade partida nesse ritmo, vamos levar de 30 a 60 anos para eliminar a distância”, explicou o coordenador do trabalho.

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