Delegada quer ouvir ex-médico sobre manipulação genética
Celi Paulino, da Delegacia da Mulher, abriu inquérito contra Roger Abdelmassih para investigar estupros e também o destino dos óvulos coletados das vítimas
Por Mariana Zylberkan
21 ago 2014, 03h07
O ex-médico Roger Abdelmassih, preso na terça-feira na cidade de Assunção, no Paraguai, será chamado a depor sobre a suspeita de crimes envolvendo manipulação genética e de ter violentado sexualmente 26 mulheres. Ele é condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros de pacientes que frequentavam sua clínica de fertilização, em São Paulo. A delegada Celi Paulino, da 1ª Delegacia da Mulher, investiga, em inquérito aberto em 2009, a suspeita de que Abdelmassih também teria manipulado irregularmente óvulos e espermatozoides de seus pacientes e, inclusive, vendido o material genético no mercado negro americano. Há relatos de casais de pacientes que fizeram teste de DNA e descobriram não serem pais dos bebês gerados na clínica do médico.
“O inquérito foi aberto por causa dos abusos, mas evoluiu com os relatos de manipulação genética trazidos pelas vítimas”, diz a delegada. Nos últimos cinco anos, ela foi procurada por 26 mulheres que afirmaram terem sido vítimas do médico, que já foi condenado por outros 52 casos.
A manipulação genética indevida teria resultado em abortos espontâneos em série e na morte prematura de bebês, vitimados por síndromes genéticas, como a síndrome de Edwards, que causa má formação do coração. “Vítimas contam que ele as obrigava a prolongar a gravidez por meses mesmo depois de o feto ter morrido”, afirma Celi Paulino.
Entre as testemunhas ouvidas pela delegada, está um ex-sócio de Abdelmassih, dono de uma empresa de engenharia genética. O inquérito aponta que o médico teria fornecido o material genético para experiências na reprodução de cavalos de raça. “Há relatos de que ele usou óvulos de mulheres mais novas em inseminações de mulheres mais velhas e também de ter usado espermatozoides de homens saudáveis em tratamentos de outros inférteis, sem o conhecimento das vítimas”, diz a delegada.
O inquérito investiga também o destino do material genético coletado das pacientes, absolutamente desconhecido por elas. Há a possibilidade do material ter sido comercializado de forma ilegal no exterior.
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