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Delator de Gleisi incrimina líder do governo, ex-ministro Carlos Gabas e ex-presidente da Câmara

Por Da Redação 11 mar 2016, 18h51

O ex-vereador petista Alexandre Romano, conhecido como Chambinho e delator da senadora petista Gleisi Hoffmann, listou em seus depoimentos de colaboração à Justiça como petistas das mais diversas matizes – de um então ministro de Estado ao atual líder do governo na Câmara dos Deputados – embolsaram dinheiro e receberam benesses a partir de favores políticos e desvio de recursos em estatais. A força-tarefa da Operação Lava Jato escancarou o esquema de corrupção instalado na Petrobras, mas os tentáculos do propinoduto chegaram a outras esferas da administração pública, como estatais do setor elétrico, os Correios, empresa que já tinha sido o estopim do escândalo do mensalão, e instituições financeiras, como o Banco do Nordeste.

Chambinho se tornou alvo da Lava Jato em meados de 2015, depois de a força-tarefa do Ministério Público ter mapeado que o advogado e ex-vereador arrecadou mais de 50 milhões de reais em propina a partir de contratos de empréstimos consignados no Ministério do Planejamento. O esquema criminoso, que teve início em meados de 2010, envolve empresas do grupo Consist e pagamentos de vantagens por meio de empresas de fachada e inclui a emissão de notas fiscais falsificadas para desvio de dinheiro público. Mas não é só.

Na delação premiada de Alexandre Romano, homologada recentemente pela Justiça, há detalhes de transações escusas que, muito em breve, darão muita dor de cabeça a figuras coroadas do partido. Aos investigadores, Chambinho disse, por exemplo, como dinheiro de origem ilícita irrigou o caixa dois da campanha da senadora e ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR). Parte do dinheiro, revelou ele, saiu de um contrato milionário firmado nos Correios – estatal vinculada ao Ministério das Comunicações, comandado durante anos pelo marido da petista, o também ex-ministro Paulo Bernardo. O próprio Bernardo é citado como beneficiário de dinheiro sujo repassado pelo advogado paranaense Guilherme Gonçalves, também investigado. O dinheiro, como revelou a coluna Radar, chegou à campanha de Gleisi por meio de um contrato fictício firmado com um escritório de advocacia. Quem recebeu a bolada, em nome da campanha, foi Leones Dall’Agnol, ex-chefe de gabinete de Gleisi e de Paulo Bernardo. Por Gleisi ter foro privilegiado, as investigações contra ela estão no Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro petista conhecido que sai mal da delação premiada de Chambinho é o deputado gaúcho Marco Maia (PT), ex-presidente da Câmara dos Deputados. Ao Ministério Público Federal, Chambinho relatou em minúcias como comprou, com dinheiro de propina, um apartamento para Marco Maia em um condomínio de luxo em Miami, nos Estados Unidos. A transação foi revelada no ano passado por VEJA. Na ocasião, o deputado negou ser o dono do imóvel, mantido até recentemente em nome do próprio Chambinho. A partir da delação premiada, Marco Maia deverá ser alvo de uma investigação no Supremo.

Aliado de primeira hora da presidente Dilma Rousseff, Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência e atual secretário especial da Previdência, também é citado na delação como destinatário das propinas. Chambinho contou que parte do dinheiro sujo que recebia era dividida com Gabas, um dos petistas da Esplanada dos Ministérios mais próximos da presidente – ele ganhou fama, tempos atrás, por ter levado Dilma para passear por Brasília na garupa de sua Harley-Davidson. Segundo Chambinho, o ex-ministro recebeu, durante quatro meses, repasses em dinheiro vivo que totalizaram cerca de 300.000 reais. De acordo com os depoimentos, os pacotes de dinheiro eram entregues pelo sócio de Chambinho a um parente de Gabas, que se encarregava de fazer os recursos chegarem ao ministro.

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No acordo de colaboração que fez com a Justiça, o delator também cita nominalmente o atual líder do governo na Câmara, o deputado cearense José Guimarães (CE). Segundo Chambinho, Guimarães valeu-se de sua influência para abrir as portas do Banco do Nordeste para ele e chegou a apresentá-lo um diretor do banco. O lobby do petista foi bem-sucedido e a transação, um empréstimo para construção de usinas, foi levada adiante. Depois de fazer a intermediação do negócio, Guimarães apresentou a fatura: cobrou uma “ajuda” de cerca de 100.000 reais, que foram pagos pelo delator.

Ao site de VEJA, Gabas, por meio de sua assessoria, disse que “nega peremptoriamente qualquer inferência [feita pelo delator] e que nunca recebeu nada nem dele nem de ninguém”. Em nota, o líder do governo, José Guimarães, afirmou que tem “a consciência absolutamente tranquila” e que “jamais” se beneficiou de recurso público. “Meu trabalho como deputado pressupõe o diálogo com inúmeras instituições públicas, bem como atendimentos a diversos interlocutores de todas as esferas, conforme se pode acompanhar diariamente pela minha agenda, amplamente repercutida nas redes sociais e na própria imprensa. Uma acusação desse tipo revela oportunismo diante do conturbado momento político no país e a incessante tentativa de criminalizar o PT e o governo, bem como seus defensores e representantes. Adotarei todas as medidas cabíveis, dentro do Estado de Direito, para defender minha honra, contra a qual não tolerarei ataques sem fundamento”, disse ele.

Em nota, a senadora Gleisi Hoffmann “reafirma que não conhece e nunca teve contato com Alexandre Romano”. “Nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia não declarada ou de caixa 2 para quaisquer de suas campanhas. Todos os valores utilizados em suas campanhas foram declarados nas prestações de contas que estão disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral”, disse.

O deputado Marco Maia não atendeu os telefonemas da reportagem nem retornou os recados.

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