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Crise hídrica se agrava em Minas; RJ e SP têm alívio

Enquanto reservatórios do Paraíba do Sul, Cantareira, Guarapiranga e Alto Tietê respiram, sistema mineiro agoniza e fortalece ameaça de rodízio

Por Felipe Frazão 8 mar 2015, 07h39

As aguardadas chuvas de verão, mesmo acima da média, foram insuficientes para interromper a trajetória de queda das reservas de água em Minas Gerais, embora tenham dado um refresco à seca em São Paulo e no Rio de Janeiro nos dois primeiros meses do ano. Levantamento feito pelo site de VEJA com base em dados dos órgãos que monitoram o nível dos reservatórios nos três Estados do sudeste brasileiro mostra, no entanto, que a gravidade da crise hídrica segue longe de ser superada.

Apreensivos, os governadores Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo, Luiz Fernando Pezão (PMDB), do Rio de Janeiro, e Fernando Pimentel (PT), de Minas, possuem planos de racionamento na gaveta, mas hesitam em decretá-los. Eles devem esperar até o fim de março para reavaliar a situação das reservas e só tomar a decisão quando a estação chuvosa terminar. Além de obras urgentes e de planos como a interligação entre os sistemas Cantareira e Paraíba do Sul, os três governantes optaram, por enquanto, por fazer manobras na distribuição para evitar o desabastecimento completo, reduzir a pressão no período noturno e intensificar campanhas educativas. Em São Paulo, está em vigor um programa com sobretaxa em caso de consumo excessivo e bônus por economia – outra medida que Rio de Janeiro e Minas ainda avaliam.

A menos de um mês do fim da estação chuvosa, as reservas de água no Sudeste continuam muito abaixo da série histórica. A situação é ainda pior em Minas, onde o quadro se agravou entre janeiro e fevereiro. Os reservatórios da Região Metropolitana de Belo Horizonte podem entrar em colapso em junho ou julho, segundo a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa). A Grande BH é abastecida principalmente por dois sistemas: o Paraopeba, formado por três reservatórios, e o Rio das Velhas, do qual a companhia retira água diretamente do leito. De 1º de janeiro a 1º de março, o volume de água nos reservatórios do Paraopeba caiu 3,1%.

Os três reservatórios abastecem juntos 2,3 milhões de pessoas. O Rio das Velhas atende a outras 2,4 milhões. Entre os reservatórios, o Serra Azul tem a pior situação, embora seja o único que se recuperou, em 2,1% de sua capacidade, nos dois primeiros meses do ano. Estava em situação agonizante no fim de janeiro, beirando o volume morto: sua represa tinha trechos com apenas um córrego visível. De lá para cá, a reserva aumentou e está em 9,3% da capacidade total, de 88 milhões de litros. A queda foi mais acentuada (6%) no maior dos reservatórios belorizontinos, o Rio Manso, que pode armazenar até 150 milhões de litros, mas operavava com 42,2% da capacidade até a última sexta-feira. O Vargem das Flores, da região de Betim e Contagem, tinha somente 30% do seu total de 43 milhões de litros. Sua represa perdeu no período 3,7 pontos porcentuais.

Para combater a crise, a Copasa iniciou uma campanha, no fim de janeiro, com objetivo de poupar em 30% o consumo de água. Mas a redução ficou em apenas 9,4% na Grande BH no primeiro mês – em todo o Estado, a economia foi menor, 7,4%.

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Respiro – Já o nível armazenado nos principais reservatórios que abastecem as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro apresentou saldo positivo em janeiro e fevereiro. No mês passado, a pluviometria sobre o Sistema Cantareira bateu recorde em vinte anos, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Foram 322,4 milímetros de água. Desde 1995 a região não registra um volume de chuvas maior em fevereiro.

Mais importante sistema do Estado e em situação mais crítica, o Cantareira recuperou 4,4% do volume de água no período – começou janeiro com 7,2% de sua capacidade e no dia primeiro de março tinha 11,6%. Nessa conta, entram as duas cotas de volume morto que aumentaram em 29%, ou 287,9 bilhões de litros, suas fontes originais. O sistema Cantareira estaria, porém, negativo em cerca de 20% se não tivesse recebido duas cotas extras de água ao longo do ano passado. Isso porque, desde que recebeu a primeira parcela do volume morto (182,5 bilhões de litros), o Cantareira gastou mais água do que tinha acumulado à época. O mesmo ocorreu quando a segunda cota (105,4 bilhões de litros) foi bombeada para o sistema em dezembro, ocasião em que a primeira acabou, e o nível de água ameaçava zerar. Em uma contagem artificial, que soma a água aproveitada do fundo das represas com a do volume útil, o Cantareira possui agora 11,7% do total de sua capacidade, 982,7 bilhões de litros. Ou seja, tem um nível de água semelhante ao que a segunda cota do volume morto acrescentou ao sistema.

O sistema Alto Tietê, também anabolizado por um volume morto de 39,46 bilhões de litros (água que fica abaixo da estrutura de captação das represas), ficou com saldo positivo de 6,5% nos dois primeiros meses deste ano. Nesta sexta, o segundo maior sistema da Grande São Paulo operava com 18,7% de sua capacidade – 573,81 bilhões de litros, destinados às casas de 4,5 milhões de pessoas. Como a Sabesp divulga o nível de água como a soma do volume morto adicionado (6,6% da capacidade) com o naturalmente disponível nas represas, os números ficam menos alarmantes.

A recuperação foi maior na Represa da Guarapiranga, na Zona Sul da capital paulista, responsável por suprir água para 5,2 milhões de pessoas. O reservatório, que assim como o Alto Tietê passou a atender demanda transferida pela Sabesp para aliviar o Cantareira, registrou saldo de 21,2% em janeiro e fevereiro. É um dos que opera com mais folga: 62,9% de seus 171,19 bilhões de litros – este, sim, sem contar nenhum volume adicionado.

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Os reservatórios que abastecem o Rio de Janeiro, localizados no sul do Estado e em São Paulo, registraram os piores índices de sua história em janeiro, mas conseguiram se recuperar ligeiramente. O sistema como um todo saltou de 2,62% para 7,83% de 1º de janeiro a 1º de março (saldo de 5,21%) período em que ao menos duas de suas represas ficaram abaixo do nível zero e usaram automaticamente o volume morto, neste caso, acessíveis por gravidade, sem necessidade de obras de bombeamento, como em São Paulo.

Parte da Bacia do Paraíba do Sul, os quatro grandes reservatórios de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil têm uma particularidade: eles desempenham dupla função, a geração de energia elétrica e o abastecimento industrial, agrícola e residencial. Por causa da seca, Paraibuna e Santa Branca passaram da faixa zero no fim de janeiro e obrigaram o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a interromper a produção de energia. O volume morto nessas represas é contado a partir do zero, a quantidade de água que não se usa para geração de energia – a imensa cota não operacional que se acumula no fundo das represas do Sistema Interligado Nacional.

Se os reservatórios estivessem repletos, os volumes úteis seriam de 2,6 trilhões de litros no Paraibuna, 307 bilhões de litros no Santa Branca, 792 bilhões de litros no Jaguari e 605 bilhões de litros em Funil. Segundo os últimos dados disponíveis (de quinta-feira), o Paraibuna operava com 2,05% do volume útil total; o Santa Branca com 1,62%; o Jaguari com 10,09%; e o Funil com 33,04%, a maior folga no volume útil.

Segundo dados divulgados pelo ONS e pela Agência Nacional de Águas (ANA), volume morto total do Paraibuna possui 2,096 trilhões de litros; o do Santa Branca tem 131,2 bilhões de litros. A reserva técnica do Jaguari representa 443,1 bilhões de litros. E a do reservatório Funil 282,6 bilhões de litros. Essas reservas poderiam abastecer cerca de 12 milhões de pessoas no Grande Rio por mais seis meses, estimam autoridades do governo estadual.

O ONS também divulga a capacidade geral dos reservatórios, soma dos volumes útil e morto de cada unidade. Seguindo este cálculo, metodologia diferente da aplicada em São Paulo, a capacidade total do sistema equivalente do Paraíba do Sul seria de 7,3 trilhões de litros. Somando os volumes útil e morto verificados na última quarta-feira, Paraibuna teria atualmente 45,45% de sua capacidade; Santa Branca, 30,95%; Jaguari, 42,25%; e Funil, 54,42%. Números bem menos assustadores que podem passar uma sensação tranquilizante – perigosa para o meio ambiente e para quem depende de um recurso natural de escassez iminente.

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