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Creches para disciplinar a até emagrecer cães

Com preços de 190 a 900 reais, serviço, disponível em 170 locais da Grande São Paulo, tenta ir além de cuidar do cachorro na ausência do dono

Por Letícia Cislinschi
7 set 2013, 12h31

Com uma programação focada na saúde e bem-estar dos animais domésticos, as creches para pets tentam conquistar os clientes oferecendo um serviço que vai além de cuidar do cão na ausência do dono. Baseado exatamente no modelo que atende às crianças, as creches para animais apostam em recreações e atividades que contribuem para a socialização, comportamento, saúde e, inclusive, emagrecimento dos cachorros. O resultado, garantem os donos, está em um cão mais dócil, que interage bem com outros bichos e com maior expectativa de vida.

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Segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV), há pelo menos 170 estabelecimentos em São Paulo que funcionam como uma escola infantil, onde os cachorros tem horário para entrar, sair, tomar banho, descansar, brincar e comer. No entanto, esses locais não são apenas para filhotes. O custo do serviço na cidade varia de 190 a 900 reais por mês, de acordo com a frequência do animal e serviços adicionais como banho e táxi dog – o equivalente ao ônibus escolar dos bichinhos, que busca e deixa o animal em casa.

A arquiteta Carla Maria Takashima, de 32 anos, estava com uma viagem marcada quando decidiu preparar o seu pug Tiesto, de 1 ano e dois meses, para o período longe da dona. “Na época ele era muito pequeno e eu estava preocupada como seria adaptação dele em hotéis. Deixei o Tiesto uma temporada na creche antes da hospedagem e, depois de ver que ele teve um resultado positivo, fixei a atividade na rotina dele”, conta.

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Carla mora em apartamento e seu cachorro não praticava exercícios antes de ser matriculado na creche. Atualmente, Tiesto frequenta o local duas vezes por semana, nos dias que a ajudante de Carla não está na casa dela. “Quando não vem à creche, ele passeia na rua e a socialização com os outros cachorros é bem melhor. Ele não rosna para ninguém e pensa que todos os outros cachorros são amigos da escolinha.”

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Rotina – Os três táxi dogs da creche Cãominhando, na Granja Viana, região metropolitana de São Paulo, saem às 5h30 da manhã para recolher os cães em suas casas e levá-los para mais um dia de atividades. Aqueles que são entregues pelos próprios donos começam a chegar por volta das 7h. Na creche para cães também não se toleram atrasos: a entrada é até as 9h. O local recebe, em média, sessenta cães por dia.

O dono deve entregar a lancheira com a ração do dia – que deve ser específica para a raça – além das recomendações, como medicamentos que o pet precisa tomar e algum cuidado especial necessário. “Quando o cachorro não está bem, não come ou não responde às brincadeiras, avisamos ao dono imediatamente”, conta a veterinária e dona da creche, Vanessa Requejo, que recebe dezenas de ligações de clientes por dia, que querem saber como estão seus pets. Quem prefere acompanhar ao vivo pode acessar as câmeras de segurança do local pela internet.

Para ser matriculado na creche, o cão precisa ser castrado, vermifugado, manso e estar com a carteira de vacinas em dia. Cadelas no cio não são aceitas, assim como raças consideradas de risco, como Rottweiler e Pitbull. Mesmo sabendo que muitos deles são dóceis, as creches não costumam aceitar esses cães porque os donos de outros animais ficam com medo. Por isso, há creches especializadas nessas raças.

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Para ficar na creche, o cão também passa por uma avaliação individual e com outros cachorros. “Não podemos colocar em risco um trabalho por causa de apenas um animal”, conta Vanessa, que chega a recusar 50% dos interessados no serviço e, nesses casos, aconselha os donos a iniciarem um trabalho com pet sitter ou dogwalker antes de matricular o animal em uma creche.

Atividade física – O dia começa com a maratona de brincadeiras, que dura 2h30. Na recreação, os cães correm bastante e aproveitam o espaço, já que muitos deles vivem em apartamentos. Além da diversão, os exercícios são fundamentais para a saúde do animal. Segundo Vanessa, os donos de raças que têm tendência a engordar, como labradores, procuram a creche para que o animal tenha uma atividade física regular e, assim, controle o peso.

Quando o animal está obeso, a alimentação também precisa ser alterada. “Nesses casos, alimentos como cenoura e rações especiais devem ser aliadas ao exercício físico – da mesma maneira que funciona com as pessoas. Mas a dedicação deve ser total, dentro e fora da creche”, acrescenta a veterinária.

Filé e Farofa são labradores adotados pela advogada Larissa Milani Bastos e frequentam a creche duas vezes por semana, das 9h às 20h. “Eu trago eles aqui para gastar energia e socializar com outros animais, porque são de uma raça hiperativa”, conta Larissa. “Eles voltam para casa exaustos de tanto brincar. No dia em que não vêm para a creche, chego em casa e eles estão muito agitados”, comparou a dona dos labradores.

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Expectativa de vida – A correria pode influenciar também na expectativa de vida dos cachorros. Os animais mais velhos, que em casa tendem a ficar preguiçosos, no meio dos outros cães ficam mais energizados, o que aumenta o apetite e contribui para a saúde. Resultado: maior expectativa de vida do animal. “Temos alguns que entraram aqui com 12, 13 e até 14 anos, e a única diferença é que eles descansam um pouco mais entre uma brincadeira e outra”, conta Vanessa.

Ainda no período da manhã, os cães com banho agendado são recolhidos e levados a um pet shop conveniado. Quando retornam, eles almoçam e ficam na sala de repouso. O horário da refeição é o único momento que cada cachorro fica separado dos demais. “A comida do outro é sempre melhor, e é o horário mais propício para sair uma briga”, explica Marina Altoé, de 33 anos, que trabalha em uma creche há seis meses. Depois da refeição é o momento do descanso, que dura cerca de duas horas. Eles podem ficar no gramado ou em uma sala com mini camas e cobertas. É nesse horário que os funcionários da creche preparam as lancheiras que serão devolvidas no fim do dia e dão os medicamentos para o pets que necessitam de algum cuidado especial.

Após o descanso do almoço, volta a recreação. Potes de água estão por todos os lados, para quando o cansaço começa a se manifestar pela língua de fora do cães. Estar hidratado é fundamental. A brincadeira chega ao fim às 16h, quando os táxi dog saem novamente, agora para deixar os cães em casa. Os donos têm até as 20h para buscar seus bichinhos.

Durante todo o período que ficam na creche, a disciplina do animal é trabalhada, no sistema de recompensas. Quem se comporta bem e não pula em cima dos outros recebe petisco. Quem é “mal-criado”, fica só olhando. Porém, nas creches não há adestramento, que depende de acompanhamento e trabalho junto com o dono. No local, eles aprendem coisas básicas, como sentar.

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O período de adaptação média de um animal na creche é de uma semana. “Em casa, ele leva uma vida de filho mesmo. Aqui tem a oportunidade de ser apenas cachorro”, explica Marina.

Seleção – Por ser um mercado considerado novo, ainda não há regulamentação do serviço de creche para cães. Por isso, na hora de escolher o serviço, os donos devem ter o mesmo cuidado que existe na seleção da escola dos filhos, orienta o Conselho Regional de Medicina Veterinária. Primeiro, procurar saber se o local é supervisionado por um veterinário. “Também é preciso pedir para entrar no local e observar se há cercas para que o animal não fuja, se há produtos de limpeza ou que fazem mal à saúde ao alcance dos pets. É importante ter uma clínica conveniada para atendimento em caso de acidentes”, pontua a assessora técnica de medicina veterinária do conselho, Tatiana Pelúcio.

Não há uma área mínima determinada para abrigar os animais, mas os estabelecimentos não devem deixar o cachorro preso em uma gaiola durante o dia. Segundo Tatiana, isso pode causar sérios problemas de saúde no animal. “Ele pode apresentar mudanças de personalidade que persistirão para sempre. Alguns tendem a ficar agressivos, outros desenvolvem depressão. O ideal é que o cachorro possa estar em uma área aberta e em contato com outros animais”, explica.

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