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Congresso tem ano marcado por projetos irrelevantes e papelão

Uma lista de projetos sem importância, uma CPI que desmoralizou o Parlamento, um senador cassado e declarações de um atrapalhado presidente da Câmara dos Deputados marcaram o ano do Legislativo

Por Marcela Mattos e Laryssa Borges, de Brasília
24 dez 2012, 07h07

Do Congresso Nacional, pode-se esperar qualquer coisa e isso não é novidade. Mas 2012 ficará marcado como um dos anos mais frustrantes do Legislativo brasileiro: uma CPI desmoralizou o Parlamento, um senador foi cassado por envolvimento com uma quadrilha de contraventores, projetos irrelevantes foram apresentados em profusão e a fanfarronice do presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), por pouco não provocou uma crise institucional com o Poder Judiciário. Para finalizar, em tempos de crescimento econômico pífio, o Congresso fechou o ano sem conseguir aprovar o Orçamento da União para 2013.

Instalada para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com parlamentares, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que levava o nome do contraventor foi usada pelo PT para tentar atacar seus adversários e tentar tirar o foco do julgamento do mensalão. Terminou sem relatório e deixando isolado o relator, o petista Odair Cunha (MG). O caso Cachoeira também culminou na cassação do mandato do senador goiano Demóstenes Torres.

CPI do Cachoeira: como desmoronou a farsa petista

No final do ano, nova trapalhada: o presidente da Câmara, Marco Maia, decidiu enfrentar o Supremo Tribunal Federal (STF), depois que a corte decretou a perda de mandato dos mensaleiros com cargo no Legislativo e quando ainda se aventava a possibilidade de prisão imediata para eles. No limite, Maia deixou em aberto a possibilidade de manter os mensaleiros acampados no plenário da Casa, onde a Polícia Federal não poderia alcançá-los. Também no apagar das luzes do ano, o Congresso cogitou montar um insano cronograma para votar mais de 3.000 vetos presidenciais, alguns parados há 12 anos, para conseguir analisar o veto da presidente Dilma Rousseff à nova “Lei de Royalties”. A manobra causou celeuma, paralisou os trabalhos nas últimas sessões do ano e impediu, como efeito colateral, a votação do Orçamento de 2013.

Projetos – Em busca de um novo nicho de mercado, o deputado Onofre Santo Agostini (PSD-SC), por exemplo, apresentou projeto para impor a bares e restaurantes a criação de cardápios com porções reduzidas para pacientes que foram operados para redução de estômago. O parlamentar, claro, tenta fazer justiça: a porção reduzida, diz ele, evita desperdícios – e tudo sai pela metade do preço.

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Outro deputado, desta vez o catarinense Celso Maldaner, quer até restringir o cardápio. Não que ele esteja preocupado com a cirurgia bariátrica dos outros, mas quer que a administração pública seja obrigada a comprar apenas maçãs nacionais. Só em caso de falta do produto nacional o texto poderia ser desrespeitado.

No Congresso brasileiro, existem os que querem acabar até mesmo com os brindes de restaurantes fast food. Sob o argumento de que os brinquedos podem criar uma lógica prejudicial de consumo e incentivar valores distorcidos, o senador Eduardo Amorim (PSC-SE) sugere o fim de mimos em alimentos que não sejam saudáveis, coibindo a alegria das crianças com palhacinhos, heróis de desenho animado e massinhas de modelar.

Aparentemente tão inocentes quanto as lembrancinhas dos sanduíches, se depender da vontade parlamentar, as caixas de papelão também serão extintas. O deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP) pretende proibir em todo o Brasil que supermercados e o comércio em geral entreguem a seus clientes caixas para transportar mercadorias. O argumento é sanitário: Zimbaldi diz que o formato dos recipientes acumula bactérias e insetos e representa um risco à saúde pública.

Para além das preocupações legais com os aspectos mais diversos da alimentação do povo brasileiro, deputados e senadores também parecem querer diminuir, mesmo que de modo enviesado, a carga tributária nacional. Crítica unânime entre a população, os 14 impostos federais incidentes sobre a energia elétrica deveriam ser banidos, segundo a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC). Não para todo o Brasil, claro, mas apenas para o Acre, estado que elegeu a congressista. A justificativa é que a população acreana, essencialmente pobre, tem a conta de energia onerada em 40% só por causa dos impostos.

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Entre os inúmeros projetos de lei que entopem os escaninhos do Congresso, sempre existiu quem pretendesse homenagear políticos, mortos célebres e figuras folclóricas. Depois de o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), defender como deputado a criação do Dia do Saci, o deputado Lincoln Portela (PR-MG), pegando carona no Dia da Mulher, comemorado em 8 de março, quer instituir o Dia da Menina, em 11 de outubro. Uma forma, segundo ele, de dar visibilidade às jovens em situação de vulnerabilidade.

Não para prestar homenagem, mas para garantir que o país nunca se esqueça do célebre julgamento dos mensaleiros no Supremo Tribunal Federal, o senador Mário Couto (PSDB-PA) arriscou propor a criação de uma data nacional: o Dia do Mensalão, a ser celebrado em 12 de novembro. A escolha, diz o paraense, é proposital: foi quando o STF confirmou pena de mais de dez anos de prisão ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. E, se há quem diga que antes de morrer todos devem escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho, a meta estará, em parte, cumprida, se depender do deputado Onofre Santo Agostini (PSD-SC). Ele apresentou à Câmara a inusitada proposta de decretar que a cada criança nascida, uma árvore seja plantada. O documento não prevê exatamente quem deverá realizar o plantio – o estado, a família ou a própria pessoa, nem estipula prazos. Ao menos não restringe o tipo de espécie a ser plantada e facilita a vida do cumpridor da lei ao propor que as mudas sejam disponibilizadas gratuitamente.

Em época de rigidez da Lei Seca – a multa por dirigir embriagado agora beira os dois mil reais – o deputado José Otávio Germano (PP-RS), antevendo que a presidente Dilma Rousseff sancionaria medidas mais duras para quem combina álcool e volante, encontrou uma solução um tanto prática. Nem táxi, nem muito menos o tradicional “amigo da vez”: para evitar surpresas, nada melhor do que ter o próprio bafômetro no carro. Com o equipamento obrigatório nos veículos, segundo a proposta, “em caso de consumo de bebida alcoólica, o próprio condutor poderia verificar se está ou não dentro dos limites da regulamentação”.

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