As fortes chuvas que atingiram São Paulo em janeiro causaram transtorno e prejuízos à cidade. O ano em que isso aconteceu? 1947. A história, como vemos, se repete. Ou quase. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há 63 anos, a capital viveu o janeiro mais chuvoso de que se tem notícia: foram 481,4 milímetros de chuva – ante 480,5 medidos em janeiro de 2010.
As situações mais dramáticas ocorridas em 1947 tiveram início no dia 21 de janeiro. Foram cinco dias de chuva ininterrupta. Na primeira noite, o desmoronamento de um barranco na Rua Pio XII, na Bela Vista, soterrou uma família que dormia em uma casa na Rua Maestro Cardim – a alguns quarteirões da Avenida Paulista. Quatro pessoas morreram.
“O trafego de bondes ficou paralisado durante horas na Avenida do Estado e na Avenida D. Pedro I. Todas as ruas não calçadas de São Paulo (e são tantas) – como aquelas onde o calçamento apresenta defeitos (e são quase todas), transformaram-se em verdadeiros rios de lama, em vias intransitáveis para desespero dos condutores de veículos, dos motorneiros de bondes e de todos aqueles que por elas foram obrigados a transitar”, relatou reportagem do jornal Folha da Noite do dia 22 de janeiro de 1947.
Os temporais provocaram lotação nos ônibus, táxis e bondes – que ainda respondiam pelo transporte público. Os guarda-chuvas viraram artigos de luxo e, segundo relatos, o preço do item disparou no mercado. O mesmo aconteceu com os carros de praça – que passaram a cobrar o dobro ou até o triplo por uma corrida.
A cidade era substancialmente diferente da atual metrópole. Havia, por exemplo, menos vias, e muitas delas não eram asfaltadas. “Grande parte dos loteamentos recém-inaugurados na cidade não tinha estruturas de drenagem, e o acesso a eles era complicado. Uma enchente tornava alguns bairros inacessíveis”, explica Nabil Bonduki, professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).
Outra particularidade da São Paulo de 1947: havia grandes terrenos vazios entre as áreas urbanizadas. “Como a cidade era muito menos ocupada, a chuva não alagava áreas residenciais, mas, sim, as zonas entre os bairros”, conta. “Quando os córregos transbordavam, ilhavam os bairros residenciais.”
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