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Chinaglia: o líder do Executivo no Legislativo

O candidato petista à Presidência da Câmara dos Deputados até diz que sua candidatura não tem vínculo com o Planalto. Mas os fatos mostram o contrário

Por Gabriel Castro, de Brasília
1 fev 2015, 07h21

O petista Arlindo Chinaglia já passou por isso antes: no dia 1º de feveiro de 2007, ele disputou a Presidência da Câmara contra Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e venceu. No segundo turno, teve 261 votos contra 243 do adversário. Oito anos depois, o petista tem novamente ao seu lado o critério da proporcionalidade. A bancada do PT é a maior da Câmara e é natural que ficasse com o comando da Casa. Mas, desta vez, o adversário de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Júlio Delgado (PSB-MG) não é o favorito. A disputa agora é mais difícil do que a de 2007.

Por si só, a escolha pelo nome de Arlindo Chinaglia revela a preocupação do PT e do governo. Num momento de turbulência, a sigla optou pelo nome mais experiente de que dispunha. Parecia a escolha mais segura. Além de ter presidido a Câmara, Chinaglia passou quase três anos na liderança do governo durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff. Deixou o cargo em maio porque se tornou vice-presidente da Câmara após o naufrágio de André Vagas (ex-PT-PR).

Há outro motivo para os petistas apostarem em Chinaglia: ele sempre foi um combatente das causas do partido, mesmo as mais constrangedoras. Em março do ano passado, por exemplo, ele subiu à tribuna para defender de forma incisiva a compra da refinaria de Pasadena. “Se alguém imagina que há amadorismo numa decisão desta, só pode fazê-lo ou por ignorância, ou por má-fé, por por uma combinação de ignorância e má-fé”, disse.

O médico Arlindo Chinaglia nasceu em Serra Azul (SP) e tem 65 anos. Ele chegou à Câmara dos Deputados em 1995, após um mandato como deputado estadual. Antes, presidiu o Sindicato dos Médicos de São Paulo. De lá para cá, reelegeu-se todas as vezes. Foi secretário de Governo de Marta Suplicy (PT) na prefeitura de São Paulo durante um ano (2001 a 2002).

Chinaglia parece ter mudado pouco desde que chegou ao Congresso. Continua sendo um defensor da censura dos meios de comunicação – tradução da expressão “controle social da mídia” inventada pelo PT. Ainda pensa como líder de sindicato e é inflexível quanto a alterações na legislação trabalhista. Ele pertence a um grupo que, ideologicamente, está mais à esquerda do que a média da bancada petista. Não é avesso a negociações, mas raramente cede.

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Em outros aspectos, entretanto, Chinaglia mudou muito desde que o PT era oposição. No governo Fernando Henrique Cardoso, ele sempre esteve na linha de frente da criação de CPIs. Agora, entretanto, foi contra a criação da CPI da Petrobras porque achava as investigações desnecessárias. Continua se opondo à formação de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito para prosseguir os trabalhos na nova legislatura. “Isso é um instrumento da minoria”, justifica.

Em sua trajetória na Câmara, Arlindo Chinaglia acumulou fama de firme e até mesmo grosseiro. “Ele é mal-educado com o baixo clero e com os funcionários. Mas com os poderosos é diferente”, diz um deputado petista sob condição de anonimato.

Durante sua passagem pelo comando da Câmara, Chinaglia notabilizou-se pela defesa intransigente do governo e pelas discussões com colegas. Era rigoroso no controle do tempo e intolerante com aquilo que acreditava serem manobras regimentais. Quando se despediu do posto, pediu desculpas pelo “rigor”.

Um dos que bateram boca com o petista é o deputado Silvio Costa (PSC-PE). Ele, que hoje apoia Chinaglia, vê virtudes no petista: “É evidente que ele tem um temperamento forte. Mas quem não tem defeito? Ele nunca se curvou ao Executivo; negociava com os líderes e tratava bem a oposição”, afirma. Já o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), eleitor de Eduardo Cunha, discorda: “Na época dele, o Congresso era um puxadinho do Executivo. Não podemos ter isso de volta”.

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É fato que Arlindo Chinaglia prioriza a defesa dos interesses do petismo. Na sessão em que a Câmara votou a cassação de André Vargas, ele participou de uma manobra destinada a encerrar os trabalhos e poupar o colega – a estratégia, entretanto, foi infrutífera.

Agora, o deputado paulista tenta voltar ao posto de comando numa situação delicada para o governo e para o PT, que terão a partir deste domingo um Congresso menos amigável do que o do primeiro mandato de Dilma. Em tempos de petrolão, também é essencial mencionar que o presidente da Câmara tem uma influência considerável sobre a criação de CPIs, pedidos de cassação e processos de impeachment.

Para vencer, entretanto, será preciso garantir uma boa quantidade de votos fora da bancada petista, que tem 70 deputados dentre os 513. Por isso, Arlindo Chinaglia tem prometido ampliar a verba de gabinete, construir um novo anexo para abrigar parlamentares e a reforma de imóveis funcionais. Ao mesmo tempo, o candidato tem repetido que não é um candidato do governo. Na reta final da campanha, entretanto, ficou difícil disfarçar: sob orientação da presidente, ministros entraram em campo para convencer suas bancadas a apoiar o petista. Ainda assim, ele larga atrás de Eduardo Cunha. O primeiro objetivo é evitar uma derrota já no primeiro turno, que se tornou mais provável com o esvaziamento da candidatura de Julio Delgado (PSB).

Os candidatos a presidente da Câmara dos Deputados
Os candidatos a presidente da Câmara dos Deputados (VEJA)

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