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Chalita vai ficar com quem?

Tido pela classe política como um puxador de votos, ao estilo Tiririca, quase ex-socialista está de malas prontas para o PMDB

Por André Vargas
30 abr 2011, 14h54

Anabolizado pelo meio milhão de votos que o elegeram deputado federal, o ex-tucano e agora quase ex-socialista Gabriel Chalita (PSB-SP) está de malas prontas para ingressar no PMDB, partido pelo qual pode concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012. O convite, estampado nas páginas dos jornais pelo vice-presidente Michel Temer, atrai o palestrante, comunicador e escritor compulsivo de livros de auto-ajuda (são 54 obras publicadas). Aos 42 anos, o ambicioso Chalita vê a perspectiva de se tornar prefeito da maior cidade do país como antídoto contra algo que o incomoda: a falta de prestígio junto à classe política. Afinal, ele é tido não como mero puxador de votos, uma espécie de Tiririca com verniz intelectual. A segunda mudança de legenda em quatro anos arranha a imagem de bom moço que o deputado insiste em projetar. Entre as lideranças do PSB, por exemplo, a constatação, tardia, é que o deputado sempre se comportou como peemedebista, de olho na máquina eleitoral que o PMDB poderia lhe oferecer. “É um cortesão, sempre foi”, reclamam seus desafetos.

Chalita desabrochou, digamos assim, à sobra da famíla Alckmin. O governador Geraldo Alckmin, que já declarou em diversas oportunidades que “Chalita é inteligente, lê muito”, ainda nutre por ele grande amizade. Mas, para alçar voo solo, o deputado não poderá mais contar com a simpatia irrestrita do governador tucano e sua esposa, Lu, para quem ele escreveu, em 2005, uma açucarada biografia na primeira pessoa.

Foi a primeira-dama, mais ainda que Alckmin, a madrinha de Chalita. De insignificante vereador na interiorana Cachoeira Paulista, ele chegou à Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, pasta que comandou de 2003 a 2007. Acusado de não possuir qualquer projeto para a educação a não ser o de buscar promoção pessoal, o então secretário, se teve algum mérito, foi o de aliviar o clima de confronto que imperava na época. Chalita distribuiu ingressos de teatro ao professorado. E também amansou um pouco o magistério na base da palestra motivacional. De quebra, teve tempo para escrever alguns livros de poesia, educação e filosofia, gravou CD e tentou educar pelo afeto. Isso mesmo. Em vez de planos de aula e metodologias, na visão de Chalita, o que vale mesmo é o amor incondicional do professor pelo aluno.

Nem tudo foram vitórias na passagem dele pela secretaria. Como presidente do Conselho de Secretários de Educação, ele tentou impedir a divulgação dos resultados da Prova Brasil. Foi derrotado pelo governo federal. Quando deixou a pasta, teve suas iniciativas desmontadas por ordem de José Serra, o sucessor de Alckmin. E, pior, seu programa para educação à distância de professores e alunos, o Canal do Saber, motivou denúncias por pagamentos ilegais a um fornecedor. Pouco antes, Chalita havia comprado um duplex, com piano de cauda e tudo, em Higienópolis, um bairro caro de São Paulo. A compra, é claro, foi fruto dos quase dez milhões de livros que ele diz ter vendido.

Vereador mais votado do Brasil em 2008, Chalita teve uma passagem apagada pela Câmara de São Paulo. “Não sou parlamentar briguento”, declarou, pouco antes de assumir. Também manteve programas de rádio e TV na rede Canção Nova, ligada ao movimento da renovação carismática católica, onde fez amizade com os padres Marcelo Rossi e Fábio de Mello. Para o primeiro, escreve prefácios. Com o segundo, já publicou dois livros – Cartas entre amigos, sobre medos contemporâneos e Cartas entre amigos, sobre ganhar e perder.

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“Ele sempre quer estar bem na foto”, alfineta Walter Feldman, tucano histórico com desembarque quase certo no PSD do prefeito Gilberto Kassab. Na campanha, Chalita cortejou Dilma ao mesmo tempo que indicava nomes para o futuro governo Alckmin. E manteve um hábito que cultiva faz algum tempo: telefonar para a escritora Lygia Fagundes Telles, imortal da Academia Brasileira de Letras, condição com a qual Chalita também sonha. Tantas atividades em esferas tão distintas começam a incomodar. “Ele não é esta pureza toda”, diz uma quase ex-amiga. Até na igreja seu bom mocismo transbordante desagrada, apesar da proximidade com os nomes mais populares da comunidade católica.

Os planos de Chalita podem ir para o ralo se o PMDB de Michel Temer resolver fechar negócio com o PT na capital paulista. O ex-presidente Lula não esconde de ninguém que conta com os peemedebistas na chapa com a qual pretende tomar a cidade São Paulo, trampolim para varrer os tucanos do mapa no estado mais poderoso da federação em 2014. O plano B de Chalita, se a candidatura naufragar, é conseguir uma cadeira na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Ele se sentiria confortável ocupando a cadeira de Fernando Haddad, atual ministro da Educação e o preferido de Lula para disputar a sucessão de Kassab. Mas o nome do deputado não é bem digerido pelos petistas, o que torna essa hipótese muito improvável.

No que tange ao plano A, a Prefeitura de São Paulo, é preciso considerar a rejeição, fator importante nas eleições majoritárias e nunca mensurado no caso dele. Chalita vai ficar com quem? Ele optou pelo silêncio obsequioso. Diz que neste momento da sua vida política só fala de livros, mas recusou-se a conversar sobre esse e qualquer outro assunto com o site de VEJA. Ao que tudo indica, entre os “medos contemporâneos” do ex-tucano, quase ex-socialista e virtual peemedebista está o contato com a imprensa.

Pílulas de chalitês

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É tudo muito bonito, bem intencionado, meigo até, mas a literatura de auto-ajuda neocarismática de Gabriel Chalita é tão simples, que nada propõe. Seus livros são um fim em si, auto-ajudando só o projeto político do autor. Mas não dá para negar, tem funcionado muito bem entre leitores menos exigentes. Pior são suas as obras de psicologia e educação, que de tão desprovidas de método científico, não deveriam ser catalogadas como tais. São muitas páginas para pouco conteúdo. Se há mérito, estaria na pesquisa editorial, recheada com centenas de citações, de Flaubert a Vinícius de Moraes – além da Bíblia. Trabalho de uma azeitada equipe de almanaquistas que se mantém nas sombras. Em busca de indícios de originalidade, o site da Veja separou trechos de cinco obras em que o pensamento e o estilo do escritor Gabriel Chalita tentam brotar das páginas. Confira o chalitês.

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1. Cartas entre amigos – Sobre ganhar e perder

Em co-autoria com o padre Fábio de Melo “O descuido com a nossa casa-mãe tem gerado abalos constantes. Terremotos, tempestades, tufões, maremotos. As estações resolveram se misturar. A imprevisibilidade do clima poderia nos ensinar a escolher o que fazer, com antevisão.” Pág. 37

2. PHN – 12 Histórias de amor

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“Tudo é uma questão de espaço, de formação. Não se pode separar os que sabem dos que não sabem. Porque os que não sabem, saberão” Pág. 12

3. Seis lições de solidariedade

Em co-autoria com Lu Alckmin “(…) Geraldo, o solteiro mais cobiçado de Pindamonhangaba, estudante de medicina, inteligente, bonito, de boa família. Eu me sentia tal qual Cinderela nos preparativos para o grande baile. (…) Era preciso caprichar para conquistar o ‘príncipe'” Pág. 83

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4. Educação: a solução está no afeto

“O grande mestre [Cristo] não precisava registrar matérias, não se desesperava com o conteúdo a ser ministrado nem com a forma de avaliação…” Pág. 165

5. Histórias de professores que ninguém contou

“Que Carlos Drummond de Andrade – estrela que nos ilumina – me permita esta licença poética: ‘Havia amor no meio do caminho'”

Pág. 11

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