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Causas naturais e políticas das inundações no Brasil

Chuvas causaram 57 mortos, 69 desaparecidos e 300 mil desabrigados nos estados de Alagoas e Pernambuco

Por Le Monde
1 jul 2010, 15h37

Este ano, o governo federal desbloqueou apenas uma pequena parte (14%) do orçamento destinado à prevenção de catástrofes

As mortíferas inundações que afetaram o nordeste do Brasil de 20 a 23 de junho colocaram em evidência as graves falhas governamentais em matéria de prevenção e resposta às catástrofes naturais. As chuvas torrenciais causaram, segundo cifras ainda preliminares, 57 mortos, 69 desaparecidos e 300 mil desabrigados nos estados de Alagoas e Pernambuco. Destruíram mais de 30 mil casas, 140 pontes e milhares de quilômetros de estradas. O saldo material e humano teria sido muito menor se a população estivesse preparada para enfrentar as inclemências climáticas que ocorrem com bastante frequência nesta região equatorial, ainda que este ano tenham adquirido uma dimensão excepcional.

Como todos os anos nessa temporada, os ventos alísios vindos do Atlântico empurram para terra firme nuvens de tormenta que desembocam na zona costeira. Mas agora ocorreram dois fatores térmicos que ampliaram o fenômeno.

De um lado, a água do oceano está mais quente do que de costume, quase um grau e meio maior. De outro, as massas de ar frio procedentes da Patagônia foram muito mais ao norte do que o habitual. A condição, diga-se de passagem, nada tem a ver com o fenômeno La Niña, o esfriamento das águas do Oceano Pacífico. Em três dias, caiu tanta água como em um mês de um ano normal.

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O estado de Pernambuco não dispõe de nenhum satélite de meteorologia que forneça dados precisos com três a cinco dias de antecipação. Os serviços oficiais não recebem nada além de dados de satélite, muito imprecisos. No entanto, a imprensa afirma que a compra de um radar desse tipo não representaria mais que 5% do custo do estádio de futebol previsto para a Copa do Mundo de 2014 no estado. Em muitas pequenas cidades, a aproximação do desastre é anunciada por meio dos sinos das igrejas e de alto-falantes de veículos municipais.

O estado de Alagoas tem um radar, mas muitas cidades, especialmente as mais vulneráveis, não contam com defesa civil, com redes de alerta e de ajuda para a população em perigo. Dessa forma, dezenas de milhares de habitantes não puderam ser socorridos a tempo. De maneira mais geral, os especialistas advogam uma reorganização da defesa civil, muito reativa e de pouco papel preventivo.

Os dois estados, além disso, são vítimas de manobras políticas. Este ano, o governo federal desbloqueou apenas uma pequena parte (14%) do orçamento destinado à prevenção de catástrofes. E a forma com que distribuiu esses fundos parece muito discutível.

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Segundo a organização não governamental Contas Abertas, o estado da Bahia, menos exposto que seus dois vizinhos, recebeu 37% do orçamento federal, enquanto que Pernambuco recebeu apenas 9% e Alagoas, 0,3%.Esse orçamento era manejado por Geddel Vieira Lima, até pouco tempo ministro de Integração Nacional e atualmente candidato ao governo da Bahia. E, ao que parece, também especialista em demagogia pré-eleitoral.

A prevenção insuficiente é menos justificável quando se considera que um terço das cidades devastadas este ano já haviam sido afetadas pelo menos uma vez desde 2003. O aquecimento climático na zona tropical responde pela multiplicação de episódios deste gênero: no nordeste brasileiro, 2010 se anuncia como o ano mais quente desde o início dos registros meteorológicos, em 1880.

A falta de planejamento acompanha e agrava outros erros, tanto administrativos como ambientais: se construiu muitas casas nas margens de cursos d’água, os habitantes arrancam a vegetação que poderia protegê-los das inundações, a maioria dos municípios não tem nenhum plano de ocupação do solo.

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