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Os carnavais da terra do Carnaval

Por Da Redação
19 fev 2009, 08h28

Não é à toa que o Brasil é conhecido internacionalmente como a terra do Carnaval. Mais do que a ilustre festa carioca, que atrai celebridades do mundo todo, o país ainda dispõe de diferentes festividades para foliões de qualquer classe social, além de ritmos característicos de cada região. De norte a sul, o turista brasileiro ou estrangeiro tem um leque de opções que vão desde frevo, marchinhas, samba, axé até o maracatu. A diversidade carnavalesca do Brasil ficou registrada ao longo dos anos nas páginas de VEJA.

O assunto foi tratado pela primeira vez na capa de VEJA em 19 de fevereiro de 1969. A matéria retratou como cada região do país comemorava o feriado. “Une ricos e pobres no frevo de Pernambuco, separa-os em Curitiba, onde agora se toma o cuidado de eleger rainhas brancas, porque vários clubes barraram na portaria a rainha mulata no ano passado”, dizia a revista.

A reportagem contou ainda que o carnaval de Minas Gerais é recatado, se assemelhando em “prestígio e renome aos retiros espirituais”. Lá, o juiz proibiu que as mulheres usassem mini-saia e mini-blusa ao mesmo tempo, elas teriam que escolher por uma das duas peças. Enquanto os mineiros eram mais reservados, o carnaval de Porto Alegre trazia um desfile de travestis com “rapazes de boas famílias trajando apenas biquínis sumários”.

Na edição seguinte, em 26 de fevereiro, a revista faz uma retrospectiva de como cada cidade comemorou o Carnaval, destacando os momentos memoráveis da festa. Um deles foi vivido pela cantora Gal Costa, que perdeu um dos sapatos e saiu descalça correndo atrás de um trio elétrico. A reportagem contou também a triste história do garoto recifense Antônio. Ele foi pego de surpresa quando os foliões jogaram água, talco e goma sobre os saquinhos de amendoim que ele fizera para vender na cidade.

Em 3 de março de 1971, a revista mostra como os paulistanos encaram o Carnaval em São Paulo. “O paulistano samba perpetuamente para a frente; seus pés nunca se voltam para a direção contrária ao corpo; sequer para os lados. Em suma, o paulistano samba, mas não ginga”. A reportagem afirma que tal comportamento se deve à obrigação de sambar imposta pelo calendário, “como se cumprisse o dever de se divertir nas horas de lazer”.

A edição de 23 de fevereiro de 1972 trouxe uma reportagem sobre o Carnaval carioca e o baiano, discutindo suas principais diferenças. Por conta da popularização do Carnaval no Rio, os preços aumentaram de uma maneira exorbitante e o número de pessoas clandestinas nos desfiles era cada vez maior. A matéria atentou para alegria e agitação do carnaval na Bahia, que tem como seu personagem principal o Trio Elétrico. A animação e a superlotação, porém, resultavam em um certo descontrole na multidão, que chegou a pisotear um menino e destruir árvores após o anúncio do fim do bloco.

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“Não existe na Bahia a preocupação da exibição que uma certa comercialização acabou impondo às comemorações na Guanabara”, comparou a revista. VEJA afirmou que uma das diferenças básicas entre os dois Carnavais é que em terra baiana participa quem quiser, sem a necessidade de cordões de isolamento nas ruas.

Não demorou muito para que os trios elétricos se tornassem um negócio lucrativo e uma grande atração entre os brasileiros. “Com o sucesso obtido nos últimos quinze anos, os trios elétricos deixaram de ter sua vida restrita aos dias de Carnaval. Hoje, atuam em inaugurações, aniversários de cidades, comemorações, shows comuns e principalmente nas micaretas, festas de carnaval do interior que tiram seu nome do francês mi-carême”, contava a reportagem da capa de 24 de fevereiro de 1982. A revista ainda fez um infográfico mostrando como era o interior do veículo.

A revista de 14 de março de 1984 contou sobre a “invasão gay” no Rio de Janeiro. Segundo a reportagem, com o apoio de empresários e dos próprios foliões o Carnaval carioca, os homossexuais puderam se libertar em cerca de 20 bailes exclusivos. A data também atraiu o público internacional. “Dos Estados Unidos, vieram 230 gays num voo charter, que os entregou para tudo à porta da festa. De Paris, forte reduto de travestis brasileiros, não partiu nenhum charter, mas vieram mais de cem dos duzentos rapazes que, vestidos com roupas femininas, trafegavam pelo Bois Boulogne conversando entre si em português.”

Quatro anos depois, em 24 de fevereiro, VEJA mostrou que Salvador havia desenvolvido um novo tipo de carnaval, em que o sentimento de negritude tornou-se um tempero tão forte quanto a alegria. “Na base do carnaval está a música que o anima. Foram banidos os frevos executados com guitarras, que formavam as bases musicais dos trios elétricos. Em seu lugar, entrou uma exuberante mistura de ritmos importados do Caribe, como o reggae, com a percussão de origem africana, antes cultivadas apenas por grupos de raízes folclóricas. Ou ainda excentricidades – como o bolero.”

Após a tentativa – sem sucesso – da igreja Católica tentar barrar o desfile de três carros alegóricos que faziam menções religiosas no Rio de Janeiro, em 1989, é a vez do poder público se mobilizar para censurar alguns atos supostamente inconvenientes. Segundo reportagem publicada por VEJA em 3 de fevereiro de 1993, os carnavais do Rio de Janeiro, Goiânia e Olinda estavam sendo recriminados. No Rio, o problema foi uma alegoria que mostra um travesti sorrindo e um trombadinha assaltando um turista. Já em Goiânia, a restrição foi feita por conta de uma decoração “muito ousada”, criada por um artista plástico. No caso de Olinda, a censura foi musical. Sob alegação de proteger a cultura local, foi criada uma lei proibindo o tráfego de trios elétricos e obrigando todas as orquestras a destinaram 60% de seu repertório para os frevos.

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O Brasil é pequeno demais para ter “dois Carnavais”. Essa pareceu a opinião do então prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, ao declarar, quatro dias antes do Carnaval, que o turista que fosse para a Bahia teria “100% de chance de ser assaltado e uma grande possibilidade de ser violentado”. Em resposta, a prefeita de Salvador, Lídice da Mata, provocou ao afirmar que o Carnaval baiano “não é para inglês ver”. A briga turística entre os dois estados foi destacada nas páginas de VEJA de 24 de fevereiro de 1993, que trouxe uma reportagem especial sobre como funciona a festa mais famosa da Bahia.

Em 5 de fevereiro de 1997, a revista registrou os números ligados à folia e a expectativa do governo da Bahia de arrecadar mais de 100 milhões de reais com o carnaval daquele ano. “O Carnaval deste ano deve bater todos os recordes em Salvador. São esperados mais de 100.000 turistas de outros estados ou do exterior, que se juntarão à tradicional multidão baiana. A rede hoteleira está com 100% de sua capacidade ocupada até meados de fevereiro. As distribuidoras de cerveja vão vender 5 milhões de litros entre a noite de sexta-feira e a Quarta-Feira de Cinzas. Para divulgar sua imagem na festa baiana, empresas como a Brahma e a Kodak toparam pagar mais de 200.000 reais por cota de patrocínio em trios elétricos. A Antarctica comprou um pacote pelo qual terá direito a estampar sua logomarca em dezessete carros de som por 870.000 reais.”

No auge do sucesso das músicas maliciosas com danças sensuais, VEJA de 12 de fevereiro do mesmo ano discute a “sexo-música” – o tipo mais pedido nas festas de carnaval. “A trilha sonora dos bailes, numa favela em Salvador ou num salão iluminado no bairro paulistano dos Jardins, incluirá as músicas Segura o Tchan e Dança do Bumbum, e sucessos de outros grupos, como Dança da Garrafa e Dança do Maxixe, da Companhia do Pagode, e Dança do Pirulito, da nova banda baiana Cafuné. Ricos e pobres, homens e mulheres, velhos e crianças estarão rebolando ao som desse estilo musical nos quatro dias de Carnaval.”

Um ano depois de informar a ascensão das músicas apimentadas, a revista trouxe em 25 de fevereiro uma matéria sobre a decadência dos sambas-enredo. “A principal razão da derrocada dos sambas-enredo é que nunca a produção das escolas esteve tão ruim. As letras estão cada vez mais ininteligíveis e cheias de asneiras. Não se exige de um samba-enredo a precisão de um livro de História, mas sugerir que o Brasil foi descoberto depois da Revolução Francesa é demais.”

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