Carandiru: começa fase de debates entre acusação e defesa
Promotoria desconstruiu argumentos da polícia, mas mesmo assim pediu a absolvição de três réus; julgamento pode terminar hoje
Começou neste sábado o quinto dia do julgamento de 26 policiais que respondem pela operação que resultou na morte de 111 detentos no Carandiru em 1992. O júri se encontra na fase de debates entre a acusação e a defesa. Todas as testemunhas já foram ouvidas. A expectativa é que os réus sejam declarados culpados ou inocentes ainda neste sábado
Pela manhã, o promotor Fernando Pereira fez uma apresentação com suas teses sobre o caso. Em seu pronunciamento, o representante da acusação criticou duas falhas da investigação: o sumiço das balas retiradas dos corpos das vítimas e a adulteração da cena do crime pelos policiais, que moveram os corpos. Com isso, o trabalho da perícia foi dificultado.
Pereira tentou rebater os argumentos da defesa. Segundo a polícia, não houve disparos de armas de fogo durante o massacre, mas a perícia revelou vestígios de rajadas de metralhadora nas paredes da prisão. Ele também afirmou que 515 disparos foram feitos na invasão – cerca de cinco projéteis para cada morto.
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Em sua sustentação, o promotor pediu aos jurados a absolvição de três réus – Maurício Marchese Rodrigues, Eduardo Espósito e Roberto Alberto da Silva. Para ele, apesar do julgamento ser coletivo, é preciso analisar os casos separadamente.
Sobre armas apreendidas pela polícia dentro do presídio, Pereira afirmou que nenhuma delas pertencia aos presos. Ele defendeu que o armamento foi plantado pelos próprios oficiais.
Pelas regras do julgamento, promotores e advogados têm 3 horas cada para expor seus pontos de vista sobre o caso. A acusação poderá pedir a réplica – neste caso, a defesa tem direito à tréplica. Caso sejam declarados culpados por pelo menos 4 dos 7 jurados, caberá ao juiz determinar as penas de cada um dos acusados.
Nos quatro primeiros dias do júri, foram ouvidos os sobreviventes da ação, réus e testemunhas. No segundo dia, o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho, que ocupava o cargo na época do massacre, negou que tenha dado a ordem para a Polícia Militar entrar no presídio, mas classificou a ação policial como “necessária e legítima”.