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Campos e Marina enfrentam palanques confusos nos Estados

Além de administrar a resistência interna e a incompatibilidade entre militantes do PSB e da Rede, candidatos precisaram ceder a líderes regionais e abraçaram a “velha política”, sempre criticada nos discursos da chapa

Por Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
28 jun 2014, 18h07

A promessa era ousada. No dia 5 de outubro, a ex-senadora Marina Silva e o então governador de Pernambuco Eduardo Campos prometeram quebrar a polarização partidária que dominou as últimas eleições presidenciais no Brasil. “Estamos quebrando uma falsa polarização da política”, disse Campos. Era dia de comemorar a surpreendente filiação de Marina ao PSB. Nove meses depois, com a oficialização da candidatura da dupla neste sábado, a promessa de terceira via enfrenta, no mundo real da política, as dificuldades do processo eleitoral no país, com necessidade de composição de alianças nem sempre coerentes em favor da criação de espaços em palanques regionais. O partido chega ao começo oficial da campanha, no dia 5 de julho, com apenas 11 candidatos a governador.

A “nova política” sucumbiu a velhos políticos. O PSB apoia coligações majoritárias lideradas pelo PMDB, um alvo constante de críticas de fisiologismo, em seis estados. Candidaturas a governos estaduais do PT, de quem Campos buscou se divorciar no governo federal, são apoiadas em dois estados. O PSDB, outro adversário na corrida presidencial, conseguiu apoio dos socialistas para pretendentes ao governo em quatro estados. Solidariedade, PP, PDT e PCdoB também atraíram apoio dos pessebistas para suas respectivas candidaturas próprias em quatro estados.

Essa esquizofrênica nova política tornou-se o principal ponto de crítica de adversários e de dissidentes do partido. No lançamento da sua candidatura, estranhamente, Campos criticou o “fisiologismo” do PSDB, porque, na última semana, o presidenciável tucano Aécio Neves provocou o governo federal ao dizer que partidos aliados deviam “sugar mais” antes de abandonar o PT e aderir à campanha tucana. Em diversas ocasiões, Marina e o ex-governador defenderam as confusas alianças regionais, sob argumento de que possuem motivações particulares. Em alguns dos Estados sem candidatos a governador, como o Rio de Janeiro e São Paulo, havia quem defendesse o lançamento de um correligionário socialista. Ainda assim, o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, critica justamente o PMDB, o alvo favorito para apontar alianças fisiológicas, com o argumento de que no PSB os dirigentes regionais não fazem o que querem.

“Nosso partido não é o PMDB em que cada um faz o que quer nos seus estados”, afirmou Siqueira.

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A hora dos vices, a moeda de troca eleitoral

Dois dias antes de seu ingresso no PSB, no dia em que a Justiça Eleitoral barrou a criação da Rede, Marina se justificou e afirmou estar empenhada na promessa de trabalhar no partido pelos interesses em comum com seu grupo político. Mas, desde então, sobraram desentendimentos entre os marineiros e caciques pessebistas.

Em contrapartida, pré-candidatos da Rede sofreram boicote em redutos socialistas. O ambientalista Apolo Heringer tentou concorrer ao governo de Minas Gerais, mas desistiu e chamou as prévias partidárias de “cartas marcadas”. O partido ficou perto de apoiar o candidato tucano Pimenta da Veiga, mas decidiu lançar o ex-prefeito Tarcísio Delgado, pai do deputado federal Júlio Delgado.

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No Sudeste, a campanha nas ruas de Campos depende, sobretudo, dos principais adversários na corrida presidencial. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o PSB vai apoiar a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), com o deputado federal Márcio França (PSB) de vice. A escolha foi criticada por Marina até o último momento e ela promete ficar fora do palanque tucano no estado. No Rio, terceiro maior colégio eleitoral, a candidatura do deputado federal Miro Teixeira (Pros) naufragou e o PSB vai apoiar a coligação liderada pelo PT, que lançou Lindbergh Farias ao governo.

Para cientistas políticos, a falta de palanques próprios em estados tão populosos vai atrapalhar. “Campos precisa de gente fazendo campanha junto com ele nos estados. Não dá para fazer campanha sem ter um lugar-tenente em cada região, para montar a estrutura para chegar ao eleitor. Não é possível fazer isso só com a propaganda na televisão”, afirmou o cientista político Fernando Limongi, professor da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

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Divisão – Não bastasse a aliança com os chamados velhos políticos, o PSB ainda vai dividido para a campanha nos estados. No Paraná, a legenda apoia a reeleição do governador Beto Richa (PSDB), mas o grupo de Marina prometeu se empenhar na candidatura da deputada federal Rosane Ferreira (PV).

A falta de candidaturas próprias nos estados motivou protestos de dissidentes. O deputado federal Alfredo Sirkis (PSB), aliado de Marina, desistiu de disputar a reeleição à Câmara dos Deputados depois da aliança do partido com o PT no Rio. Ele tentou ser candidato ao Palácio Guanabara, mas foi preterido. Na convenção estadual, manteve a posição de que fosse lançado qualquer candidato da agremiação, mas foi novamente voto vencido.

Para a historiadora Marly Motta, professora da Fundação Getúlio Vargas, na falta de candidaturas da legenda, o PSB deveria ter fechado alianças mais fortes para enfrentar oligarquias regionais. No Rio e em São Paulo, acredita ela, é duvidoso o empenho de tucanos e petistas na campanha de Campos e Marina. “Campos teria de ter alianças mais fortes. Ele está muito limitado ao eleitorado de Pernambuco”, afirmou a historiadora.

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