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Na Cracolândia, viciados rejeitam programa para não abandonar seus cães

Usuários de crack se recusam a aderir ao programa da prefeitura de São Paulo por não poder carregar seus cães para os hotéis conveniados no Centro

Por Eduardo Gonçalves, com fotos de Ivan Pacheco
19 jan 2014, 06h36

Nesta semana, a prefeitura de São Paulo lançou um novo programa para a região da Cracolândia, desta vez com uma preocupação que visivelmente está além do tratamento aos usuários de crack: batizada de operação Braços Abertos, a ação foi destinada a desmontar a “favelinha” erguida nas ruas do Centro da capital paulista. Para receber quinze reais por dia e uma vaga em um dos quatro hotéis conveniados, os viciados devem trabalhar quatro horas diárias em serviços de varrição e frequentar cursos profissionalizantes, além de estar vinculado a algum tratamento. Logo nos primeiros dias, porém, a administração municipal se deparou com uma questão inesperada: parte dos usuários não aceitou aderir ao programa porque os hotéis vetam a entrada dos seus cachorros.

O catador Cornélio Alves, de 67 anos, abriu mão de dormir em um quarto de hotel para não abandonar seu companheiro Cabeção. Acompanhado do cão, ele caminha pelas ruas da Cracolândia empurrando uma carroça com papelões e placas de metal. “Não vou para nenhum hotel porque não posso deixá-lo”. Há dezessete anos na Cracolância, Alves já teve oito cachorros – todos encontrados na rua. “A gente divide a comida. Já passei o Natal três vezes com ele. Só eu e ele comendo peru na calçada”, disse.

Orlando Paulo Barreto, de 35 anos, também não quer sair das ruas por causa do vira-latas Mário, que percorre a Cracolândia em um carrinho de supermercado. Nesta sexta-feira, ele foi até um dos centros de apoio montados pela prefeitura no local para dar banho no cão. “Ele é como um filho para mim”, diz.

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Apesar da entrada restrita, alguns animais acabaram entrando nos hotéis atrás dos donos – e logo foram expulsos pelos gerentes dos estabelecimentos. É o caso da fêmea Mel, que dorme na porta do hotel à espera do dono, Fabio Pereira Silva, de 32 anos. “Às vezes, venho aqui [do lado de fora] para para ver como ela está”, disse. Ele é um dos cadastrados no programa. Com o uniforme azul distribuído para quem aderiu ao programa, Silva sai pela rua munido de vassoura e carrinho de lixo. Mel vai no seu encalço. “Ela sempre me acompanha.”

Menos comportado do que Mel está o macho Sol, que uiva à noite sem a dona, Sanderli Silveira Leite, de 32 anos, abrigada em um dos hotéis. “Ele se acostumou a dormir comigo no barraco”, diz. Sanderli era uma das moradoras da “favelinha” desmontada nesta semana. “Gostaria que ele ficasse comigo no quarto. Já conversei com o dono do hotel, mas ele não deixa.”

Mel, Sol e cerca de quarenta cachorros que circulam pela Cracolândia são alimentados pela dona de um salão de beleza e de uma pensão, Maria Benedita das Graças, de 47 anos. “Compro seis sacos de dezoito quilos a cada duas semanas”, disse. “Se eu não cuido, eles ficam abandonados. Estou tentando doá-los para abrigos.”

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Exceções – A prefeitura paulistana não confirma, mas alguns dos adeptos do programa afirmaram que a administração municipal conseguiu algumas vagas em uma pensão na região que aceitou a presença dos cães. “Se não tivesse vaga para eles [cachorros], não aceitaria fazer parte do programa. Eles são como meus filhos”, disse Vandeída Benedita da Silva, de 31 anos, dona de Sansão e Preta.

Ao todo, 111 quartos foram oferecidos para cerca de 300 viciados. Nenhum dos quatro hotéis permite a entrada de animais. A prefeitura vai gastar cerca de 1.000 reais por cada usuário cadastrado.

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