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Brasil precisa reinventar seu planejamento de segurança para a Copa de 2014

Centros de controle em Brasília e nas cidades-sede serão conectados à Interpol. Desafio é de estabelecer diálogo e cultura anti-terrorismo entre as polícias

Por Da Redação 7 Maio 2012, 11h26

“Nosso principal desafio é a integração entendida de uma forma ampla: integração da atuação dos órgãos federais, estaduais e municipais que têm relação com o planejamento de segurança. Temos que integrar as polícias federais e estaduais. E fazer o mesmo com sistemas policiais dos estados-sede com sistemas federais, e destes com as bases de dados da Interpol”, explica o secretário extraordinário de segurança para grandes eventos, Valdinho Jacinto Caetano

A decisão das autoridades encarregadas da segurança dos Jogos Olímpicos de Londres, que anunciaram esta semana que vão instalar mísseis no topo de seis prédios da cidade, é radical. Mas mostra ao Brasil o tamanho do desafio de garantir tranquilidade a uma competição com as dimensões de uma Olimpíada. Apesar das diferenças óbvias entre as duas cidades, no que se refere a criminalidade e necessidades de policiamento, a preocupação dos ingleses norteia uma reforma profunda na forma como o Brasil pensa e executa seus planos de segurança. Antes mesmo de 2016, um desafio igualmente grandioso se apresenta para policiais e gestores brasileiros: em 2014, grandes deslocamentos de público, atletas e autoridades vão ocorrer quase simultaneamente em 12 capitais, de Porto Alegre a Manaus. A palavra-chave, no momento, é “integração”. O desafio da vez é fazer com que órgãos, sistemas e autoridades falem a mesma língua, para a maior operação de segurança já realizada no país.

Apesar de não se cogitar qualquer coisa parecida com os mísseis dos jogos de Londres, a transformação de cenário por aqui também será radical. A imagem de autoridades americanas reunidas diante de telões, decidindo e deslocando equipes de policiais e bombeiros para conter uma crise é bastante conhecida, graças ao cinema. As cenas dos filmes de ficção, no entanto, não são muito diferentes do que hoje em dia já ocorre em cidades como Nova York, que conseguiram dar um passo além quando o assunto é gestão de segurança e comunicação entre as forças policiais. “Nosso principal desafio é a integração entendida de uma forma ampla, de forma a conectar e utilizar da melhor forma os órgãos federais, estaduais e municipais no planejamento de segurança. Temos que integrar as polícias federais e estaduais. E fazer o mesmo com sistemas policiais dos estados-sede com sistemas federais, e destes com as bases de dados da Interpol”, explica o secretário extraordinário de segurança para grandes eventos, Valdinho Jacinto Caetano, que é delegado da Polícia Federal (PF).

O comando da segurança da Copa será em Brasília, onde funcionará o centro de controle central do país. Um sistema de reserva ficará montado no Rio de Janeiro por precaução. E em cada estado que vai receber partidas da competição haverá um centro independente, conectado à Interpol, e pelo menos dois centros móveis para serem deslocados de acordo com a estratégia para cada local. Rio, São Paulo e Minas terão três centros móveis cada. A meta da secretaria é fazer com que todos os centros fixos estejam em funcionamento para a Copa das Confederações, em 2013. “Os centros de integração são parte de um plano de atuação que contempla três frentes: enfrentamento a ameaças externas, ações em portos aeroportos e fronteiras, e segurança e estabilidade interna”, diz Caetano.

Os estádios da Copa também terão seus centros móveis, ligados diretamente às unidades de comando e controle governamentais. O objetivo do ministério é transformar as sedes das partidas em um Big Brother, vigiando 24 horas cada atitude suspeita e antevendo acidentes possíveis. O sistema usa câmeras que mostram o que acontece nos pontos escolhidos da cidade. “Usamos como referência países que realizaram grandes eventos recentemente, como Alemanha, África do Sul, Estados Unidos, e também países que estão perto de receber grandes eventos, como Londres”, conta o secretário.

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Rio+20 – Em junho deste ano, o Brasil verá, pela primeira vez, uma ação que prevê, entre outras ameaças, os ataques virtuais, capazes de provocar um colapso nos sistemas de informação que gerenciam de sinais de trânsito à rede de telefonia. Na Rio+20, diferentemente do que ocorreu na Eco-92, a preocupação maior não será com os morros, mas com pontos como depósitos de água, subestações de energia e instalações de telecomunicações.

LEIA TAMBÉM: A segurança da Rio+20: o inimigo agora é outro

Nova York – Nova York é o exemplo de integração ideal, quando o assunto é segurança. No caso de um acidente, como um incêndio ou uma ocorrência policial, é possível detectar as viaturas mais próximas para fazer o atendimento, isolar a área, avisar aos estabelecimentos do entorno – como escolas, hotéis e hospitais -, acompanhar a chegada dos policiais ou bombeiros e dar ordens de ação. A Cassidian, empresa do Grupo EADS, foi a responsável por desenvolver a tecnologia do centro de comando e controle de Nova York. Ela elabora um estudo para nove cidades e estados brasileiros que já sinalizaram interesse na tecnologia. “Não existem soluções de prateleira. É preciso que seja feita uma imersão total na necessidade de cada lugar”, explica o gerente de marketing e operações comerciais da Cassidian, Diego Insignares.

Na cidade norte-americana, há 1.200 postos de atendimento – todos em locais confidenciais – conectados ao centro. Se um telefonema com uma denúncia de ameaça terrorista ou uma batida de carro chega ao posto – uma espécie do serviço 190 brasileiro -, o atendente direciona policiamento e aciona as autoridades. As prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo já quiseram conhecer o centro de Nova York de perto, mas não conseguiram. Tudo é sigiloso. Até quem cuida da manutenção dos equipamentos tem que assinar termos de confidencialidade com o FBI.

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A secretaria extraordinária de segurança para grandes eventos tem um orçamento de 714 milhões de reais para este ano. O total chega a 1,17 bilhão. Estão incluídos gastos com equipamentos para os centros de comando e controle e instalações de câmeras em helicópteros para enviar imagens das cidades, entre outras tecnologias. “Todas as referências de ponta eficientes para o sistema nós implantaremos. Serão adquiridos, por exemplo, computadores, sistemas de computador, equipamentos de videomonitoramento, scanners corporais (para aeroportos) e muitos outros”, afirma o secretário.

Durante a feira Latin American Aerospace and Defence (LAAD), que apresentou novidades nas áreas de equipamentos e tecnologias para a segurança pública e corporativa entre os dias 10 e 12 de abril, no Rio de Janeiro, foi apresentado um robô alemão capaz de desarmar bombas sem colocar em risco os operadores. O equipamento está na lista de compras do Brasil.

A integração entre diferentes instâncias de decisão e forças policiais permitiu, em Londres, no dia 27 de abril, uma mobilização rápida diante de uma ameaça de bomba. A sede dos Jogos Olímpicos de 2012 precisou enfrentar o pesadelo de qualquer cidade às vésperas de uma grande reunião de público. Para os ingleses, contou a experiência nesse tipo de cenário – e o caso se revelou um ato isolado, de um homem que não conseguia a habilitação para transporte de carga. Durante os jogos, Londres vai mobilizar 25 mil homens e, como manda o figurino, itens de tecnologia de ponta para evitar surpresas desse tipo. No Rio, além do desafio de correr atrás da tecnologia – como sistemas de monitoramento mais modernos -, há a necessidade de formar uma cultura de segurança que vai além do policiamento das ruas.

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