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Beltrame recua e desiste de tirar fuzis das UPPs

Secretário de Segurança do Rio anunciou na Alerj que armas de grosso calibre seriam substituídas por carabinas ponto 40, mas após oficiais ameaçarem entregar os comandos das unidades, voltou atrás

Por Leslie Leitão 11 dez 2015, 20h48

Durante seu depoimento à Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa (Alerj), o secretário José Mariano Beltrame anunciou a substituição dos fuzis utilizados por policiais militares das Unidades de Polícia Pacificadora por 1 000 carabinas .40 adquiridas pelo Estado. Ele justificou a medida como uma tentativa de ‘evitar um cenário de guerra’ e alegou que as novas armas causariam um estrago menor em situações de confronto. “Nós vamos tirar os fuzis de grande energia, de grande impacto, das UPPs. Na terça-feira (15), estão chegando aqui no Rio de Janeiro 1 000 carabinas calibre 40. São menores, com uma boa capacidade de tiro e foram aprovadas por uma comissão.” O discurso, revelado pelo site de Veja, causou um efeito desalentador na tropa, justamente na semana seguinte às mortes de três soldados emboscados por traficantes na Favela do Jacarezinho. Nos corredores do Quartel General da PM, oficiais que comandam essas unidades ameaçaram entregar seus cargos. Vinte e quatro horas depois, através de sua assessoria de comunicação, Beltrame voltou atrás da medida.

Em uma nota oficial curta e pouco esclarecedora, o secretário desmentiu o que havia afirmado aos deputados: “Não há previsão de retirada dos demais armamentos à disposição dos policiais”. A nota fria tem um tom bem diferente daquele usado por Beltrame no depoimento prestado aos deputados Martha Rocha (PSD), Coronel Jairo (PMDB), Paulo Ramos (PSOL) e Flávio Bolsonaro (PP). A mudança de posição, na verdade, contraria todo o discurso adotado pelo secretário. À comissão, ele reiterou a importância da medida que estava tomando: “Quem tem que usar fuzil são as forças de intervenção (Bope e Choque), que estão lá agora no Jacaré. Policial de UPP não tem que sustentar tiro. Nossa ideia é não colocar o policial de UPP em confronto”, afirmou.

Para responder a um questionamento de Bolsonaro, que usou o argumento de que os policiais poderiam ficar ainda mais vulneráveis sem os fuzis, Beltrame foi além: “Nós perdemos três policiais agora, todos com tiros de pistola pelas costas. O fuzil vai fazer diferença?”, questionou, sem ser contestado pelos deputados. Portanto, o recuo nessa medida de retirar as armas longas tem uma explicação óbvia, que ficou nítida pela reação nas redes sociais. A fúria foi tanta que policiais passaram a replicar memes em grupos de Whatsapp, como a foto de uma garrucha velha com a frase: ‘Armamento da UPP’. Um major da ativa, Elitusalém Gomes Freitas, chegou a publicar dois posts ironizando a decisão do secretário de segurança em sua página no Facebook. “Vou deixar aqui um desafio ao secretário, já que ele vai tirar os fuzis das UPPs devido à letalidade dos mesmos, que o faça também retirando da sua escolta pessoal!”, escreveu o oficial. Em seguida, postou novamente: “Desafio ao secretário II – Só eu e ele, sem escolta, sem fuzil, pois é muito letal, um patrulhamento de dia, fardado de PM, no Largo do Santinho, Bulufa, Chuveirinho e Areal, no Complexo do Alemão”. Os locais citados são alguns dos mais perigosos para os soldados da UPP local. Foi justamente ali que o soldado Blanco acabou ferido na perna, durante um tiroteio na manhã desta sexta-feira.

Major da PM desafiou o secretário em rede social
Major da PM desafiou o secretário em rede social (VEJA)

Relações Pública da PM, o tenente-coronel Oderlei Santos limitou-se a dizer desconhecer o assunto. Somente este ano, 13 policiais foram mortos em favelas de UPP e, na primeira semana de dezembro, houve pelo menos 50 ataques às equipes que atuam nesses terrenos ‘pacificados’ registrados. Se pelo menos uma outra parte do discurso do secretário de segurança à Alerj estiver valendo ainda, a partir da próxima segunda-feira os agentes lotados no Jacarezinho serão submetidos a um treinamento com as forças especiais. Se a paz vai ficando mais distante a cada dia, é preciso realmente treinar esses policiais para que eles possam se defender e não continuem engrossando essa trágica estatística.

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