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Belo Monte e o triunvirato da propina de R$ 45 milhões

Delcídio do Amaral descreve atuação dos ex-ministros Palocci, Erenice Guerra e Silas Rondeau na divisão do caixa paralelo entre PT e PMDB

Por Da Redação 15 mar 2016, 19h43

Em seu acordo de colaboração premiada homologado nesta terça-feira, o senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo Dilma Rousseff, afirmou que a construção da Usina de Belo Monte foi “decisiva” para abastecer campanhas eleitorais em 2010 e 2014. Delcídio acusou três ex-ministros do governo petista de formarem um triunvirato que influenciou o projeto de Belo Monte e harmonizava a divisão de propinas entre o PT e o PMDB: Antônio Palocci, Erenice Guerra e Silas Rondeau.

Segundo Delcídio, em 2010, o consórcio formado pelas principais empreiteiras do país desistiu, três dias antes, de disputar o leilão de Belo Monte. A alternativa foi costurada, “em algumas horas”, com influência do triunvirato Palocci-Erenice-Rondeau. A Chesf e a Eletronorte entraram na disputa pública aliadas a Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Contern, J, Malucelli, Gaia Energia, Cetenco, Mendes Jr, Trading Engenharia e Serveng-Civilsan. Só houve uma proposta.

Conforme o senador, meses depois empresas que não disputaram o certame viraram sócias do empreendimento e contrataram as integrantes do consórcio vencedor como prestadoras de serviço – nas palavras de Delcídio, o controle da obra “mudou de mãos” e as empresas principais passaram a desempenhar “papel secundário”. Delcídio apontou o executivo Flávio Barra, da Andrade Gutierrez como principal agente negociador do projeto.

Delcídio disse que a propina destinada a campanhas girava em torno de 30 milhões de reais – ele não detalhou para que partidos ou candidatos. O senador ponderou, no entanto, que “os números finais da propina” podem ser maiores: “Durante a campanha, houve acordo com relação a ‘claims’ de cerca de 1,5 bilhão de reais, apresentadas pelo consórcio. O acordo com relação a ‘cIaims’ era uma das condições exigidas para aumentar a contribuição eleitoral das empresas”.

Ele ainda estimou que o valor destinado para as contribuições das campanhas do PT e do PMDB, em 2010 e 2014, chegue a 45 milhões de reais.

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Os custos das obras civis de Belo Monte, conforme testemunho de Delcídio, giraram em torno de 19 bilhões de reais, e o fornecimento de equipamentos, em 4,5 bilhões de reais. O parlamentar afirmou que sabe de “ilicitudes envolvendo o fornecimento de equipamentos” para a obra. Havia uma disputa, segundo ele, entre empresas chinesas – patrocinadas por José Carlos Bumlai, amigo de Lula – e fabricantes já estabelecidas no Brasil, como Alstom, Siemens, Impsa e Iesa, apoiadas pelo triunvirato de ex-ministros.

Delcídio disse que o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em 2014, intercedeu em favor da Impsa, que teria “cadeira cativa” no fornecimento de peças, embora sem aptidão para a empreitada. Ele acusa Palocci, Erenice e Silas Rondeau de interferir na questão a favor das empresas que já estavam no país. O petista afirmou que a contratação dos equipamentos rendeu entre 15 e 10 milhões de reais em caixa dois para campanhas do PT e do PMDB. “O triunvirato agiu rapidamente, definindo que o fornecimento dos equipamentos seria realizado pelos fabricantes ‘nacionais’, tudo na busca da contrapartida, revelada nas contribuições de campanha. Antônio Palocci e Erenice Guerra, especialmente, foram fundamentais nessa definição”.

Delcídio descreveu Palocci como “a pessoa que conversa objetivamente sobre recursos (ilícitos e lícitos) de campanha e definição dos grandes negócios de interesse do PT em todo o país”. “Palocci é, sem dúvida, a cabeça pensante do partido com relação a temas econômicos, financeiros e de infraestrutura.”

Erenice, segundo ele, tinha uma aliança extremamente produtiva com o PT, por meio de Palocci, e com o PMDB, por meio de Silas Rondeau. O ex-líder do governo Dilma Rousseff afirmou que ela “articulava os interesses dos dois grandes partidos aliados com grande competência”

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Silas Rondeau, segundo ele, agia “em harmonia com Erenice” e “vocalizava os interesses do PMDB do Senado” no setor de Energia, enquanto comandou o Ministério de Minas Energia e estatais com a Eletronorte e a Eletrobrás. Ele também foi conselheiro da Petrobras.

O triunvirato contaria ainda com “braços armados” para facilitar negócios espúrios em partidos, empresas públicas e bancos públicos, como a Caixa, o BNDES e o Banco do Brasil. Na área de Energia, esses colaboradores eram Adhemar Palocci (irmão do ex-ministro de Lula e Dilma) e Valter Cardeal, nome “absolutamente vinculado” à presidente Dilma Rousseff e Erenice Guerra. No setor de Petróleo e Gás, os “implementadores de projetos ilegais” eram os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque. Nos fundos de pensão, o nome era Milton Lyra. O empresário afirma que “repele rigorosamente” as suspeitas lançadas pelo senador. “Ele nada mais fez que repetir notícias e fantasias publicadas na imprensa, certamente com o objetivo de comprar sua liberdade”, afirma Lyra. “O próprio senador afirma não ter conhecimento de qualquer fato concreto que possa fundamentar suas ilações, o que faz da difusão dessas inverdades um ato criminoso”, completa.

“A despeito das eventuais divergências, existia uma harmonização das ações ilegais dos dois grandes partidos no sentido de divisão das propinas. Tal harmonização só foi possível graças à ação do triunvirato. A ação integrada entre os partidos aliados passava por construção, montagem e aquisição de equipamentos, consolidação de parcerias público-privados e fundos de pensão”, diz o documento do senador.

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