Bangu 8 abre exceções para banqueiro
André Esteves não teve os cabelos raspados, como ocorre com qualquer detento do sistema penitenciário. Sua mulher conseguiu uma autorização especial para vê-lo, não passou pela revista de raio-X nem teve de enfrentar a fila das visitas. O bacalhau do Antiquarius, seu almoço no sábado, também não foi vistoriado
Desde que foi preso pela Operação Lava Jato no último dia 25, André Esteves, dono do BTG Pactual e do BSI suíço, já descumpriu diversas regras do sistema penitenciário do Rio de Janeiro. O nono homem mais rico do Brasil, com fortuna avaliada pela revista Forbes em 9 bilhões de reais, conseguiu, por exemplo, manter o cabelo intacto, algo vetado para todo aquele que ingressa nas cadeias fluminenses. A regra diz que os presos têm de ter o cabelo raspado já na unidade de triagem. A mulher do banqueiro, que o visitou no sábado, entrou no Complexo de Gericinó de carro, junto com um advogado, e foi direto até o portão principal da Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, o Bangu 8, onde ele está preso. Não enfrentou fila, não teve de entrar no ônibus que faz o transporte interno entre todas as unidades prisionais e não teve de passar pelo obrigatório scanner corporal (raio-X). Nem mesmo a refeição que levou para o banqueiro – bacalhau preparado pelo restaurante Antiquarius – foi vistoriada.
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No domingo, o ministro Teori Zavascki transformou a prisão temporária de cinco dias do banqueiro em preventiva (sem prazo determinado), mas ele ainda poderá recorrer à 2ª Turma do STF. Enquanto não consegue a liberdade na Justiça, André Esteves conta com a boa vontade das autoridades estaduais. Foi o próprio secretário de Administração Penitenciária (Seap), coronel Erir Ribeiro Costa Filho, quem deu uma autorização especial para a visita do fim de semana. Ironicamente, há pouco mais de um mês, o então diretor do mesmo Bangu 8, Emerson Paiva, acabou exonerado por Erir exatamente por conceder a mesma autorização para parentes de internos que estavam presos por falta de pagamento de pensão alimentícia.
A mulher de Esteves conseguiu uma autorização provisória para fazer a visita, do próprio secretário da Seap, já que a carteira definitiva exige uma série de documentos que levam tempo para serem analisados. Em média 60 dias, e no mínimo 45. “Para um preso comum leva três meses com certeza”, diz um agente penitenciário.
O banqueiro chegou a dar entrada no Presídio Ary Franco (para presos à disposição da Justiça Federal), na Zona Norte, e de lá seguiu para Bangu 8, na Zona Oeste, onde ganhou um kit higiênico (sabonete e papel higiênico). O procedimento de identificação só foi feito nesta segunda-feira, quando ele tirou a foto oficial com a camisa verde da Seap, obrigatória para todos os detentos. Já na cadeia, furou outra fila. Lá dentro, onde estão presos 138 pessoas – todos com diploma de terceiro grau ou devedores de pensão alimentícia – as celas individuais, de seis metros quadrados, são reservadas aos que estão há mais tempo encarcerados. Esteves, no entanto, conseguiu uma só para ele.