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Avenida Paulista: um cartão-postal decadente

Região sofre com aumento desordenado da quantidade de ambulantes e com o uso intensivo da via. Moradores se queixam do abandono da gestão Haddad

Por Nicole Fusco
31 jan 2016, 10h21

A Avenida Paulista foi, sem dúvida, um dos principais focos da administração Fernando Haddad (PT) em São Paulo. Com uma gestão voltada desde o início às regiões centrais e a temas de maior ressonância, o petista gastou como poucos energia em discussões referentes ao fechamento da via para carros aos domingos. A Paulista, é claro, ganhou também uma ciclofaixa de 2,7 quilômetros. Toda a atenção provocada em torno desses pontos, porém, mascara um quadro de abandono que salta aos olhos durante uma caminhada por esse cartão postal da cidade. “Chegamos ao fundo do poço”, resume Célia Marcondes, presidente da Sociedade Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César (Samorcc). Soma-se ao abandono da administração municipal, a escalada dos furtos na região: hoje agem na Paulista criminosos especializados em furtos de celular. Muitos deles passam de bicicleta próximos às vítimas e fogem antes que possam ser percebidos.

Especialistas ouvidos pelo site de VEJA alertam para os riscos de que a Paulista se torne tão degradada quanto o Centro Histórico de São Paulo. “Tudo o que tem uso intensivo precisa ter manutenção e a intervenção do prefeito Haddad é muito improvisada”, afirma o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Lúcio Gomes Machado. “A vida econômica da Avenida Paulista está declinando porque toda vez que há algum evento, perde-se um dia de trabalho: tem manifestação todos os dias, interrupção do trânsito aos finais de semana. No fim do ano tem o Réveillon, a São Silvestre, a Parada Gay… Tudo isso faz com que as pessoas que têm interesse em usar os imóveis percam a oportunidade de fazê-lo”, explicou.

Um dos mais claros sinais da degradação da Paulista é o aumento desordenado de camelôs. Há também cada vez mais moradores de rua espalhados pela avenida – em alguns dias da semana, pelo menos dez deles se reúnem em frente a uma lanchonete próxima à estação Brigadeiro, organizando camas improvisadas com pedaços de papelão e cobertores. Os desabrigados também se acomodam no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e próximo às agências bancárias. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), “as pessoas são convidadas a ir para os Centros de Acolhida, mas não são obrigadas a aceitar o encaminhamento”. Numa tentativa de evitar que os moradores de rua espalhem seus pertences por ali, agentes da prefeitura chegam a molhar as calçadas com ajuda de um caminhão-pipa. Líder do PSDB na Câmara Municipal, o vereador Andrea Matarazzo afirma que a situação na Paulista é um espelho de toda a cidade. “O comércio que estava com força vai começar a perder o vigor e as empresas vão começar a deixar os prédios. Abandonaram a Paulista assim como abandonaram a cidade toda”, avalia.

Mas nada escancara tanto o abandono da região quanto a explosão dos camelôs, que se somam agora aos artesãos, beneficiados pela Lei de Artistas de Rua sancionada em 2014 pela gestão Haddad. Ambulantes que fabricam seus próprios produtos podem vendê-los pela cidade. Na última quinta-feira, a reportagem do site de VEJA contou 140 ambulantes comercializando livros, peças de artesanato, quadros e outras bugigangas com suas barracas e lonas espalhadas entre os pedestres. O número é quase três vezes superior ao limite estabelecido pela administração municipal.

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Há um ano a Subprefeitura da Sé, que administra a região, disponibilizou cinquenta pontos fixos ao longo dos quase três quilômetros da avenida para que os artesãos pudessem trabalhar – para isso, eles precisam estar registrados na Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco). Em nota, a subprefeitura da Sé informou que funcionários realizam rondas diárias, acompanhados por agentes da Polícia Militar ou da Guarda Civil Metropolitana, para verificar se os artesãos são cadastrados na Sutaco e para coibir a atividade irregular. Os ambulantes podem exercer suas atividades mediante a emissão de Termo de Permissão de Uso (TPU).

Moradores da região reclamam. “Nós já tivemos problemas antes, mas agora chegamos ao fundo do poço. A gente não vê a atuação do poder público, é uma terra de ninguém”, afirma Célia. São problemas que a ciclofaixa ou o fechamento da Paulista para os carros estão longe de resolver.

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