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Assaltos batem recorde no Rio de Janeiro em 2014

Roubos a estabelecimentos comerciais, de cargas, a transeuntes e o total de assaltos obtiveram suas piores marcas de todos os tempos. Homicídios, que caíram até 2012, voltaram a crescer pelo segundo ano consecutivo

Por Leslie Leitão 2 fev 2015, 16h05

O ano de 2014 foi o de maior investimento na área de segurança pública feito por um governo fluminense até hoje. Desde 2009, quando o Palácio Guanabara – ainda sob o comando de Sergio Cabral – resolveu apostar no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) como a salvação do Rio de Janeiro, pouco mais de 24,6 bilhões de reais foram investidos diretamente no setor. A estrutura das polícias, ainda longe do ideal, melhorou, mas os resultados animadores de outrora, agora, chegaram a níveis alarmantes. Para se ter uma ideia, os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que houve recordes negativos de toda a série histórica não só de roubos em geral, mas também nos assaltos de cargos, estabelecimentos comerciais e pedestres.

O corte nos investimentos de 2015, anunciados na semana passada, provocaram uma crise interna e colocaram o próprio secretário da pasta, José Mariano Beltrame, e o governador Luiz Fernando Pezão em rota de colisão. Mas o fato é que, como mostrou a coluna Radar, na edição de VEJA desta semana, os roubos aumentaram 27% na gestão Beltrame, que assumiu o cargo em 2007 e tem, hoje, um orçamento anual três vezes maior do que à época. Voltando, então, aos números do ISP, essa conta escancara um problema de gestão.

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Os 158.078 assaltos registrados ao longo de 2014 são os números que mais saltam aos olhos de quem analisa as estatísticas e fazem desmoronar o discurso do próprio secretário. Na semana passada, ele fez um desafio durante uma entrevista mandando que se analisasse a situação do Rio “sete, oito, dez anos atrás”. Pois foi o que o site de VEJA fez. Em 2007, seu primeiro ano como titular da pasta, houve 137.422 roubos. Em 2006 foram 124.087. E em 2004, 110.988, ou seja, 42% a menos do que o resultado mais recente.

Mas há outros dados assustadores registrados ao longo de 2014. Os ataques a cargas somaram 5.889, o que significa uma média de dezesseis caminhões roubados diariamente. Outro recorde negativo são os 7.740 assaltos a estabelecimentos comerciais, que representam 68% a mais do registrado no primeiro ano da parceria Cabral-Beltrame. Caminhar pelas ruas do Rio nunca foi tão perigoso. Houve 80.558 casos de assaltos a transeuntes no ano passado. Mais um dado preocupante foram os 32.680 veículos roubados durante todo o ano. Se não são os mais negativos da história (em 2001 foram 34.432), os números representam um aumento pelo terceiro ano seguido e são os piores desde 2006.

Diagnóstico da Segurança Pública no RJ
Diagnóstico da Segurança Pública no RJ (VEJA)

Homicídios – O pilar de sustentação do discurso de Beltrame para defender sua gestão está na expressiva queda no número de homicídios. É inegável que eles tiveram uma redução significativa: em 2006 eram 6.323 e chegaram a 4.081 em 2012. De lá pra cá, no entanto, o gráfico mostra uma tendência de crescimento pelo segundo ano consecutivo. Subiram para 4.745 no ano seguinte e, em 2014, atingiram 4.939, o maior número desde o ano de 2009. Ainda que o número tenha caído em relação à última década, se comparados ao vizinho estado de São Paulo, por exemplo, percebe-se que não há motivos para entusiasmo com os dados do Rio de Janeiro. Mesmo sem a propagandeada UPP como salvação, São Paulo reduziu mais e tem uma taxa de homicídios de 10,6 para cada 100.000 habitantes, um terço da do Rio de Janeiro, onde são mortas trinta para cada 100.000 pessoas. Em 2014, mesmo com uma população três vezes maior, houve 412 assassinatos a menos em São Paulo.

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Os anos de 2011 e 2012 foram os que apresentaram alguns dos melhores índices registrados pelo ISP em diversas categorias. Para especialistas ouvidos pelo site de VEJA, foi o “efeito Complexo do Alemão”. A épica imagem de bandidos correndo da polícia no principal bunker do tráfico, em novembro de 2010, fez os criminosos recuarem: “O marginal procura uma maneira de se adaptar. Mas, na medida em que as UPPs se alastraram, e isso foi feito de maneira desordenada e política, a situação foi fugindo do controle. Em vez de consertar onde havia problemas, continuaram espalhando UPPs”, diz o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM).

Se nas ruas o crime foi crescendo gradativamente, os dados das UPPs também mostram que, ao final de 2012, a situação já não era tão confortável. Mesmo assim, durante toda a campanha à reeleição, ano passado, o governador Luiz Fernando Pezão propagava o discurso de que 2 milhões de pessoas haviam sido libertadas do jugo do tráfico com as UPPs: “Na verdade, acreditou-se que, somente ocupando os quarenta principais territórios, a situação da cidade estaria resolvida”, analisa um coronel da cúpula da PM fluminense que prefere não se identificar.

O sinal cristalino de que algo começava a ir mal nas UPPs estava nos nove policiais feridos e outros cinco mortos naquele ano de 2012 somente nas áreas ocupadas. Mas os gestores parecem não ter enxergado e a correção de rota não foi feita. Em 2013, houve 24 feridos e três mortos; e em 2014 foram 87 feridos e oito mortos. Agora, o primeiro mês de 2015 registrou nove feridos e dois mortos. “A pressa de formar novas turmas para preencher as UPPs é um risco, inclusive, para os próprios policiais”, diz o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança.

Outra redução significativa da gestão Beltrame são os autos de resistência (mortos em confronto com a polícia), que registravam 1.330 em seu primeiro ano na secretaria e, no ano passado, ficou em 582 (40% a mais do que os 416 do ano anterior).

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