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Número de assaltos no Rio é o segundo maior em 10 anos

De janeiro a abril foram mais de 52 000 roubos, como o que resultou na morte do médico Jaime Gold. Latrocínios ultrapassaram o patamar de 2007 pelo segundo ano consecutivo

Por Leslie Leitão 20 Maio 2015, 20h49

A sensação de segurança que o cidadão tem é o melhor medidor de qualquer política de segurança pública. Baseado nisso, é possível afirmar que o Rio de Janeiro viveu seus melhores anos no período entre 2011 e 2012. Naquele biênio, o estado sentiu o reflexo da emblemática retomada do Complexo do Alemão, no final de 2010 – com bandidos correndo em cenas transmitidas ao vivo para todo o planeta – e o governo pode surfar a onda da “pacificação”. O tempo, porém, foi cruel. A política do secretário José Mariano Beltrame, baseada na ocupação de territórios com as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), foi dando sinais de desgaste e não veio a correção de rota. Os números frios apontam essa explosão de criminalidade pelas ruas. Somando os meses de janeiro a abril de 2011/12 o número de assaltos chegou a 73 452. Nos mesmos quadrimestres de 2014/15 houve um aumento de 46%, atingindo a marca impressionante de 107 194 roubos, a maior da história para o período. Na verdade, o início de 2015, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), teve o segundo pior resultado para o período, com 52 742 assaltos, atrás apenas de 2014, com 54 452.

Para se ter uma ideia comparativa desses dados, em 2006 – quando o governo de Rosinha Garotinho investiu apenas 1,6 bilhão em segurança pública – o Rio registrou 39 761 assaltos. A previsão de investimento para este ano é de mais de 6 bilhões de reais. O resultado trágico desses números frios está em mais um assassinato brutal, o do médico Jaime Gold, de 55 anos, esfaqueado na Lagoa Rodrigo de Freitas, uma das áreas mais nobres da cidade, por bandidos que queriam roubar sua bicicleta na noite de ontem. O cardiologista do Hospital do Fundão engrossa uma outra estatística macabra que vem crescendo: a de latrocínios (roubo seguido de morte). Nos quatro primeiros meses deste ano houve 58 pessoas assassinadas durante assaltos no Rio de Janeiro, número idêntico ao registrado no ano passado e bem maior do que os 31 do período de 2011. Em 2007, início da administração Beltrame, houve 55 latrocínios no mesmo período.

Os assaltos com o uso de armas brancas (facas e tesouras) ficaram em evidência desde o final do mês passado, quando a TV Globo filmou um arrastão pelas ruas do centro. Num dos ataques, um rapaz desferiu quatro facadas nas costas de um homem de 55 anos. Na mesma semana, dois remadores do Flamengo foram esfaqueados durante um assalto também na Lagoa, enquanto um homem teve a bicicleta roubada com a mesma arma. Na semana passada, outros três casos semelhantes foram registrados na Zona Sul da cidade. As vítimas foram atacadas no Aterro do Flamengo, em Botafogo e em Laranjeiras, mas sem gravidade. Nesta quarta-feira, menos de 24 horas após o ataque que causou a morte de Jaime Gold na Lagoa, uma mulher de 31 anos foi esfaqueada durante uma tentativa de assalto em São Conrado, também na zona sul. Atingida nas duas pernas, Lorena Tristão, sofreu ferimentos superficiais e está bem, em casa.

À morte do médico, seguiram-se as medidas de sempre. O comando do 23º BPM (Leblon), responsável pelo patrulhamento da região, foi trocado e o novo comandante, coronel Joseli Cândido da Silva, mandou reforçar o policiamento na região do assalto – na verdade, embora o governo tenha insinuado uma resposta ao crime na Lagoa, a troca de comando do batalhão já estava decidida havia uma semana. Já Beltrame limitou-se a divulgar um vídeo de pouco mais de um minuto pelo Twitter. Na mensagem, classificou como “inadmissível” o ocorrido, por se tratar de um local “querido e frequentado pelos cariocas e pelos turistas”. “Um lugar como a Lagoa não pode ser alvo desse tipo de atitude”, afirmou o secretário de segurança, que mora num apartamento a 500 metros da Lagoa Rodrigo de Freitas. Já o governador Luiz Fernando Pezão jogou a culpa no Judiciário: “Não adianta a polícia prender se depois um desembargador solta”, disparou. O presidente do Tribunal de Justiça, Luiz Fernando Carvalho, rebateu: “O que faltou foi um policiamento ostensivo e eficiente”.

Cinco horas após a confirmação da morte de Gold, o Instituto de Segurança Pública divulgou novos dados de abril de 2015 comemorando o menor número de homicídios para o período: 338 casos, contra 449 do mesmo mês no ano passado. No acumulado quadrimestral, foram 1 488 assassinatos, redução de 22% em relação a 2014. Esse dado representa o segundo melhor índice para o período nos últimos dez anos (em 2012 foram 1 460 assassinatos). O curioso é que o próprio governo costuma atribuir essa redução de crimes contra a vida à instalação das UPPs em 38 favelas do Rio de Janeiro, e não à criação da Divisão de Homicídios, que ocorreu em 2010. Essa redução estatística, no entanto, também é perceptível em Niterói e São Gonçalo, onde não foram implantadas UPPs e que, em janeiro do ano passado, a Delegacia de Homicídios foi reformulada e reforçada. Lá, em 2009, por exemplo, foram registrados 693 homicídios, contra 471 no ano passado. Nos quatro primeiros meses de 2015 foram 128 casos, contra 268 no mesmo período de 2009.

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