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Aeroportos da Copa: testados e reprovados pela PF

Relatórios reservados da Polícia Federal informam que na maior parte dos aeroportos brasileiros a segurança nos guichês de imigração e em áreas restritas está abaixo da crítica

Por Leslie Leitão
31 Maio 2014, 13h30

A poucos dias do início da Copa do Mundo, os aeroportos brasileiros já começam a maltratar os turistas que vêm ver os jogos. Mesmo remendados para se adequarem às exigências da Fifa, o que se prevê são filas e a desinformação de sempre – tudo potencializado pela explosão da demanda. Estima-se que 600.000 turistas estrangeiros circulem por esses locais durante o Mundial. Mas, além dos gargalos mais conhecidos por quem costuma percorrer os tortuosos caminhos dos aeroportos brasileiros, há outro, menos visível, que vem afligindo autoridades em Brasília: a falta de segurança nas portas de entrada do país.

Oficialmente, a Polícia Federal garante que está tudo sob controle. Dois relatórios reservados da própria PF, porém, mostram a distância entre a realidade e a versão oficial. Um dos documentos descreve os resultados dos testes de segurança realizados em dezesseis aeroportos. Catorze foram reprovados em mais de 50% dos itens analisados. O segundo relatório trata apenas do Galeão, no Rio de Janeiro, e é bastante didático quanto à extensão do descalabro: não raro, traficantes armados perambulam por ali em áreas restritas, informa o texto.

VEJA teve acesso ao documento de dezembro de 2012 que traz à luz o atoleiro de notas vermelhas na área da segurança. Naquele ano, os aeroportos que pior se saíram na avaliação da PF foram precisamente os que terão maior movimento na Copa: Congonhas foi reprovado em 85% dos itens; Galeão, em 75%; Confins, em 70%; e Guarulhos, em 69%. Em um dos testes, agentes disfarçados conseguiram facilmente embarcar simulacros de artefatos explosivos em bagagens de voos internacionais. Entrar em áreas proibidas com credenciais irregulares tampouco foi um problema.

UMA PENEIRA FEDERAL – Documentos a que VEJA teve acesso expõem a vulnerabilidade dos aeroportos do país: um deles mostra a facilidade com que policiais disfarçados colocaram simulacros de explosivos em bagagens de voos internacionais; outro revela que traficantes chegam a roubar até cabos dentro do Galeão
UMA PENEIRA FEDERAL – Documentos a que VEJA teve acesso expõem a vulnerabilidade dos aeroportos do país: um deles mostra a facilidade com que policiais disfarçados colocaram simulacros de explosivos em bagagens de voos internacionais; outro revela que traficantes chegam a roubar até cabos dentro do Galeão (VEJA)
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O exercício se repetiu no fim do ano passado, dessa vez em todos os aeroportos da Copa, e só serviu para enfatizar o que já havia sido constatado. “Nada mudou. É uma bagunça generalizada”, afirma um policial que integrou a equipe. Entre as constatações, descobriu-se uma zona de sombra que ameaça um ponto-­chave da segurança: a fiscalização dos passaportes. Faltam agentes para realizar a tarefa e, segundo o relato de mais de uma dezena de policiais ouvidos em quatro grandes aeroportos, o sistema de computadores da imigração, por causa da manutenção precária, funciona com extrema lentidão – quando funciona. “Operamos a maior parte do tempo off-­line, recolhendo apenas o formulário de entrada. Do contrário, as filas seriam intermináveis”, diz um delegado da PF. “É o que chamamos de abrir a porteira.” Sem o sistema, os agentes trabalham no escuro, ignorando se o turista que deixaram entrar é, por exemplo, um terrorista procurado.

Com os jatinhos particulares – e milhares deles estão prestes a pousar em terreno brasileiro – a situação se agrava ainda mais. Nesses casos, os viajantes nem sequer costumam passar pelos guichês da imigração. “É o piloto quem informa o número de passageiros pelo rádio e encaminha os passaportes. Se quiser, ele poderá omitir a presença de uma pessoa e ela entrará clandestinamente no país, na maior tranquilidade”, conta um experiente funcionário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A fiscalização precária não se limita ao espaço aéreo – a peneira furada é a dura realidade também nos portos do país. A Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar) estima que 23 000 turistas desembarcarão no Rio de Janeiro, em Santos e em Salvador por estes dias. No Porto do Rio, a conferência da documentação dos cerca de 3 000 passageiros de cada embarcação caberá a dois ou, no máximo, três agentes. “Entramos no navio e registramos a pilha de passaportes que nos entregam. Não chegamos nem a ver as pessoas, quanto mais saber se todas foram contabilizadas”, relata um agente.

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Segundo aeroporto mais movimentado do país, o Galeão mereceu um relatório à parte por causa de uma característica singular: ele está circundado de favelas tomadas por bandidos que agem não só nas suas imediações, mas também no seu interior. O vaivém dos traficantes não se dá nos saguões, mas em áreas menos visíveis, onde praticamente inexiste vigilância. O relatório mapeia oito pontos especialmente vulneráveis. Em alguns deles, os bandos se infiltram para surrupiar cabos, crime contumaz no local e uma das causas dos apagões que a toda hora deixam o Galeão às escuras.

Numa via que leva à área de apoio do aeroporto, a investigação flagrou uma solitária cancela desativada. “Há acesso irrestrito a qualquer veículo, tornand­o-se um potencial alvo de atentados”, conclui o texto. Para reforçar o contingente durante a Copa com policiais de outras cidades, a PF está oferecendo o dobro do valor das diárias. Pode funcionar por ora, mas é solução temporária. Dado o apito final no Maracanã, a segurança nas portas de entrada do país voltará a ser como antes: padrão Brasil.

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