O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 4 foi marcado pela posição de enfrentamento adotada pelo petista diante da Polícia Federal e do Ministério Público, por críticas às investigações da Operação Lava Jato, mas também por interferência da defesa, que impediu que a PF fizesse questionamentos sobre a relação do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, com a nebulosa compra do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), imóvel que os investigadores suspeitam ser do próprio político.
“Nessa lavratura da compra do imóvel teve a intermediação do doutor Roberto, advogado. O senhor tem conhecimento do por quê?”, questiona a Polícia Federal a Lula. Depois de ouvir um lacônico “pergunte para ele” como resposta do petista, o delegado continua: “Você sabe se o doutor Roberto tem alguma relação de amizade ou comercial com os sócios do…”. Neste momento, o advogado de defesa de Lula intervém e questiona se Roberto Teixeira é investigado no processo.
“Eu só posso fazer perguntas se eu tiver investigando a pessoa sobre quem eu estou perguntando? Não”, replicou o delegado. “A partir do momento que o senhor está fazendo uma pergunta em relação ao advogado, o senhor está investigando o advogado”, retrucou a defesa de Lula. “Eu estou perguntando se ele tem conhecimento do porque que o doutor Roberto consta na escritura de um imóvel que é objeto de uma investigação de lavagem de dinheiro. E não é o fato dessa pessoa estar no registro da escritura de um objeto de um crime, ser advogado ou qualquer outro cargo, que eu vou deixar de fazer essa pergunta”, insiste o policial.
“Na verdade o senhor está fazendo a pergunta do advogado que assessorou, está fazendo pergunta do advogado que está assessorando a pessoa que está depondo, então o senhor está fazendo uma investigação em relação ao advogado”, rebateu, mais uma vez, a defesa de Lula. Os advogados do petista alegaram haver uma “quebra da prerrogativa de advogado” e, na sequência, a pergunta sobre Roberto Teixeira foi desconsiderada.
Não é a primeira vez que há tentativas de blindar Teixeira nos recentes desdobramentos da Operação Lava Jato. Na última semana, sindicalistas recorreram ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com pedido de reclamação disciplinar contra o juiz Sergio Moro, responsável pelos processos do petrolão em Curitiba. A medida foi patrocinada pelo Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo a mando do compadre de Lula.
A reclamação disciplinar contra Sergio Moro apresentada pelo Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo tem como pretexto a tese de que o juiz teria insinuado que o compadre do ex-presidente Lula, Roberto Teixeira, fraudou a escritura do Sítio Santa Bárbara, imóvel reformado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht e pelo pecuarista José Carlos Bumlai para o petista e sua família. O sítio em Atibaia foi oficialmente adquirido em outubro de 2010 por Jonas Suassuna e Fernando Bittar, mas as investigações da Operação Lava Jato mostram que o imóvel pertence, na realidade, ao ex-presidente Lula.
Em um dos despachos da 24ª fase da Operação Lava Jato, que tem o petista como alvo, o juiz Sergio Moro relata que Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente, é sócio de Suassuna na empresa BR4 Participações Ltda. e de Fernando Bittar na G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda. Moro destacou ainda que “o advogado Roberto Teixeira, pessoa notoriamente próxima a Luiz Inácio Lula da Silva, representou Jonas e Fernando na aquisição, inclusive minutando as escrituras [do sítio] e recolhendo as assinaturas no escritório de advocacia dele”.
Uma das mensagens em poder do Ministério Público sugere a utilização de Jonas e Fernando como pessoas interpostas para esconder o real proprietário do sítio. A mensagem enviada em 28 de outubro de 2010 por Roberto Teixeira diz: “Conforme solicitado, segue minuta das escrituras de ambas as áreas. Falei ontem com o Adalton e a área maior está sendo posta em nome do sócio do Fernando Bittar. Qualquer dúvida, favor retornar”.
Na avaliação do MP, “o fato de o advogado Roberto Teixeira ter participado da aquisição do sítio, tendo sido inclusive lavrado as escrituras das compras em seu escritório, somado à circunstância de Roberto Teixeira ser bastante próximo de Lula e de sua família, e não de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, formais adquirentes do sítio, é mais um sinal de que esses ‘amigos da família’ serviram apenas para ocultar o fato de que foi em favor de Lula que o sítio foi adquirido”.