Com acampamentos vazios, MST vive grave crise
Total de acampados caiu de 400.000 para menos de 100.000 entre 2003 e 2010
Às vésperas do início de sua jornada nacional de invasões, o chamado “abril vermelho”, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) – organização ideológica que ameaça a propriedade privada e a produção agrícola – enfrenta uma das maiores crises de sua história: a contenção do rápido esvaziamento de seus acampamentos.
No primeiro ano do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, existiam 285 acampamentos de sem-terra no país, de acordo com levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2009 a quantidade despencou para 36. Em 2010 o número foi ainda menor, segundo dados preliminares do novo relatório da CPT que será divulgado nos próximos dias; e em 2011 as dificuldades de mobilização só aumentam. Dias atrás, o militante Luciano de Lima, um dos coordenadores do movimento no interior de São Paulo, teve dificuldade para reunir 27 pessoas na invasão de uma área da Ferroban, em Paraguaçu Paulista.
O antecessor da presidente Dilma Rousseff, em seus dois mandatos, delegou a política de reforma agrária do governo à ala mais radical do PT. Esse gesto, porém, resultou ruinoso. Além de não conseguirem administrar os generosos recursos públicos para promover a reforma agrária, os sem-terra interpretaram a proximidade com o governo como autorização para barbarizar. Em vez de cuidarem dos interesses dos camponeses miseráveis, o MST e seus filhotes mais radicais, como o MLST, cujos integrantes chegaram até mesmo a quebrar o Congresso, passaram a atuar como facções criminosas, invadindo e depredando fazendas produtivas.
O total de pessoas acampadas no país passou de 400.000 para menos de 100.000 entre 2003 e 2010, segundo estimativas da direção nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Para o secretário da coordenação nacional da CPT, Antonio Canuto, o esvaziamento é acentuado.
Líderes do MST admitem o problema. A causa principal, na opinião deles, seria o crescimento do número de postos de trabalho no país, especialmente na construção civil. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Gilmar Mauro, que faz parte da coordenação nacional e é reconhecido como um dos principais ideólogos do movimento, observa que a construção civil absorve grande volume de trabalhadores egressos do campo, com pouca especialização profissional, que eram os primeiros a se mobilizar pela reforma, desejosos de retornar ao local de origem.
Para Antonio Canuto é preciso considerar também a falta de empenho do governo na execução da reforma. “Ninguém se dispõe a passar anos debaixo da lona de um acampamento se não houver uma perspectiva mínima de atendimento de suas reivindicações”, diz.
(Com Agência Estado)