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A nova rota dos brasileiros no exterior

Enquanto a emigração para destinos tradicionais tem decaído nos últimos anos, o fluxo de brasileiros para países com políticas de atração para mão de obra aumenta

Por Luciano Pádua
7 abr 2015, 07h51

No dia 26 de outubro do ano passado, logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o agente de migração Renato Feldmann colocou no Facebook um artigo com informações sobre como emigrar para o Canadá. Até a meia-noite do mesmo dia, a postagem já tinha mais de 5 000 compartilhamentos. Em março deste ano, um texto a respeito da vida em Quebec, também no Canadá, viralizou na internet: a procura foi tão grande na rede que derrubou o servidor do escritório da província canadense em São Paulo. Esses são casos que ilustram o aumento no interesse de brasileiros em deixar o país. Os dados mais recentes revelam que estamos diversificando nossos destinos. Ao mesmo tempo, sugerem um perfil menos “aventureiro” daqueles que deixam o país.

Em perspectiva, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais desenvolvidas do planeta, as estatísticas mostram que o fluxo de brasileiros – legais – para o exterior diminuiu 28% de 2010 a 2013 (veja a tabela abaixo). Essa queda está relacionada à crise econômica mundial de 2008, que devastou a economia de nações que recebiam muitos brasileiros e afetou principalmente os trabalhadores pouco qualificados. “Como sempre, são os postos de trabalho dos imigrantes os primeiros a serem suprimidos”, avalia Duval Fernandes, professor da PUC de Minas. Não à toa, 65% dos imigrantes que entraram no Brasil no final dos anos 2000 eram brasileiros que decidiram retornar. Três em cada quatro deles tinham até o ensino médio completo.

Desde 2010, houve uma redução drástica do total de brasileiros que migram para destinos históricos. Na Espanha, queda de 41% de 2010 a 2013, segundo a OCDE. “A Espanha foi o segundo país no mundo ocidental que mais recebeu imigrantes na década passada. Com a crise econômica, os fluxos foram reduzidos e começou a haver um saldo negativo”, afirma Leonardo Cavalcanti, do Observatório das Migrações Internacionais. Em países como Portugal, Itália e Japão, os fluxos anuais de brasileiros caíram sensivelmente no mesmo período.

Enquanto esses locais ofereciam menos oportunidades, países com políticas de atração migratória se tornaram mais interessantes. Mas os governos não escolhem imigrantes a esmo: lançam listas buscando profissionais qualificados em áreas específicas. É o caso do paulistano Rafael Isabella. Aos 32 anos, o analista de negócios de Tecnologia da Informação decidiu viver em Sydney, na Austrália, com a mulher. Enfrentou os oito meses do processo de imigração e recebeu a aprovação há um mês. “O que mais me motiva a sair é a situação atual do país. Temos uma cultura que permite que muita coisa errada aconteça”, justifica. Empresas especializadas na migração para a Austrália, como a Bravo Migration e a Smart Vistos, têm crescido mais de 30% em média ao ano. O perfil dos clientes é de profissionais com experiência em suas áreas, entre 28 e 39 anos.

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O caso da Austrália é emblemático: a migração qualificada brasileira no país mais que dobrou desde 2010. Segundo dados do governo australiano enviados ao site de VEJA, dos 884 vistos de residência emitidos em 2010, 506 (57,2%) eram para profissionais qualificados. Em 2014, foram 1.520 vistos de residência, dentre os quais 1.077 (70,8%) qualificados. Um aumento de 112% no período. Já o número de brasileiros residentes cresceu 33,2% de 2010 a 2014, de 16.550 para 22.050, segundo estimativas do governo.

No Canadá – onde não há separação nos dados por qualificação -, o fluxo de brasileiros atingiu um pico histórico em 2010 e seguiu uma forte redução no ano seguinte. Para autoridades, o recorde está associado a novas regras para acelerar o processo de entrada. Com isso, pedidos de anos anteriores que estavam travados podem ter sido contabilizados. De 2011 a 2013, já sob regras mais ágeis, o número de vistos de residência concedidos por ano a brasileiros cresceu 13,5% – último dado disponível. Essa tendência pôde ser sentida no escritório da província do Quebec em São Paulo, onde o número de palestras sobre migração e também a procura por informações dobraram desde o segundo semestre do ano passado. Outro destaque é o fluxo e a quantidade de brasileiros na Alemanha, que cresceram mais de 25% de 2010 a 2012.

Países como esses oferecerem qualidade de vida e oportunidade aos emigrantes. Figuram no topo do ranking do IDH e precisam de mão de obra qualificada para substituir suas populações envelhecidas e com baixa natalidade. De 2000 a 2010, o número de brasileiros com alta qualificação pelo mundo cresceu 105%, enquanto a população geral de expatriados subiu 85%. Não há registros mais recentes sobre os qualificados, mas o fluxo de brasileiros em direção a países atrativos que buscam essa mão de obra se manteve desde 2010. “Se no passado a predominância era daquele imigrante que ia em busca de um sonho de riqueza fácil, hoje podemos ver uma maior participação do imigrante qualificado”, explica Fernandes.

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Um exemplo é a pesquisa da consultoria Hays com 7.000 executivos brasileiros que mostrou que 71% deles estavam dispostos a sair do país em 2014. No ano anterior, eram 62,5%. “Temos visto um aumento considerável de pessoas buscando o Canadá, Austrália, França, Alemanha e países asiáticos”, destaca Luis Fernando Martins, diretor nacional da Hays.

Nos Estados Unidos, a emissão de vistos de imigração para brasileiros cresceu apenas 1,5% de 2010 a 2014. Tem chamado a atenção, no entanto, o aumento da procura do desconhecido visto Eb5. Ele permite obter a cidadania através de investimento de 500.000 dólares em projetos chancelados pelo governo. São poucos os pedidos brasileiros, mas com tendência de alta: 47 em 2014, quase o total dos três anos anteriores somados, 48. Desde as eleições, a procura para empresas especializadas explodiu. No caso do escritório Piquet Law and Firm, triplicou desde novembro. “Os últimos seis meses têm sido uma ‘corrida do ouro’. É um pouco assustador”, diz Alexandre Piquet. Preocupada com o futuro dos filhos, professora Katia Franhani decidiu se mudar para os EUA por essa modalidade. “A gota d’água foi quando meu filho mais velho perguntou quando ele poderia andar sozinho na rua”, conta Katia, que vive em Winter Garden.

Arte migração de brasileiros
Arte migração de brasileiros (VEJA)

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