A lenta e difícil transformação do ministro em candidato
Petistas recorrem à jornalista Olga Curado, peça-chave da eleição de Dilma Rousseff, para alavancar a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo
A quarenta dias do início da campanha eleitoral, o maior desafio do PT é fazer com que o seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, torne-se, de fato, o protagonista do partido na capital paulista. Mais do que mostrar ao eleitor que Haddad é o nome apoiado pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma Rousseff, o partido quer fazer com que ele abandone o papel de ministro da Educação – posto que deixou em janeiro para entrar na corrida eleitoral – para assumir, definitivamente, os trejeitos de candidato.
Como o PT já viu este filme em 2010, quando contratou a ex-diretora da Rede Globo Olga Curado para treinar a então candidata Dilma Rousseff, recorrerá novamente aos serviços da jornalista goiana para transformar o ex-ministro estreante em eleições numa estrela do corpo a corpo, de comícios e, principalmente, da televisão. É na campanha de TV que o PT aposta todas as fichas para alavancar a candidatura de Haddad, até agora estagnado nos 3% das intenções de votos nas pesquisas eleitorais.
A entrada de Olga na campanha de Haddad será negociada nesta semana entre a coordenação petista e a equipe do marqueteiro João Santana. Em 2010, foi ela quem assumiu a difícil tarefa de repaginar a imagem da ex-chefe da Casa Civil e treiná-la para enfrentar o então candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Olga participou de todos os treinamentos da petista para os debates eleitorais. Como acreditava que a fala técnica e difícil a afastava do eleitor, o principal ponto foi tentar fazer com que a candidata se expressasse com clareza.
O novo personagem – Dois anos depois, Olga volta aos bastidores da campanha. O roteiro é quase o mesmo, mas com um pequeno detalhe que os petistas consideram uma grande desvantagem: com a descoberta de um câncer na laringe em outubro do ano passado, Lula não participará tão intensamente da campanha. Assim, a consultora de imagem terá a missão de fazer de Haddad (sem o amparo total do ex-presidente) um candidato forte, espontâneo e convincente, principalmente no vídeo.
Nesse caso não basta apenas Haddad seguir o script das estrelas do cinema e das telenovelas, repaginando o visual pelas mãos de Celso Kamura – cabeleireiro que cuida do look da presidente Dilma – ou entrando numa dieta sem pães, doces e bebidas alcoólicas – que já o fez emagrecer quase dez quilos. Também não basta apenas dedicar parte do tempo ao estudo dos problemas da cidade nem cercar-se de livros que traçam o perfil da capital paulista. É preciso ir além para incorporar o personagem que se distancie cada vez mais do ministro que morou durante seis anos em Brasília.
A técnica – Com um método que mistura princípios do aikido (arte marcial japonesa), da terapia gestalt, do budismo, da meditação e do jornalismo, Olga treinou os ex-ministros Márcio Thomaz Bastos, José Dirceu, Luiz Gushiken e o próprio Lula. O ex-presidente submeteu-se à técnica em 2006, quando disputou a reeleição com o então candidato do PSDB Geraldo Alckmin.
Nada de frases longas, nem de discurso técnico e palavras rebuscadas para falar dos problemas da cidade. Para a coordenação da campanha do PT em São Paulo, o pré-candidato “tem evoluído”. Depois de quase três meses de imersão pela periferia de São Paulo – e a oito bairros de encerrar o giro pela cidade – “ele já não é mais tão técnico”, disse um petista que acompanha as agendas quase que diárias de Haddad na capital paulista. Contudo, a fala difícil e a entonação da voz pouco atrativa ainda não são as ideais.
Discreto por natureza – como ele mesmo se define -, Haddad se comporta de maneira comedida e reservada, principalmente quando participa de eventos ao lado do padrinho político, o ex-presidente Lula, e da presidente Dilma. Há pouco mais de uma semana, naquele que foi o primeiro evento público em São Paulo ao lado da dupla deste o início da pré-campanha, Haddad desempenhou mais um papel de ex-ministro do que de candidato à sucessão de Gilberto Kassab. Acompanhados de uma comitiva com mais de vinte pessoas, Dilma, Lula e Haddad visitaram a exposição Guerra e Paz, de Cândido Portinari, no Memorial da América Latina.
Embora a intenção da direção petista fosse a de turbinar a pré-candidatura, Haddad permaneceu a maior parte do tempo distante da presidente, ao da mulher, Ana Estela. O pré-candidato e Dilma se juntaram publicamente apenas para a foto oficial, no fim da visita.
Quando é cobrado por integrantes da campanha que lhe dizem para “chamar mais atenção para si”, Haddad responde que não se sente à vontade. “Esse não sou eu, me sentiria falso se fizesse isso”, confessa aos mais próximos. Olga Curado volta à campanha do PT com a missão de transformar um acanhado ex-ministro num candidato capaz de chegar ao segundo turno com alguma chance de vitória.