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A Lava Jato e a Face Oculta

Uma investigação iniciada numa pequena casa de câmbio devastou o partido político que esteve no governo de Portugal durante seis anos e levou à cadeia figurões considerados acima de qualquer suspeita. As semelhanças com o petrolão vão muito além de coincidências

Por Rodrigo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 set 2015, 22h18

É meio da tarde em Évora, cidade portuguesa a 150 quilômetros de Lisboa. Na penitenciária local, o sol forte e o calor do verão europeu lembram um ambiente tropical. O dia é de visita para uma parte dos 49 detentos. Aos poucos, familiares e amigos formam uma pequena fila para cumprir o ritual constrangedor obrigatório em qualquer lugar do mundo. A revista é minuciosa. Pertences pessoais devem ser deixados na portaria. À exceção das carteiras, que podem ser levadas desde que o visitante permita aos guardas contarem o dinheiro na entrada e na saída. O cuidado é para prevenir corrupção dentro da cadeia. No recinto de pouco mais de trinta metros quadrados que serve sala de visitas, dois homens usando ternos elegantes destoam. Ao ouvirem o barulho das trancas, eles ficam de pé, numa evidente reverência ao preso que aparece por trás da grade de ferro – o número 44. O ex-primeiro ministro português José Sócrates.

Encarcerado desde novembro do ano passado, Sócrates foi o chefe do governo de Portugal de 2005 a 2011. É um dos mais influentes hierarcas do PS, o Partido Socialista, agremiação que divide o protagonismo da política portuguesa com o PSD, o Partido Social Democrata. De tênis, calça jeans e camisa social azul clara, mangas arregaçadas, o líder socialista sentou-se em uma das mesas ao lado de outros cinco detentos, entre eles um suspeito de assassinato e um policial acusado de receber suborno de bandidos. Naquela última quinta-feira de agosto (27), Sócrates apresentava um semblante calmo e sorriu algumas vezes, embora o abatimento fosse visível. Acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal, ele é, até agora, o alvo mais importante das investigações que já colocaram muita gente poderosa de Portugal na mira da Justiça.

O enredo que levou o ex-primeiro-­ministro à cadeia é recorrente e soa familiar: políticos agiam em conluio com grandes empresas em troca de comissões ou, em português bem brasileiro, propina. É essa a acusação que pesa sobre José Sócrates – e que o mantém em prisão preventiva há nove meses. Descobriu-se que ele tinha amigos poderosos, influentes e muito ricos. Esses amigos ficariam ainda mais ricos, mais influentes e mais poderosos em seu governo, e, em retribuição, o ajudariam a construir a própria fortuna. Em Lisboa, as autoridades prenderam aquele que seria o chefe da organização criminosa e tentam, a partir do topo, minar os escalões intermediários. As autoridades já localizaram contas milionárias na Suiça em nome de familiares de Sócrates, descobriram que existem empresas brasileiras envolvidas no esquema, detectaram digitais de personagens do mensalão e do petrolão e estão convictas de que não são apenas coincidências.

A exemplo do que dos políticos brasileiros investigados, Sócrates e seus aliados acusam o Ministério Público e a justiça de perseguição. Diz estar preso por “razões políticas”. Mas o que já se conhece sobre o caso é apenas uma pequena parte da investigação – que corre sob segredo. “O fato é que é uma investigação que já dura 18 meses e até hoje não houve uma acusação formal. Isso me parece uma interferência indevida da justiça na política”, disse a VEJA o deputado socialista Paulo Campos, um dos correligionários mais próximos de Sócrates e ex-secretário de obras de seu governo. Além das semelhanças e coincidências, existem conexões claras entre os personagens e o modelo de corrupção luso-brasileiro.

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Empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão aparecem ligadas a alvos da investigação portuguesa. Empresas portuguesas investigadas em Lisboa, com o Banco Espírito Santo e a Portugal, aparecem como suspeitas de financiar o esquemas brasileiros, como o mensalão. Essa conexão, num primeiro momento, foi facilitada pela afinidade política: a proximidade entre o PT brasileiro e o Partido Socialista português, especialmente nos anos do governo de José Sócrates e de Lula no Brasil. As boas relações entre dos dois lados abriu caminho para negócios e negociatas de empresas amigas do poder, de um lado e de outro. Envolvem, até agora, três empreiteiras brasileiras ligadas ao petrolão. O mesmo Grupo Lena acusado de ser o maior contratante dos serviços de Sócrates, tem como parceira principal a Odebrecht – cliente das remessas ilegais feitas pela famosa casa de câmbio de Lisboa. A fusão dos personagens de lá e daqui chamou a atenção das autoridades.

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