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Florianópolis, a ilha da magia, perde seu encanto

Os ataques que assustam a capital de Santa Catarina são sintoma de um processo mais complexo: a dolorosa transformação da cidade em metrópole

Por Gabriel Castro, de Florianópolis
17 fev 2013, 08h37

A partir da década de 1990, Florianópolis se firmou como uma espécie de ímã para a classe média das grandes cidades, cansada dos problemas das metrópoles. Os atrativos que seduziam paulistas, gaúchos e argentinos eram claros: uma paisagem deslumbrante, a tranquilidade nas ruas, um trânsito sem grandes problemas e um custo de vida bem inferior ao das grandes capitais. Hoje, as praias estão bonitas como sempre. Mas violência urbana assusta, o trânsito irrita e o custo de vida desanima boa parte dos moradores da ilha – inclusive os forasteiros.

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A série de ataques a ônibus em Santa Catarina, da qual a capital tem sido um dos principais cenários, parece ser um rito de passagem que confirma essa transformação. “As pessoas dizem que existiu uma Florianópolis antes dos ataques e vai existir outra depois dos ataques”, afirma o médico Fabrizio Liberato, morador da capital desde os sete anos de idade.

O crescimento populacional da capital catarinense se deu bem mais rápido do que a média: em 1940, a cidade tinha 25.000 habitantes. Quarenta anos depois, o número saltou pra 150.000. Hoje, são cerca de 450.000 habitantes – considerada a região metropolitana, o total ultrapassa 1 milhão.

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A Florianópolis de 2013, em que ônibus dependem de escolta policial para circular, não chegou a esse ponto de um dia para o outro: aos poucos, o crescimento demográfico levou alguns pontos da infra-estrutura urbana a um estado de saturação. Os engarrafamentos em pontos nevrálgicos da cidade são diários. Na alta temporada, interrupções no abastecimento de água e luz atingem a capital. O custo de vida de janeiro registrou a maior alta mensal desde o começo de 2011. Entre 2000 e 2010, o índice de homicídios em Florianópolis cresceu 122% – no mesmo período, São Paulo e Rio de Janeiro registraram quedas expressivas.

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As queixas dos moradores são semelhantes. Lidiane Coradelli, que trabalha em um laboratório da capital catarinense, mora na cidade há 18 anos, desde que chegou do interior do Paraná com a família. Ela reclama do custo de vida, especialmente na temporada turística: “O preço é 50% maior no verão do que no inverno”. Para fugir dos altos preços, Lidiane frquentemente faz compras fora da ilha.

Da violência, ela não tem para onde fugir: “Não dá para ir a lugar nenhum à noite”, afirma. Quando conversou com o site de VEJA, Lidiane havia ido checar se seu carro não havia sido furtado – um quarteirão acima, minutos antes, um veículo fora levado por ladrões. O crime ocorreu no meio da tarde, na movimentada avenida Beira-Mar Norte. Apesar dos problemas, Lidiane nem pensa em deixar Florianópolis. Mas há quem busque alternativas.

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Êxodo – O Jorge Fernando da Rosa prepara sua mudança para Criciúma, no interior catarinense. Vindo de Porto Alegre, o bancário chegou a Florianópolis há doze anos, em busca de qualidade de vida. Mas, nos últimos anos, ele viu o crescimento rápido tirar parte das vantagems de Florianópolis. Um dos ônibus queimados em Florianópolis foi atacado em frente à casa do bancário, no bairro dos Ingleses. No ataque, um homem teve 90% do corpo queimado.

Jorge diz que, entre seus amigos, não é o único a fazer o movimento migratório inverso: “Muita gente já está saindo também. O famoso paraíso não é mais aquele”, dizo gaúcho. Para ele, o crescimento rápido trouxe transtornos demais à cidade: “Hoje ela é uma capital com mais problemas do que outras maiores”.

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A comerciante Denize de Liz, natural de Lajes, no interior do estado, também se sente mais insegura hoje do que em 1993, quando chegou a Florianópolis. “Hoje está bem mais difícil. A gente evita sair em determinados horários”, afirma.

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O governo estadual e a prefeitura reagiram com palavras fortes diante do cenário de caos que se instalou momentaneamente na capital, com os ataques a ônibus e consequentes problemas na cirulação das linhas. O governador Raimundo Colombo assegurou que a “espinha dorsal” dos criminosos foi quebrada. O prefeito César Souza Júnior disse que não tolerará “baderneiros”. Pode ser verdade. Mas o simples fato de os governantes precisarem recorrer a esses termos mostra que a ilha da magia perdeu parte do encanto.

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