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A guerra de informação do tráfico de drogas no Alemão

Criminosos tentaram misturar protestos contra truculência do Exército com a insatisfação de quem perde com a repressão à venda de drogas na favela

Por João Marcello Erthal
8 set 2011, 11h17

Os sinais no Complexo do Alemão são de que há, além da persistência do tráfico e da presença de armas, uma guerra de informação. E os alvos são, no momento, o Exército e quem mais puder atrapalhar os negócios do tráfico. Por mais que haja excessos na abordagem dos militares e no tratamento dispensado às rotinas dos moradores, é pouco provável que as faixas chamando a tropa de “comando verde” expressem a opinião da maioria dos quase 100 mil moradores no conjunto de 13 favelas.

O primeiro passo para se entender a guerra é separar o abuso de autoridade do quadro de “opressão” denunciado nas faixas. Balas de borracha são um fato: houve disparos que, pelos relatos e quantidade de hematomas, parecem o típico exagero militar diante de uma situação tensa com gente desarmada do outro lado. Mas não se conhece, por enquanto, elementos para afirmar que a força de pacificação imponha sanções ou oprima moradores – algo que houve durante muito tempo operado por traficantes de drogas. Eles, os bandidos, impediam visitas, controlavam – e talvez ainda controlem – a venda de produtos como botijões de gás, estimulavam tudo que trouxesse lucro para a quadrilha.

O deputado estadual Marcelo Freixo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), visitou as favelas na tarde de quarta-feira. Voltou de lá com a impressão de que os moradores não são contra o que o governo do Rio chama de “processo de pacificação”. Mas no momento estão no limite da tolerância com a longa permanência do Exército. Esse é um ponto da tensão que deve se agravar. Depois dos tumultos e do tiroteio da noite de terça-feira, os militares vão aumentar o rigor nas revistas.

O tiroteio da noite de terça-feira, salvo melhor explicação, enquadra-se no conjunto de ações oportunistas de quem enxergou, na tensão da noite de domingo, uma brecha para desmoralizar o tal processo de pacificação. Na versão do comandante militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, bandidos de fora do complexo orquestraram a ação. “Houve ordem para que elementos do tráfico se comportem de forma a causar tumulto à tropa. São bandidos que não têm mandado de prisão, não podem se presos senão em flagrante”, explicou o oficial.

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O vídeo gravado por moradores, com imagens de balas traçantes, mostra que os tiros partiram de pelo menos três pontos simultaneamente. E, ao mesmo tempo, moradores, supostamente indignados com a forma de abordagem do Exército, deflagravam protestos. Não há dúvida: naquele momento os bandidos não eram atacados, não reagiam a outra facção nem ao próprio Exército. As quadrilhas queriam gerar instabilidade, desmoralizar um processo que, se é cheio de defeitos, é um avanço indiscutível em relação ao terror do tráfico, que impunha regras a uma população equivalente à de pequenas cidades brasileiras.

A presença do Exército – assim como seria e será quando a Polícia Militar estiver no controle do território do Alemão – é péssima para o ciclo de negócios do tráfico. Os bandidos que fugiram em novembro deixaram para trás um vácuo de dependência do tráfico. Nunca será possível estimar com precisão quantas pessoas se beneficiavam da atividade das bocas de fumo indiretamente, mas é provável que estes sejam os mais insatisfeitos com a quebra do ciclo.

A tensão da noite de terça-feira causou alguns estragos. A maioria deles para dentro da própria favela. Moradores voltaram a cobrir o rosto e têm medo de falar. O comportamento lembra os dias em que quem dava as ordens eram os traficantes. Esse é, mais um sintoma, de que bandidos atuam e exercem influência dentro da favela. O comandante militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, trabalha com a tese de que os tumultos foram orquestrados por traficantes, que usaram moradores para causar a baderna. Se os bandidos estão conseguindo manter esse nível de influência, a falha, certamente, é da ocupação e da polícia, que mesmo retomando o território não conseguiu, ainda, neutralizar a ação dos criminosos.

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