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A despedida dos velhos conhecidos

Com o fim da legislatura, nomes importantes do Congresso Nacional estão deixando suas cadeiras. De alguns, o país sentirá falta. De outros, nem tanto

Por Gabriel Castro, de Brasília
14 dez 2014, 15h52

Quando o jovem senador Pedro Simon tomou posse no Congresso Nacional, o Brasil ainda era uma ditadura. O político gaúcho se transformaria em uma das principais vozes do processo de transição para a democracia. Naquele ano de 1979, entretanto, já fazia 24 anos que José Sarney chegara à Câmara dos Deputados pela primeira vez. O imperador do Maranhão, que àquela altura era filiado à Arena, seria eleito presidente do Senado quatro vezes.

O índice de renovação do Congresso nas últimas eleições ficou em cerca de 45%, dentro da média histórica. Mas, como é natural, um grupo de parlamentares importantes está deixando o Congresso. Alguns deles chegaram ao fim da carreira política. Outros ainda pensam em voltar, mas precisarão se acertar com as urnas. De alguns, como o gaúcho Pedro Simon, o país sentirá falta. De outros, como o maranhense eleito pelo Amapá José Sarney, nem tanto.

Simon e Sarney são expoentes de uma geração que, apesar de hoje serem colegas de partido, muitas vezes estiveram em lados opostos da História. Enquanto Sarney apoiou o regime militar até que o barco começasse a afundar, Simon esteve no lado contrário. Enquanto Sarney passou por sete partidos, Simon está no PMDB desde a fundação da sigla – até hoje o gaúcho se refere à legenda como MDB. Antes, havia pertencido apenas ao PTB, que foi extinto pela ditadura. Simon enfrentou Sarney também durante o escândalo dos atos secretos, que veio à tona em 2009, e por pouco não abreviou a longeva carreira do maranhense. Sarney presidia o Senado e escapou dos processos de cassação.

A partir de 1º de fevereiro, quando o novo Congresso tomará posse, Sarney e Simon deverão deixar a vida pública – pelo menos ocupando cargos eletivos. O senador maranhense nem mesmo disputou a reeleição, vislumbrando o risco real de derrota. Simon estava disposto a encerrar sua passagem pelo Congresso sem buscar um novo mandato. Até que a morte de Eduardo Campos alterou o cenário eleitoral. Beto Albuquerque (PSB), que disputaria o Senado com o apoio de Simon, virou vice de Marina Silva na disputa presidencial. O parlamentar do PMDB entrou, assim, na corrida por outro mandato. Mas acabou perdendo.

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Ao lado deles, outros nomes influentes do Congresso estão deixando o Parlamento. As razões são diversas. O atual presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves faz parte da lista. O peemedebista é o recordista de mandatos no Congresso: são onze eleições seguidas. Nas últimas eleições, quando tentou alçar um voo mais alto e disputar o governo do Rio Grande do Norte, Alves não conseguiu o que queria. perdeu, ainda que por por uma margem estreita, para Robinson Faria (PSD). Agora, Alves concorre a um prêmio de consolação: o nome dele é cotados para o Ministério da Previdência Social no próximo governo de Dilma Rousseff.

O próprio Sarney foi cotado para assumir o Ministério da Cultura, mas a revelação de que ele votou em Aécio Neves não deve ajudar. De qualquer forma, ele deve manter sua prerrogativa de indicar nomes para estatais e ministérios. Sarney, ao seu modo, providenciou uma despedida especial: uma exposição sobre sua vida, sediada na biblioteca do Senado. Lá estão preciosidades como uma edição romena de Saraminda, uma de suas obras literárias.

Outro que não deve ficar desamparado é o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que perdeu a disputa pelo governo do Rio de Janeiro e está de malas prontas para deixar o Congresso. O governo cogita nomeá-lo para uma das vice-presidências do Banco do Brasil.

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Para quem não tem acesso às benesses do governo, as opções são diferentes. O senador Pedro Simon não espera receber um cargo público, mas isso não significa que o parlamentar de 84 anos vai se aposentar. “Se Deus permitir, pretendo imitar o Teotônio Vilela. Quero andar pelo Brasil para convocar OAB, CNBB, os jovens a nos movimentar, a criar uma pauta comum”, diz o peemedebista. Ele afirma que poucas vezes viu uma situação política tão delicada quanto a atual, com um governo fragilizado politicamente e incapaz de reagir da forma adequada aos escândalos de corrupção.

Caso parecido é o do deputado Roberto Freire, presidente do PPS. Depois de não conseguir a reeleição, ele pretende se dedicar apenas ao partido. Freire, que também fez oposição à ditadura, acredita que o Congresso tem novas lideranças capazes de enfrentar aquilo que identifica como maior perigo à democracia: os métodos petistas de governar. “Nossa geração está terminando, mas já tem outra chegando com uma perspectiva muito boa de superar essa quadra de perda de valores”, diz Freire.

No time dos parlamentares que estão de saída, há também os que perderam influência e mergulham no ostracismo. Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Sandro Mabel (PR-SP) estão entre eles. Colecionador de inimizades dentro do PT, Vaccarezza perdeu o prestígio que tinha como líder do governo na Câmara, quando chegou a despontar como nome favorito para presidir a Casa. As denúncias de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef minaram ainda mais sua base. Mabel, por sua vez, brigou com o comando de seu antigo partido, o PR. Mudou-se para o PMDB, onde o número de caciques é maior, e desistiu de buscar a reeleição.

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