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A Amazônia contra Dilma Rousseff

Em Altamira, antigo reduto petista, os movimentos sociais apostam mais hoje na força de James Cameron

Por La Vanguardia
29 set 2010, 16h04

“Tucuruí foi feita durante o regime militar e então o PT era contrário”, lembra a agricultora Raimunda gomes da Silva, para em seguida concluir: “Para nós, a sigla PT significa partido da traição”.

Algo está claro em Altamira, uma cidade de 100 mil habitantes nas margens do rio Xingu, agora o quartel-general dos protestos contra a acelerada industrialização da Amazônia. O histórico Partido dos Trabalhadores (PT), que há três décadas aglutinou camponeses sem terra, povos indígenas e seringueiros como Chico Mendes em um grande movimento de oposição, já não é mais o que era. Depois de oito anos de poder, tanta coisa mudou dentro do PT que os movimentos sociais da Amazônia agora abrigam mais esperanças em Hollywood – concretamente no diretor de Avatar, James Cameron – do que na candidata Dilma Rousseff, que lidera as pesquisas com chances de se eleger a próxima presidente do Brasil.

Cameron, um rival talvez mais perigoso para Dilma do que o candidato da oposição José Serra, voltará a visitar Altamira dia 11 de outubro para rodar um documentário em três dimensões contra o projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte. “Cameron incomoda o governo do PT”, diz Antonia Melo, de 55 anos, que deixou o partido no ano passado depois de treze anos de militância.

Tanto Dilma quanto o presidente Lula pararam seus road shows eleitorais em Altamira para defender o chamado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um ambicioso plano de investimentos em infraestrutura que na Amazônia se traduz em projetos megalomaníacos de energia e extração mineral, encabeçados por um punhado de multinacionais brasileiras poderosas como a Vale, a construtora Odebrecht e a Eletrobrás.

A represa de Belo Monte, peça-chave do PAC, inundaria uma superfície de selva de 1 500 quilômetros quadrados, varreria do mapa duas dezenas de assentamentos de agricultores e secaria o rio no tramo de Volta Grande, onde passa por diversas aldeias indígenas. Dezenas de milhares de pessoas perderiam suas casas.

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Cameron lembra cada vez mais Fitzcarraldo, o personagem que no filme do cineasta alemão Werner Herzorg se embrenha na Amazônia peruana na tentativa de realizar projetos mirabolantes. O barco em viajava em agosto, por exemplo, naufragou antes que Cameron pudesse empreender sua primeira visita às comunidades indígenas caiapó. Mesmo assim, o diretor inclui um curta sobre Belo Monte na nova edição especial do DVD de Avatar. “Assisti uma versão pirata de Avatar“, disse Sheyla Yakarepi, da comunidade juruva, 17 quilômetros rio abaixo. “Parece com o que acontece conosco, com a diferença que nossa história é real. “Mas a resistência que Cameron espera ver nos povos caiapó e xikrin, como nos naví extraterrestres de seu filme, talvez não aconteça, adverte o etnologista Antonio Carlos Magalhães: “As empresas de Belo Monte estão correndo o Xingu de barco com presentes como combustível e alimentos.”

Saltam aos olhos em Altamira exemplos da trajetória do PT nos últimos anos. Há um enorme cartaz com retratos de Lula, Dilma e Ana Júlia Carepa, atual governadora e candidata a reeleição no estado do Pará, afixado na fachada do número 1492 da avenida João Pessoa. É a casa nada modesta do fazendeiro Laudelino Délio Fernandes, um dos latifundiários mais conservadores da região, investigado depois do assassinato em 2005 da freira americana Dorothy Stang, morta com seis tiros por seu apoio os camponeses sem terra e ao desenvolvimento em baixa escala.

Rio acima, no bairro empobrecido de Invasão dos Padres, Raimunda Gomes da Silva conta como, em 1976, ela e o marido se encontravam entre os 50 mil pescadores e agricultores desapropriados quando se construiu a grande represa de Tucuruí, hoje a principal fonte de energia para a maior mina de minério de ferro do mundo, em Carajás, a 400 quilIometros de Altamira, propriedade da Vale. Agora, pelo novo projeto de Belo Monte, o casal se verá forçado a mudar outra vez, junto com mais de 10 mil moradores de Altamira cujos bairros serão inundados. “Tucuruí foi feita durante o regime militar e então o PT era contrário”, lembra ela, para concluir: “Para nós, a sigla PT significa partido da traição”.

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