A Rodada Doha de liberalização do comércio mundial entra nesta sexta-feira em seu dia ‘decisivo’. A avaliação é do representante brasileiro em Genebra, na Suíça, Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores.
‘Saberemos se um acordo é possível ou não’, disse Amorim, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. ‘Talvez não terminaremos tudo, mas precisamos ter um acordo. O tempo está se esgotando.’ Os acontecimentos desta quinta-feira, porém, deixaram claro que um acordo não será fácil: várias tentativas de consenso fracassaram.
Um grupo de países europeus, por exemplo, apresentou nova proposta para destravar as negociações: facilitar a entrada do etanol brasileiro na União Européia (UE) em troca de maior acesso a setores do mercado nacional. Porém, França, Itália, Romênia e Áustria se colocaram contra a idéia. Esses países alegam que a indústria européia precisa ser protegida.
Concessões – Diante dos desafios, o Brasil deu sinais de que poderia fazer novas concessões, abrindo moderadamente seu mercado para produtos industrializados. Contudo, não conseguiu convencer seus parceiros entre os países emergentes a seguir a mesma linha.
Diante da relutância da Índia, o presidente americano, George W. Bush, telefonou para o primeiro-ministro Manmohan Singh, alertando para os riscos de um fracasso. Algumas horas depois, a Índia aceitou continuar negociando, mas sem fazer nenhuma concessão nem dar indicações de que poderia aceitar uma abertura de seu mercado. O embaixador da França na Organização Mundial do Comércio, Phillip Gross, chegou a dizer que ‘um morto foi ressuscitado’.
Subsídios – O principal ponto a travar os debates é a avaliação, por parte de nações emergentes – como Brasil, Argentina, África do Sul e Índia -, de que os EUA se propõem a reduzir muito pouco seus subsídios agrícolas. Os americanos insistem na tese de que deve haver uma regra que estabeleça que setores inteiros das economias sejam liberalizados, em especial nas áreas automotiva e química.
O Brasil insiste que não tem como aceitar isso, mas concordou em debater um texto em que cada país se comprometeria a negociar a abertura de setores de forma voluntária. Uma proposta sugerida pelos americanos previa um corte de 58% nas tarifas industriais brasileiras. Mas a Índia se recusou, dando motivos para que Argentina e África do Sul continuassem a dar declarações de que não estavam prontos para um acordo.
Os argentinos insistem em manter 16% de suas linhas tarifárias em proteção no setor industrial. O Brasil aceitaria entre 13% e 14%. O problema é que os dois fazem parte do Mercosul e precisarão chegar a uma posição comum.