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Quem são os maçons que sobreviveram ao regime cubano

Ser maçom nos anos 60 era perigoso pois o Estado obrigava os cidadãos a adotarem o ateísmo

Por Da Redação
Atualizado em 3 jul 2017, 13h38 - Publicado em 3 jul 2017, 13h37

Vestido impecavelmente de branco, camisa com colarinho e avental, ele cruza as colunas de Salomão e sobe os sete degraus simbólicos: Lázaro Cuesta é o primeiro negro a atingir a honraria de ser Grão-Mestre da Gran Logia de Cuba em 150 anos.

Aos 72 anos de idade e 50 de maçonaria, Cuesta é um dos sobreviventes de uma crise que estigmatizou os maçons desde o triunfo da revolução, de 1959 a 1990. Ele se senta junto à bandeira cubana e à colmeia com sete abelhas da “instituição”.

É 24 de junho, dia da maçonaria moderna, aniversário de número 300 da Logia da Inglaterra. Eles erguem suas taças de vinho. Cuesta levanta sua mão direita e faz o primeiro dos sete brindes rituais. “Preparar as armas, apontar, fogo”, ordena o mestre do cerimonial. Em seguida, os maçons entrelaçam suas mãos em uma “cadeia fraternal” e proclamam “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. “Superamos uma crise no início das décadas de 60 e 70 (…) uma grande quantidade de irmãos maçons decidiram deixar o país por uma razão ou outra, e a maçonaria ficou deprimida”, explica.

Colonos franceses chegados do Haiti no final do século XVIII fundaram as primeiras logias (nome dados às sedes maçônicas). Viveram um difícil século XIX por sua atividade separatista frente à Coroa espanhola e alcançaram seu esplendor na primeira metade do século XX. É uma instituição estritamente masculina, mas admite como paramaçônica a feminina “Filhas da Acácia”, fundada em 1936.

Estigmatizados 

Ser maçom nos anos 60, quando a revolução abraçou o ateísmo, era pecado, recorda Juan Antonio Vélez, 90 anos e 55 na maçonaria. Soldado do regime anterior, foi afastado em 1959. Dois anos depois, entrou para a logia. Em abril de 1961, Fidel Castro se declarou socialista, nacionalizou o ensino e promulgou uma reforma urbana, cortando as fontes de financiamento dos maçons e das igrejas.

Cuba foi o único país socialista em que as oficinas de maçons continuaram funcionando e trabalhando”, afirma, em sua obra, o historiador Eduardo Torres-Cuevas, diretor da Biblioteca Nacional. Ser crente, um maçom, não era um delito, mas sim um estigma que limitava o acesso a postos no Estado, empregador de 90% dos cubanos. “Muitos irmãos tiveram de deixar a maçonaria porque, se estivessem ligados à logia, não podiam trabalhar”, explica Vélez.

Dos 34 mil, a Gran Logia ficou reduzida a 19.500. Vélez montou uma barraca de comida na rua até 1968, quando a “ofensiva revolucionária” acabou com os negócios privados. Cultivou café em uma fazenda estatal, trabalhou em uma fábrica de tamales, um quitute tradicional da região. Em 1972 conseguiu a vaga, graças a um “irmão”, de recepcionista em uma “posada” (hotel) até 1994, quando se aposentou.

Estado laico 

Em 1991, o Partido Comunista se abriu para os crentes e membros de fraternidades. “A fé foi liberada”, diz Cuesta. Maçons, católicos, protestantes e cultos africanos voltaram a crescer, inclusive entre militares e militantes do Partido Comunista, os setores mais radicais. “Uma grande quantidade de jovens se interessou em entrar na maçonaria (…) e houve notável crescimento”, até chegar aos 27.800 membros atuais, integrados em 321 logias, assinala. Mas o renascer não trouxe recursos.

“Somos uma maçonaria pobre”, comenta Leonardo Hernández, economista aposentado de 82 anos. Eles militam por um reconhecimento social, ético e moral, e praticam a solidariedade. “Se fico doente, há sempre um maçom ao meu lado”, explica.

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A composição social e racial das logias se parece muito com a sociedade atual, mais diversificada.

Grande Arquiteto 

No teto do salão estão representados o dia e a noite. Há estátuas de Vênus (beleza), Atenas (sabedoria) e Hércules (força). Uma pedra bruta simboliza os aprendizes; uma angulosa, os formados. O Grande Arquiteto, representado por um olho onividente, é o criador supremo e todos lhe prestam culto, segundo suas crenças.

Cuesta, um carpinteiro, também é sacerdote de cultos africanos (babalaô), cuja grande deidade é Ifá. Há anos iniciou a reconstrução do abrigo maçônico Llansó. Bateu em muitas portas para pedir ajuda, tanto em Cuba como nos Estados Unidos e Europa. “Temos com o governo uma relação respeitosa, mas consideramos que poderia existir uma possibilidade muito mais ampla”, opina Cuesta, que acredita que a maçonaria cubana continuará crescendo.

(Com AFP)

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