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Para sobreviver três meses a uma profundidade de 700 metros é preciso ter fé, diz especialista

Resgate dos 33 mineiros ainda pode demorar de três a quatro meses

Por Da Redação
23 ago 2010, 17h14

Conservar o ritmo de sono, alimentar a esperança, manter a coesão do grupo e ter cuidado com os dejetos, tudo em um espaço reduzido: estes são alguns dos desafios que enfrentam os 33 mineiros presos a 700 metros de profundidade sob a terra no Chile, para sobreviver três meses enclausurados. “A atitude mental é primordial. É preciso ter fé. Aqueles que acreditam em sua sobrevivência têm mais chances de sair com vida do que aqueles que se lançam à sorte”, diz Michel Siffre, espeleologista e cientista que realizou inúmeras experiências de confinamento em condições extremas.

Siffre afirma que é mais fácil sobreviver em grupo. “Sozinho, você pode acabar ficando desesperado, achando que tudo está perdido. Em grupo, se você fraquejar, os outros vão te ajudar”. No entanto, “como no quadro ‘A Jangada de Medusa’, de Géricault, onde os sobreviventes tentam matar uns aos outros, ou no acidente do avião uruguaio nas Cordilheira dos Andes em 1972, quando os passageiros sobreviveram graças ao canibalismo, tudo pode acontecer”, lembra o cientista, que já passou dois meses sozinho a menos de cem metros de profundidade e zero graus de temperatura. A experiência foi conduzida pela Nasa em 1962. Siffre conta que quatro dos membros da missão não conseguiam suportar o quinto companheiro e queriam até matá-lo. “Em situações entre a vida e morte, Darwin explica, o mais forte sobrevive.

Henry Vaumoron, secretário-geral da Federação Francesa de Espeleologia, ciência que estuda cavernas, afirma que “em princípio, quando a sobrevivência está em jogo, o grupo tem que se ajudar. Em todas as experiências de sobrevivência, os problemas psicológicos são deixados de lado até que a solução seja atingida. Diante do perigo, as pessoas se controlam”. Para organizar a vida em grupo e solucionar eventuais conflitos, os “chefes” devem emergir: superior em hierarquia ou indivíduo que, em um momento excepcional, se revela um líder.

As pessoas presas também devem manter o mesmo ritmo de sono da superfície, já que sem a luz do dia perdemos a noção do tempo. “As experiências realizadas em grutas longes de qualquer referência temporal mostraram que o organismo tem seu relógio biológico dividido em 26 horas”, explica Sophie Lumineau, professora e pesquisadora de cronobiologia da Universidade de Rennes. “Mas este relógio biológico difere ligeiramente em cada indivíduo. Algumas vezes todos vão sincronizar seus relógios em um ritmo médio; em outras, um indivíduo vai impor o seu ritmo aos outros.”

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Graças à comunicação possível com os socorristas, é possível, no caso dos chilenos, informar o ritmo do mundo exterior, por exemplo, enviando comida em horários fixos. Eles poderão ter, provavelmente, iluminação com a ajuda de lâmpadas encaminhadas através de um tubo. Para que sobrevivam, será preciso renovar o oxigênio no ar, enviar água e alimento. Eles devem se hidratar todo o tempo, bebendo líquido sem parar, já que a 33ºC a água do corpo evapora rapidamente. Vaumoron diz que será preciso fornecer um alimento mais aguado a eles, já que quanto menos forem ao banheiro, melhor.

Quando saírem, todos terão problemas de visão. Quando um ser humano vive sem luz, é constatado aumento da miopia, da visão de profundidade e das cores. “O importante é que eles consigam sair vivos. Mas não sarão ilesos”, afirma Siffre.

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