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Os excessos da máquina de propaganda equatoriana

Com país em luto, Correa divulga pesquisa que dá a ele mesmo aprovação de 70%, anuncia aumentos para policiais e festeja troca da guarda

Por João Marcello Erthal, de Quito, Equador
5 out 2010, 03h29

Professor de políticas públicas da Flacso, Santiago Basabe-Serrano enxerga, no forte aparelhamento da comunicação oficial de Correa, uma das semelhanças do caudilho equatoriano com seu ‘padrinho’ Hugo Chávez

A 24 horas do fim do estado de exceção no Equador, as ruas de Quito à noite estão desertas. No centro histórico, circulam veículos militares e homens fardados; nos bares da Praça Foch, polo de vida noturna, funcionários relatam os assaltos e saques que presenciaram ou sofreram desde a tumultuada quinta-feira do levante policial. Oficialmente, o país está de luto. Mas eis que a máquina de propaganda do presidente Rafael Correa saca uma pesquisa que confere ao mandatário aprovação recorde: 70%, segundo o obscuro instituto CMS, ou Credit Managment Solutions.

A pesquisa, divulgada no site oficial da presidência da república pouco depois das 20h desta segunda-feira, com uma breve análise, somou-se a outra notícia festiva, sobre a “emocionante troca de guarda do Palácio do Governo” depois dos acontecimentos de 30 de setembro, e a outras igualmente ufanistas. Um detalhe: enquanto o presidente acenava para o público, na tradicional troca da guarda, o palácio estava cercado por militares fardados.

Quito
Quito (VEJA)

Professor de políticas públicas da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), Santiago Basabe-Serrano enxerga, no forte aparelhamento da comunicação oficial de Correa, uma das semelhanças do caudilho equatoriano com seu ‘padrinho’ Hugo Chávez. “Os dois são avessos à liberdade de expressão, têm uma política de benefícios sociais que infla fortemente os gastos públicos e montaram uma máquina de propaganda eficiente”, analisa Basabe, que também vê diferenças essenciais entre os presidentes equatoriano e venezuelano. “Correa me parece bem mais inteligente”, acredita.

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A inteligência, sem bom senso, tem gerado manifestações curiosas na comunicação oficial. Ainda sem conhecer a extensão da insatisfação dentro da Polícia Nacional e em setores das forças armadas, o governo anunciou na tarde de segunda-feira um aumento médio retroativo de 570 dólares para militares e policiais. Espera, assim, cortar pela raiz a possibilidade de que o levante venha a se repetir. O aparato de comunicação estatal, que tem jornal, site, rádios e 27 canais repetidores da televisão pública espalhados pelo país, omitiu, no entanto, um detalhe: também na segunda-feira entraram em vigor automaticamente a lei que causou a revolta da semana passada, sem preservação da bonificação para policiais e militares.

O tumulto que resultou em 10 mortes e em saques país a fora não foi exatamente uma reivindicação salarial, mas um protesto pela perda de benefícios que, nos quartéis, tinham forte simbolismo, como o bônus de um salário que os policiais e militares recebiam após 15 anos de serviço – proporção que passava para dois salários a partir dos 20 anos de trabalho.

Os argumentos de que os aumentos reais supririam esta perda não sensibilizaram os militares, assim como presidente também não se sensibilizou com o alerta de aliados de que o veto à manutenção deste benefício poderia causar um levante.

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