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“O risco de fascismo é real”, diz Timothy Snyder

Para o historiador, o mal pode entrar sorrateiro na sociedade, como ocorreu nos anos 1920

Por Johanna Nublat
29 Maio 2017, 15h02

DESORIENTADO COM a eleição de Donald Trump em novembro do ano passado, o historiador americano Timothy Snyder, professor da Universidade de Yale, estava a bordo de um voo para os Estados Unidos quando resolveu elaborar um manual com vinte lições do século XX para afastar o risco da tirania nos dias atuais. Com dicas como “atenção para palavras perigosas”, “acredite na verdade” e “se você tiver de portar armas, reflita”, o guia foi parar no Facebook apenas oito dias depois da vitória do republicano. Os posts receberam milhares de compartilhamentos e, três meses depois, foram transformados em livro. Sobre a tirania  entrou para a lista doe mais vendidos do jornal The New York Times e será lançado no Brasil pela Companhia das Letras. “A ideia inicial era explicar, o mais rápido possível, o que fazer para combater esse mal”, diz Snyder. “Não somos mais sábios do que os europeus do século XX que viram a democracia dar lugar ao fascismo, ao nazismo ou ao comunismo.” A seguir, sua entrevista.

 

Em seu livro, por que o o senhor recomenda a leitura de Harry Potter e as relíquias da morte, de J. K. Rowling? Por causa do retrato do mal que há na obra. O mal não está claramente separado do bem. Exatamente por isso conseguiu infiltrar-se gradualmente nas instituições em que confiamos. Não aparece de uma vez só. No mundo real, o mal utiliza um certo tipo de linguagem que, quando empregada por nós, tem o poder de nos modificar. Portanto, a resistência precisa adotar muitas formas. Precisa envolver atitudes na vida diária, a maneira como falamos, o cuidado com as instituições. A série Harry Potter traz um retrato sofisticado do mal, que nada é mais que a tirania, quanto da resistência a ele.

As democracias atuais não têm ferramentas para conter este mal? Estamos acostumados, nos Estados Unidos, a pensar que a democracia é algo normal, inevitável e parte natural da vida. A verdade é que a democracia é frágil, difícil de se manter, vulnerável a choques. A democracia americana, antes mesmo da eleição de Trump, já tinha problemas sérios. No meu livro, tento lembrar aos americanos que a ameaça vem de nós mesmos, de dentro, não de fora. Além disso, ao estudarmos o que aconteceu no último século na Europa, podemos expandir nossa imaginação e ver como a democracia pode falhar e, também, como podemos fazer para impedir que isso aconteça.

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Por que o senhor diz que a ameaça à democracia vem de dentro? Porque um dos temas mais delicados atualmente é o acesso aos fatos. Fala-se muito em pós-verdade, quando as pessoas só leem na internet aquilo que comprova suas visões de mundo. Temos lidado com essa tendência como se fosse um problema novo, pós-moderno. Não é novo, e é essencialmente um perigo. A pós-verdade está nas origens do fascismo. A mentalidade da pós-verdade era e é contra o Iluminismo, contra a ideia de que a razão deve governar a vida e a política. Os fascistas diziam que a missão do indivíduo não era entender o mundo, mas integrar-se em uma comunidade mítica, algo irracional e intangível. O fascismo nos anos 1920 era um tipo de pós-verdade. A democracia requer um ambiente em que exista confiança mútua. Isso só pode acontecer quando elas compartilham um mesmo mundo de fatos. Uma forma de minar a democracia é destruir essa confiança, criar um mundo em que cada um tem sua própria verdade, seus próprios fatos. Quando isso acontece, tudo parece ser uma questão de opinião. As pessoas deixam de funcionar como uma comunidade porque ninguém concorda mais com nada. O principal atalho para desfazer a democracia é dissolver a confiança entre as pessoas, e a forma de fazer isso é convencê-las de que só importa é a opinião particular delas.

 

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