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‘O governo do Irã está mais fraco do que nunca’, diz ativista

A iraniana Shirin Ebadi está otimista diante das várias crises que o regime do Irã enfrenta, mas veio ao Brasil pedir ajuda. Ela espera que o governo brasileiro prove que se compromete na luta pelos direitos humanos

Por Cecília Araújo
7 jun 2011, 21h39

Quando a advogada iraniana Shirin Ebadi, ganhadora do Nobel da Paz de 2003 e ativista pelos direitos humanos, divulgou sua vinda ao Brasil, o governo Dilma estremeceu. É certo que neste início de mandato a presidente já deu passos importantes no âmbito dos direitos humanos, especialmente em relação ao Irã. O Brasil ajudou a evitar o apedrejamento de Sakineh Mohammadie-Ashtiani e votou na ONU a favor de uma proposta que determinava o envio de um relator inindependente para investigar violações de direitos humanos no Irã. Sobre esses passos iniciais, Shirin comemora e agradece.

Porém, após uma declaração do governo iraniano de que a visita da opositora teria cunho político, Dilma Rousseff hesitou e finalmente decidiu que não se reuniria com Shirin, sugerindo que, em seu lugar, o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, se encontrasse com ela. A decisão soou como um passo para trás na sua anunciada mudança de posicionamento em relação ao governo Lula. “Não vou me encontrar com mais ninguém, só vim para ver a Dilma”, disse Shirin, em coletiva à imprensa, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo, nesta terça-feira.

Ela explicou que veio ao Brasil especialmente para falar a Dilma sobre o caso de uma advogada presa no Irã há onze meses, que foi sentenciada a onze anos de prisão. Nasrin Sotudeh ganhou vários prêmios internacionais e trabalhava para o governo quando foi condenada por defender pessoas que falavam mal do presidente Mahmoud Ahmadinejad . “Quando em um país até bons advogados são presos, isso demonstra a limitação sob a qual vivem todos cidadãos”, disse.

A iraniana pede que o Brasil se junte a ela na luta não só pela libertação dessa advogada, mas de inúmeros outros presos políticos com casos semelhantes. “Eu não pertenço a nenhum partido político, apenas quero discutir os direitos humanos”, pontua. O assessor de Shirin no Brasil, Flávio Rassekh, afirmou que a opositora ainda vai insistir em um encontro com Dilma em Brasília nesta quinta-feira, dia 9. “Se ela não me receber, de qualquer jeito vou mandar uma carta de agradecimento pelo seu posicionamento em relação a Sakineh”, afirmou Shirin.

Crise no Irã – Segundo a ativista, o governo iraniano passa no momento por três crises. Uma delas é antiga, do povo contra o governo – o que explica o número de estudantes, jornalistas, advogados e outras classes que estão presos no país. A segunda é uma divergência entre a esquerda e a direita dentro do governo. E a terceira é uma briga da direita entre si.

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Desde o mês passado, Ahmadinejad e o líder supremo Ali Khamenei estão em conflito devido à demissão do ministro da Inteligência do país, Heidar Moslehi. “Há dois anos, era o povo que criticava Ahmadinejad por conta das fraudes nas eleições e de sua atitude como presidente. Atualmente, o próprio líder supremo está contra ele, o que torna ainda mais injusto que tantas pessoas, que disseram exatamente o que Khamenei diz hoje, estejam presas”, reclama Shirin.

Mesmo que no país estatísticas do tipo não sejam publicadas, a advogada tem certeza: “O governo está mais fraco do que nunca, porque é mais brutal do que nunca. Um regime que tem uma base de apoio entre a população não comete tais brutalidades, nem tem medo do povo”.

Violações – Em sua fala à imprensa, Shirin ainda lembrou uma série de atrocidades cometidas pelo governo iraniano, desde a implementação da lei islâmica no Irã, após a Revolução de 1979. Depois da China, o país é o que tem o maior número de execuções no mundo. É também a nação que possui o maior número de pessoas executadas abaixo dos 18 anos e que permite castigos como amputação e apedrejamento.

No Irã, a idade de responsabilidade criminal é reduzida em relação a outros países: para meninas é de 9 anos e para meninos, de 15. “Isso significa que uma menina de 10 anos ou um menino de 16 tem um tratamento igual ao de um adulto que comete o mesmo crime, sendo que a pena para criminosos abaixo de 18 anos é a execução”, lamenta Shirin. Há 40 dias, três jovens menores de 18 anos foram executados.

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Mulheres – A condição das mulheres no Irã também é um grande problema. Segundo Shirin, mais de 65% dos estudantes universitários são mulheres, e grande parte dos professores também. Num tribunal, o testemunho de duas mulheres equivale ao de um homem. Além disso, um homem pode ter até quatro esposas e se divorciar sem justificativa e a qualquer momento.

Qualquer mulher na República Islâmica, seja ela estrangeira ou não, é obrigada a usar véu, vestido comprido e calças. Se essa exigência não for obedecida, ela é condenada a 80 chibatadas. O homossexualismo também é considerado um crime, cuja pena é a execução. “É sobre isso que o povo iraniano protesta e é sobre isso que vim falar no Brasil”, apontou Shirin.

Trajetória – Shirin Ebadi decidiu deixar o Irã na véspera das eleições de 12 de junho de 2009, que, sob suspeita de fraude, deram um segundo mandato a Ahmadinejad e detonaram uma onda de protestos diários nas ruas de Teerã, duramente reprimidos. Hoje, a advogada vive em Londres e passa grande parte de seu tempo em viagem pelo mundo – fazendo denúncias, ajudando a fundar organizações humanitárias e representando as vítimas da repressão no país dos aiatolás.

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