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O golpe de mídia do presidente do Equador

Depois de declarar estado de exceção e luto nacional, governante fatura apoio internacional e tenta se fortalecer com aparições públicas planejadas

Por João Marcello Erthal, de Quito, Equador
4 out 2010, 07h57

Ao saber que os policiais estavam amotinados, o presidente encarou a concentração e desafiou os rebelados a matá-lo. O capítulo seguinte foi o suposto sequestro em que foi mantido no Hospital da Polícia, período em que deu entrevistas e conversou com aliados

A distância exata entre o motim policial que paralisou o Equador na última quinta-feira e o que poderia caracterizar um golpe de estado ainda é desconhecida. Mas os desdobramentos internacionais e domésticos, para o governo de Rafael Correa, não deixam dúvida de que o presidente conseguiu, pelo menos momentaneamente, faturar em cima da repercussão do episódio nas TVs, jornais e na internet. Desde que saiu do hospital, deixando para trás um saldo de oito mortos e cerca de 300 feridos, Correa capitaliza a seu modo os efeitos de seu golpe de mídia.

O reality-show de Correa na TV parece dirigido por seu ídolo venezuelano, Hugo Chávez. Ao saber que os policiais estavam amotinados, o presidente encarou a concentração e desafiou os rebelados a matá-lo. Imediatamente foram suspensas todas as programações de TV e só o sinal da TV pública – ou melhor, da TV do governo – era retransmitido. Assim ficou, em uníssono, o noticiário que todo o país teve do episódio do meio-dia às oito da noite.

O embaixador do Brasil no Equador, Fernando Simas Magalhães, diz que, apesar de não se ter ainda a exata medida do quanto o episódio se aproximou de um golpe de estado, ele está de acordo com a tese do governo de que havia, naquele momento, uma ameaça real à manutenção do presidente no cargo. “Não é aceitável a ideia de um presidente da república, em uma democracia, ser impedido de se deslocar, com aeroportos e vias fechadas, num clima de sublevação em que a postura das forças militares não está bem definida”, afirmou Magalhães, apesar das atitudes controversas de Correa, que chegou a pensar em dissolver o Congresso.

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Fundo musical – Acusar um golpe de estado foi, no plano internacional, a medida mais astuta que Correa poderia adotar. Ao caracterizar desta forma o motim, o presidente provocou uma reação acelerada da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que repudiou o levante e emitiu sinais de que os vizinhos sairiam em defesa de Correa. “Não tenho dúvida de que, se houve ameaça real de golpe, quem freou esse processo foi a Unasul”, assegurou o embaixador brasileiro.

De muletas, mas fortemente amparado pela repercussão internacional e na comoção com a morte de policiais e manifestantes, Rafael Correa promoveu, no sábado, um terceiro episódio do reality show. Em uma coletiva de duas horas, exibiu imagens dos confrontos e dos mortos para emoldurar seus comentários – com direito a fundo musical que ajudava a dar dramaticidade às falas do chefe do executivo equatoriano.

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